A noite dos Nenês (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, mesmo com ingresso reservado, desisti de encarar a quinta-feira chuvosa para chegar no Maracanã em cima da hora do jogo quando vi a formação proposta por Odair Hellmann.

Bastaria que o técnico houvesse escalado Miguelzinho e eu teria feito o sacrifício de me embrenhar Maracanã adentro às carreiras para, antes de chegar à arquibancada comprar uma latinha de cerveja pela bagatela de R$ 10,00.

Preferi comprar algumas latinhas por menos de R$ 3,00 no mercado e ainda consegui ligar a televisão a tempo de ver o time entrando em campo.

Não sei se o que vi no primeiro tempo chegou a me surpreender. Ao contrário da Cabofriense, a Portuguesa tentou o tempo todo propor o  jogo, sem dar espaço para a nossa troca de passes infrutífera em nosso próprio campo de defesa.

Amigas, amigos, não há qualquer relação entre as trocas de passe do ano passado e as desse início de 2020, porque lá nós chegamos a ter Allan, Daniel e Ganso para fazer a transição. Eventualmente, tínhamos Marcos Paulo, Luciano, Everaldo e Yony para apoiar a transição ofensiva.

Na noite de ontem, tínhamos Dodi e Hudson, apoiados por Nenê, que merece análise à parte. Os atacantes, sempre que recuavam para tentar iniciar a jogada, devolviam a bola para a Portuguesa. O resultado foi que a Portuguesa criou pelo menos três boas oportunidades de gol e nós não criamos nenhuma.

Isso é tão previsível que eu não consigo entender o que se passa na cabeça do nosso comandante. Três meias que não são homens de criação e três atacantes sem qualquer talento para apoiar o setor de criação é a receita perfeita para um fiasco.

Vem o segundo tempo e a entrada de Miguel não me surpreende. Afinal, eram ele e Wallace os únicos jogadores no banco capazes de mudar o quadro, qualificando a fase ofensiva do jogo. E o Fluminense mudou da água para o vinho. Não um Cabernet Sauvignon 2015, mas um vinho bem digno.

O que não me surpreendeu? Com a saída do inoperante Felippe Cardoso para a entrada de Miguel, o meio de campo passou a atuar mais próximo, fazendo com que a bola chegasse com naturalidade no ataque. Miguel, quando se aproximava da área, dava um nó na defesa adversária, como no lance do segundo gol, em que quase fraturou a bacia do adversário com um drible de cinema, ao qual sucedeu um lençol numa outra pobre vítima junto à linha lateral.

Não me surpreendeu que o ataque, com menos um, começasse a fluir, com infiltrações dos homens de frente, principalmente Lucas Barcelos. Assim como não me surpreenderam os gols. Poderia ter sido até de mais, embora a Portuguesa não merecesse tamanho castigo, pois ainda levou perigo mesmo no segundo tempo.

O que me surpreendeu? Nenê, tendo um parceiro de criação em campo, subiu assustadoramente de produção. Chego a acreditar que foi sua melhor exibição com a camisa do Fluminense. É um sinal claro para Odair de que Miguel não tem que ficar no banco, mas ser titular, porque craque a gente bota para jogar.

Surpreendeu-me que nossa marcação tenha melhorado, negando espaços e gerando roubadas de bola, como a do primeiro gol. Aliás, Hudson, o ladrão, mais uma vez subiu de produção com a entrada de Miguel. É como se percebesse que agora valia a pena recuperar a bola, pois o Fluminense tinha meio de campo.

A minha maior surpresa, no entanto, foi perceber que Lucas Barcelos não é aquele pereba que sugeriam os primeiros 120 minutos em que esteve em campo. Foi Felippe sair, Barcelos arrancou para sofrer o pênalti, no primeiro gol, e passou a fazer boas infiltrações, além de dar bons passes.

Fica a lição para quem apoia o retorno do Fred, que, claro, não pode ser comparado a Felippe Cardoso, que os Deuses nos punam por tal heresia, mas é o tipo de jogador que na dinâmica atual do futebol deixa o time com menos um.

Cardoso deixava o Fluminense com menos dois, porque ocupava exatamente o espaço de Barcelos, que não achava seu lugar em campo e acabava sendo facilmente anulado. Com dois atacantes, a defesa perde a referência. Não é que você não possa ter alguém que faça o pivô. Pedro fazia muitas vezes. É preciso, no entanto, que o pivô seja uma situação de jogo e não uma função em campo. O mesmo que faz o pivô precisa ter mobilidade para abrir pelos lados e vir à zona de criação tabelar.

O jogo de ontem mostra esse aspecto preocupante, que é um elenco com muitos volantes e atacantes, mas carente de meias de criação, de homens que façam a bola chegar redonda nos atacantes. Não se ganha jogo com vários atacantes, mas fazendo com que a bola chegue a eles em condições de arremate. Ganha-se jogo é no meio de campo e  ontem isso ficou comprovado mais uma vez, assim como ficou comprovado que craque ainda ganha jogo.

Nenê, inclusive, tirando mais algumas decisões erradas, menos que na partida passada, atuou como um. Então, com dois craques em campo, tivemos a noite dos Nenês, o de 38 e o de 16 anos.

Aliás, falando em craque, o Matheus Ferraz sabe fazer alguma coisa errado?

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Dodi é burocrático e eficiente. Aguardo a estreia do Yago.

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Matheus Alessandro sendo Matheus Alessandro.

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Grata surpresa o Lucas Claro na defesa.

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Falando em craques, o que dizer da segurança do Marcos Felipe? Como é possível que tenhamos tido que aturar Rodolfo e Agenor durante seis meses? Pode ter nos custado o título da Copa do Brasil.

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Torcendo muito para o Gilberto voltar a ser aquele dos primeiros meses. Como dizia Diniz, tem tudo para ser lateral de seleção.

Que os Deuses ouçam e que as palavras tenham o poder de profecia.

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Cristóvão no Atlético GO. Outro que merece minha torcida, pois o futebol brasileiro precisa.

 

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

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