Segunda-feira no coração de Gotham City, talvez sete e meia da manhã.
Ninguém é Fluminense impunemente, que fique explícito. A noite de ontem ainda não acabou.
Ok, precisamos voltar à realidade. Afora nosso próprio cotidiano pessoal, o do Flu inspira os maiores cuidados.
O que não falta é problema, dívida, ganância de homens maus, equívoco.
Ok.
Mas sabe quando você vem numa de horror e numa noite beija a garota dos seus sonhos? É por aí. Ou o garoto. É de cada um.
A noite de ontem ainda não acabou. Aliás, ela já está condenada à eternidade. Daqui a dez ou vinte anos vão falar desses 5 a 4 como se fala dos outros 5 a 4 de 2011 (os de ontem foram uma façanha maior), ou daqueles 7 a 1 ou do imortal 3 a 2 e por aí vai.
Não é preciso fingir que não temos defeitos no Fluminense – e são muitos – para se orgulhar do jogo de ontem. Ele foi Fluminense às vísceras e tremores do corpo: drama, paixão, incredulidade, desafio e êxtase.
Aliás, os problemas são muitos e, conforme já escrevi antes, vão piorar a partir de junho, qualquer que seja o novo presidente. Sobram problemas, faltam propostas, tudo é muito raso e oportunista para enganar quem tenha um mínimo de vivência e bom caráter. Cheio de bichos escrotos em volta.
Mas, afinal, para que serve o futebol?
Dentre outras coisas, para tirar algum peso da vida sofrida. Dar um pouco de sentido a cada semana ou grupo de três dias. Já temos problemas demais, que tal uma boa cachacinha para a alma? Um gole só.
Esse Fluminense que a gente ama, que tropeça e se levanta, que já ganhou títulos impossíveis e já deixou escapar as vitórias mais fáceis do mundo. Que conta histórias semanalmente há quase 120 anos num país que nem se lembra do que aconteceu nos últimos 15 dias.
A noite de ontem ainda não acabou. Ela ainda vive nos trens lotados, nos cafés pingados, na boa e velha zoação das esquinas e bancas. Todos nós vamos passar por algum lugar e alguém dirá “E o Fluminense, hein? Que vitória!”.
Estamos tão longe dos nossos grandes dias de títulos que esta mesma noite é ainda maior. Talvez fosse muito mais fácil fazê-la com Tim, Romeu e Russo, ou com Rivellino, Paulo Cézar e Pintinho, ou com Assis, Washington e Romerito. Que tal Deco, Fred e Thiago Neves? Mas não. Ela foi feita com Bruno Silva, Allan e Luciano. E com a irreverência de González. E com Diniz. Claro, tem o maravilhoso Pedro. Mas foi isso.
Ao contrário do que rezam os Malazartes de plantão, talvez o time do Fluminense de hoje seja mais fraco até do que os dos anos de rebaixamento. Posição por posição, talvez poucos se salvem. Mas nenhuma comparação dessas vai diminuir o tamanho do feito de ontem. É por isso que a torcida foi à loucura, é por isso que a noite ainda não acabou. Porque ontem, mesmo combalido, mesmo longe (por ora) de grandes conquistas nessa temporada, o Fluminense conseguiu uma vitória de supercampeão. A noite em que fizemos cinco gols no tricampeão da Libertadores, comandado por um dos nossos maiores ídolos.
Quem tiver dúvidas sobre o que foi este domingo, é só ver por aí o vídeo do Thiago Silva, aquele que foi o Monstro quando jogou na nossa zaga.
A noite ainda não acabou e deve durar o dia inteiro nesta segunda-feira. Vamos celebrar, almoçar rindo, assobiar o hino no trabalho, fazer a eterna piada com os flamenguistas – que já levaram de seis do Grêmio lá certa vez. Vamos viver a essência do futebol.
Amanhã a gente volta à realidade, cobra, reclama (com justiça) e até denuncia. O que não falta é problema. Os escrotos de sempre vão tentar capitalizar o máximo para seus objetivos escrotos idem. Já conhecemos isso de longe. Que se danem.
Nas próximas horas, o grande barato é deixar o coração livre para a grande alegria.
Foi uma vitória épica e eterna. Nada vai tirar a importância disso.
Agora mesmo a Ana Paula começa o jornal e nem disfarça a alegria ao anunciar o jogo de nove gols.
Eu não dormi direito. Parece aqueles 3 a 0 no Fla-Flu de 1979. Não tenho mais lancheira, nem recreio, nem escola, nem pai nem mãe, mas sigo acreditando. Eu sempre acredito, mesmo que a lógica seja adversária forte.
Para quem torce em VT esperando a reversão de eventuais derrotas, o sonho é permanente.
Oito horas e cinco minutos. Vamos ao café.
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Logo mais tem o programa Panorama Tricolor de volta na internet. A mais tradicional mesa de debates tricolores.
O TRICOLOR – informação relevante
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
Boa tarde. Olha, meus 66 anos já me deram muito de Fluminense. Até meu “aparente” afastamento dele pelos constantes maus-tratos a ele dispensados. Mas, ontem, tive que recorrer a um comprimido de Frontal tamanha a emoção e intensidade que há muito, mas muito mesmo não havia passado. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de, mesmo com os 3 x 0 contra, o time não se deixou levar pelo desespero, rifando a bola e alçando bolas para a área, como o habitual de qlqr equipe. Esta foi a diferença…
Boa noite, Andel.
Não me estenderei. Apenas direi que sintetizou o sentimento de todos os tricolores. Parabéns. ST.
Hoje eu acordei mais otimista achando que até os piores temores que tenho na vida poderão ter solução. Obrigado Flu. Obrigado futebol!
Eu e o meu filho quase fomos expulsos do nosso apartamento. A noite de ontem ainda não acabou e nem acabará. Ela será eterna nas nossas memórias.