Quando o cantor e compositor Rogerio Skylab gravou o hino do Fluminense Futebol Clube, deixou registrado, quase no final de sua gravação, um grito de terror, que nada correspondia ao que era dito na canção. Esse grito aleatório, introduzindo um estranhamento num hino tão inofensivo, é a alegoria do que vou falar agora.
Mais um capítulo desse ser extraordinário. E por favor não me culpem. Por mais que se trate de mitologia, não vai faltar o dedo em riste, de algumas feministas, a me acusar de misoginia.
Há mais de trinta anos que venho acompanhando as peripécias desse ser extraordinário: a Mulher-Gorila. Houve até mesmo quem me quisesse pagar os direitos para levar suas aventuras às telas. Quando vim a saber que a direção caberia ao mesmo que dirigiu “Cidade de Deus”, neguei resolutamente. Ninguém vai estetizar minha gorila.
Ela existe, ela está aí aos olhos de todos. É piolhenta, infesta as nossas ruas, é peluda e não quer morrer. Sua obstinação em viver a leva por caminhos imprevisíveis. A imitação é sua grande arma: num dia pode estar na marcha das vadias; num outro, vestida de verde amarelo, pode estar defendendo o impeachment da presidente Dilma. O que importa para ela é estar viva. Seu objeto sexual são os seres humanos, em particular, do gênero feminino.
A Mulher-Gorila é capaz de metamorfoses, daí a dificuldade em capturá-la. E mesmo que venha a ser aprisionada por forças policiais, nada garante que não possa fugir. Pois essa é a sua condição: sempre em fuga.
Foi vista recentemente em cadeia nacional. Portava um chapeuzinho que era uma graça. Dentro da mala, um menino de rua. A Mulher-Gorila não conhece limites à imaginação. Estava na rodoviária e já ia introduzindo no porta-mala do ônibus, o menino de rua.
Muito provavelmente, o menino de rua, que ninguém sabe o nome, iria morrer sufocado. Porque a Mulher-Gorila não pensa. Ela é um animal em extinção e, como tal, não mede as conseqüências para o desejo.
As investigações policiais, seguindo seu rastro, chegaram a uma ex-namorada, que relatou maus-tratos por parte da símea. Não culpo sua falta de percepção. É mesmo difícil não ser levada pelos disfarces da macaca. Levou tapas e pontapés. Mostrou fotos do olho inchado. A Mulher-Gorila está agora numa penitenciária. O menino de rua foi salvo aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo. Levado ao abrigo para menores, já fugiu de novo.
O sistema judiciário não dá conta desses trânsfugas. Eu acho que entendo quando a Mulher-Gorila guardou o menino de rua dentro de uma mala. Eu também acho que entendo quando o menino de rua se deixou guardado ali. Minha mulher, com o sexto sentido que todas as mulheres têm, foi enfática: ela ia vendê-lo.
Será?
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @rogerioskylab
Imagem: rs
Era pra jogar pingue-pongue com a girafa bucólica trifásica no programa noturno depois da PUC; alí no observatório de bananas apoplético. Apocalípese de colônia é relógio. Ou é corno mesmo.