Na hora em que escrevo estas linhas, os atleticanos estão colocando Belo Horizonte de cabeça para baixo. Uma tremenda e merecida comemoração, que me fez pensar numa nossa, agora já distante.
A final de 2007 eu vi na Estrela do Sul de Botafogo, infelizmente falecida. Fui com o Tiba. Lá estavam o Deley e uma turma, acho que o Júlio Bueno também. Eu ia para Florianópolis, mas infelizmente não consegui me liberar do trabalho. Comi bastante churrasco, fiquei feliz com o golaço do Roger e vibrei com o Fernando Henrique, que agarrou paca.
Na semana anterior, deixei o Maracanã confiante, ao contrário de 99% da torcida. Explico: tomamos um golaço a dez minutos do fim, mas tivemos força para empatar em cima da hora. Aquilo me parecia um bom sinal que acabou se confirmando. O Flu, acostumado a ser campeão no último minuto, marcou no comecinho e aguentou firme a pressão.
Terminado o jogo e conquistada a sonhada Copa do Brasil, uma turma foi a pé da Estrela para Laranjeiras, coisa pouca, um quilômetro e meio, acho. Descemos a Enseada de Botafogo e, a cada metro, surgiam cada vez mais tricolores se juntavam a nós – perto da Santa Úrsula já éramos um exército de felicidade. Na porta do clube, então, que alegria! Deve ter sido meu primeiro dia de felicidade desde que minha mãe tinha morrido, cinco meses antes.
Muita gente se abraçando, se beijando, chorando. A Pinheiro Machado foi interditada, não havia outra alternativa. O que mais me deixou contente foi ver uma multidão de jovens para todo lado, jovens adultos, adolescentes, crianças com seus pais, como se fosse um recado: tem Jovem Flu na área. A Luísa também estava lá, com uma amiga. Perto das duas da manhã eu voltei para casa. Fui até a Senador Vergueiro pegar um táxi. Parecia Réveillon do Fluminense, gente na rua a valer. Quando cheguei em casa, meu pai e meu irmão sorriam felizes – e só eu sei o tamanho da facada que sinto no peito ao me lembrar disso.
No dia seguinte era feriado e a turma lotou o Santos Dumont. Renato, fanfarrão ao extremo, ficou de óculos escuros e chapéu ou lenço em cima do caminhão de bombeiros, sem sorrir. Achávamos graça. Finalmente a Copa do Brasil, que nos surrupiaram em 1992 e deixamos escapar em 2005, era totalmente nossa.
Fomos pro clube. Teve chope na pressão, Horcades discursou. O gramado das Laranjeiras era nosso. Era o começo de uma época maravilhosa e assustadora, que iria até 2014. O Fluminense não foi apenas um campeão naquele dia; na verdade aquela longa noite de 2007 foi a reafirmação da nossa grandeza, que havíamos deixado pelo caminho.
Os atleticanos estão à solta nas ruas. É justo. Esperaram demais. Em 2007 a nossa catarse fazia pleno sentido. Eu já marquei o ingresso contra a Chapecoense. Vai ter casa cheia, pó de arroz, bandeiras e, quem sabe, a vaga na Libertadores. Meu problema é ser velho o suficiente para saber que, festa de verdade, quem faz são os campeões.
Há uma faca cravada em meu peito.