O péssimo modelo de gestão do Fluminense e a montagem do atual time nos levaram a um paradoxo: ao mesmo tempo em que estamos muito próximos de momentos culminantes na Libertadores e na Copa do Brasil, o lote de péssimas atuações há meses tirou a confiança de boa parte da torcida. Ainda assim, embora não seja o espetáculo que muitos acreditam, o elenco tricolor é o menos pior das últimas cinco ou seis temporadas, sendo quase consenso de que poderia estar em situação mais confortável caso Roger Machado fosse um bom treinador.
O Roger lateral e zagueiro é ídolo eterno do Fluminense, autor de um gol heroico que reabriu os caminhos do clube nos cenários nacional e continental. Um golaço que decidiu um grande e suado título. Este parágrafo é imutável. Roger está na história do clube
Já o treinador certamente é dos piores dos últimos 40 anos. Mostra-se incapaz de mudar um sistema de jogo e regularmente seu time piora em todos os segundos tempos. Boa parte da torcida tem ido à loucura com a mediocridade do Fluminense em campo. Um time previsível, pastoso, encolhido como se fosse pequeno, insignificante, que há meses vive de lampejos e de uma pretensa eficiência de números que o leva a avançar nas competições, mas sem dar a mínima confiança de que as vencerá.
Ponto.
Muitos tricolores criticam Roger por seu péssimo trabalho à beira do campo.
Daí a sugerir que o motivo das críticas tenha fundamentação racista é, francamente, desconhecer a história secular do Fluminense e de sua torcida.
Pixinguinha, gênio, já tinha o talento, mas se tornou uma personalidade nacional e internacional graças ao Fluminense, que o promoveu em seu Salão Nobre nos anos 1920, quando poucos lugares do Brasil recebiam um conjunto musical de homens negros para qualquer coisa, quanto mais se apresentar. Falamos de um século atrás.
O Fluminense, dos poucos times do Brasil a colocar um goleiro negro numa Copa do Mundo – Veludo.
Há quase 40 anos, o Fluminense é reconhecido em todo o país pelas imagens icônicas de dois ídolos do clube, dois heróis negros: Assis e Washington.
O time mais emblemático da história do Fluminense, a Máquina Tricolor, tem suas fotos compartilhadas diariamente nas redes sociais. Lá estão Carlos Alberto Torres, Carlos Alberto Pintinho, Paulo Cezar Lima, Gil, Marco Antônio Feliciano, Toninho Baiano e outros. As fotos de times mais compartilhadas da história do clube têm a presença grandiosa de homens negros na imagem, felizmente. Todos eles foram muito aplaudidos por símbolos da nossa arte. Por exemplo, só no samba tínhamos Cartola, Wilson Moreira, Noca da Portela e Délcio Carvalho, todos gigantes do samba, todos negros.
Bem antes disso, nos anos 1950, o clube foi campeão mundial e formou seu maior artilheiro da história, Waldo. Naquela década o Fluminense era marcado pelas presenças de Pinheiro e Didi, heróis negros das Laranjeiras.
O lindo campeão de 1980 tem regularmente as estampas de duas feras abraçadas após os gols tricolores: Gilberto e Cláudio Adão. Com eles, jogavam Edevaldo e Tadeu. Quase metade do time.
Denilson, Rei Zulu. Flávio Minuano. Jair Marinho. Altair.
O maior campeão carioca da história, louvado para sempre: Ronald, Lima, Lira, Djair, Aílton. O Flu de 1995 tem sangue negro nas veias.
Podemos falar dos bicampeões brasileiros Gum e Leandro Euzébio?
Um dos jogadores mais respeitados do Fluminense atual é Luccas Claro. Apesar da bobeira na semana passada, Manoel tem o respeito da torcida, que pede por Kayky e Luiz Henrique.
Estes exemplos deveriam ser suficientes para rechaçar qualquer leviandade ao se relacionar o Fluminense e sua torcida a práticas racistas. Trata-se de um exercício de ignorância histórica a respeito da instituição e de sua trajetória.
Roger Machado é severamente criticado porque seu trabalho como treinador é horroroso. Meses antes, depois de eliminações ridículas para Unión La Calera e Atlético Goianiense, a torcida tricolor queria escalpelar Odair Hellmann que, como se sabe, não representa o homem negro brasileiro. Foi substituído por Marcão, símbolo da negritude tricolor, que acabou louvado com a classificação à Libertadores e é pedido de volta ao comando do time. Caso isso venha a acontecer, não pode haver resposta mais lúcida para a estupidez ao se tentar juntar Fluminense e racismo na mesma frase, algo incompatível desde os anos 1910.
Viva Tião Macalé, um dos maiores humoristas brasileiros da história, negro, gay, fundador e presidente de time de futebol de praia, presença marcante nas arquibancadas tricolores por décadas. Em algum lugar ele ri com Jorge Lafond, a inesquecível Vera Verão, tricolor de carteirinha. Há muito tempo o Fluminense é de todxs e, se há muitas críticas a se fazer, nenhuma delas tem a ver com qualquer tipo de discriminação.
Lamentável que uma pessoa que escreva ou fale tal sandice possa ser chamado de jornalista. Que cretino!
muito bom comentario
Parabens.
Apesar de que um idiota desses não merece nem resposta.