Na final da Taça Guanabara de 2019, o Vasco acabou levantando o troféu ao vencer o Fluminense por 1 a 0.
A partida teve início com portões fechados e, do lado de fora do estádio, houve imensa confusão, com direito a bombas de efeito moral da polícia para dispersar os torcedores.
Aos 30 minutos de jogo a Justiça determina a abertura dos portões. A partir de então, testemunhamos um ato vergonhoso da torcida do Vasco: cantos homofóbicos direcionados ao time Tricolor, gesto repetido pelo volante Felipe Bastos ao comemorar o título.
Na manhã do dia seguinte, o Fluminense se posicionou oficialmente a respeito da hostilidade e do uso pejorativo da sexualidade como forma de agressão, repudiando os gestos homofóbicos de seu rival e pregando uma evolução nas mentalidades. Em sua rede social, o Tricolor inclusive trouxe dados alarmantes sobre a violência sofrida pela população LGBT no Brasil.
Naquele dia, o Fluminense pregou a importância de se construir uma sociedade, refletindo no futebol e nos demais esportes, mais plural e inclusiva.
Porém, em janeiro deste ano, o Fluminense foi condenado a pagar R$ 50 mil por gritos homofóbicos na partida contra o Internacional, disputada em 24 de novembro de 2021.
Nesta ocasião, o árbitro Felipe Fernandes de Lima registrou na súmula que a torcida tricolor entoou por duas vezes cantos homofóbicos. O sistema de som do estádio alertou os torcedores para que parassem com os gritos, de modo que a partida não fosse interrompida.
O Fluminense, tradicional vítima de ataques homofóbicos, se viu enquadrado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva: praticar ato discriminatório desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de idosa ou portadora de deficiência.
A decisão cabe recurso, mas eu me pergunto: o clube, que agora acusa com razão o rival Flamengo por ataques homofóbicos, em jogo válido pelo Campeonato Carioca deste ano, terá coragem de se negar a ser responsabilizado por ter praticado o mesmo ato?
Este é realmente o Time de Todos que queremos ver?
Na vida, há momentos em que somos colocados diante de decisões que podem mudar o rumo das coisas, para melhor ou para pior.
O Fluminense é mais que um time de futebol. O Tricolor é um dos responsáveis pelo desenvolvimento do futebol moderno, pela profissionalização do esporte no país, por fazer história em outros esportes, como pioneiro.
Seu papel deveria ser o primeiro a realmente assumir o papel de Time de Todos, como o apelido sugere. Ou até mesmo isso, os atuais responsáveis pelo Tricolor vão apequenar?
É um tema para ser refletido e tirado de baixo do tapete. Para o bem do Fluminense, do futebol e de toda a humanidade.
Eu estou disposto a trazer o bode para a sala. E você?