Estive no último jogo do Fluminense, no Estádio Beira Rio. Uma arena esportiva, habilitada para a Copa do Mundo e com diversos serviços para o torcedor. Área exclusiva para associação e atendimento aos sócios, ouvidoria, lojas oficiais (sim, mais de uma) e restaurantes com as mais diversas opções. A organização do evento foi simplesmente perfeita, ingressos a preços acessíveis (o do visitante custava 40 reais) com estacionamento agendado pela internet e acesso via QR Code na tela do celular.
Agora voltemos à nossa realidade: não temos sequer um estádio para jogar na cidade do Rio de Janeiro. Loja oficial? Nenhuma venda online. No clube apenas um quiosque, que para tornar a situação ainda mais lamentável, ao comprar com cartão de crédito, o comprovante é da loja oficial do Palmeiras. Sim, o comprovante de pagamento vem em nome da Academia Store Palmeiras. Ninguém me contou, foi o recibo que recebi ao comprar a camisa retrô do Félix durante a Flu Fest.
Vou ignorar o fato de o clube social e os esportes olímpicos terem sido abandonados faz tempo, focarei apenas no futebol, senão precisaria de um livro e não de uma coluna aqui no Panorama. O futebol anda mal das pernas, internacionalizar a marca com a disputa da Libertadores é algo aparentemente inatingível no momento. Mas o Fluminense arrumou uma maneira de expandir sua marca: O STK Samorin.
Após tentar adquirir um clube de pequeno porte nos Estados Unidos, pertencente a uma liga inferior à MLS, o Tricolor decidiu adquirir o um clube na Eslováquia, um projeto dividido em fases, que ao final, dará ao Fluminense o controle total do clube eslovaco, chamando-o de STK Fluminense Samorin, que passará inclusive, a atuar com o uniforme tricolor. Quem quiser saber mais sobre o projeto acesse AQUI.
Em um vídeo no canal oficial do Fluminense no Youtube, Marcelo Teixeira (coordenador das divisões de base do clube) explica as grandes vantagens do projeto: Visibilidade de nossa marca na Europa, plano de carreira para jogadores da base que não foram aproveitados no profissional, qualificação dos profissionais das divisões de base através da oportunidade de períodos de intercâmbio profissional e por fim, fazer com que o Fluminense passe a ser reconhecido como uma das melhores academias de formação de atletas do planeta.
Em tese um grande negócio, mas como funciona na prática?
O campeonato eslovaco da primeira divisão ocupa a 31ª posição no ranking da UEFA, atrás de “potências futebolísticas” como Bielorrússia, Escócia, Chipre, Cazaquistão entre outros. O clube mais bem classificado no Ranking da UEFA é o Slovan Bratislava, que ocupa a 178º posição.
No ranking da FIFA, o futebol eslovaco ocupa a 32ª posição e o maior feito da seleção eslovaca foi ter se classificado para a Copa do Mundo de 2010 com um gol contra marcado pelo jogador polonês Gancarczyk. Chegou até as oitavas de final, sendo eliminada pelos Países Baixos.
Se o futebol eslovaco como um todo beira o ridículo, a situação do STK Samorin é ainda menos honrosa. O clube fundado em 1914, na cidade de Samorin, então localizada na Thecoslovaquia, atualmente Eslováquia, jamais venceu um torneio oficial de primeira divisão. Suas conquistas se resumem a campeonatos regionais, e assim mesmo lá pela década de 1930. Desde 1945, o Samorin disputa campeonatos de divisões inferiores, e jamais obteve qualquer resultado relevante ao ponto de se classificar para campeonatos europeus.
Se o objetivo é alavancar a marca do Fluminense na Europa, dando oportunidade de plano de carreira aos jogadores da base e oportunidades aos profissionais da área, penso que o clube não está indo pelo melhor caminho. O site valoriza a estrutura do Samorin, mas convenhamos, não me parece ter nada demais por lá. Um Centro de Treinamento, que visualmente é aquém dos que estamos construindo e um estádio para 1.945 pessoas, algumas vezes menor do que o sucateado estádio das Laranjeiras. A possibilidade de desfrutar da organização e de toda estrutura oferecida pela UEFA e pela Associação de Clubes Europeus é indiscutivelmente válida; contudo, alcançaremos tal feito através de um clube da série B da Eslováquia?
O Fluminense há muito deixou de ser a potência esportiva que foi um dia. Falta-lhe o básico em estrutura, e mesmo com o novo Centro de Treinamento, seguirá atrás de outros grandes clubes do País. Se normalmente sobra marketing para os resultados alcançados pelas equipes das divisões de base, falta para o futebol tricolor como um todo. Falta também transparência para o que acontece de fato em Xerém, a questão dos uniformes e alimentação faltantes para alguns meninos segue muito mal explicada.
Precisamos mesmo investir dinheiro para adquirir clubes fora do País com tanta coisa faltando por aqui? Não é mais relevante pra nossa marca seguir investindo em projetos como o do Flávio Canto no judô, colhendo de fato os louros da vitória de atletas nas Olimpíadas, ao invés de valorizar medalha por atletas que foram nossos no passado? Estamos parecendo o cara que vai estudar inglês para ter melhor qualificação profissional e não sabe a diferença entre “a gente” e “agente” ou entre “mas” e “mais”.
Se o banheiro do restaurante é foco de mosquito, ou mosca, como preferirem, não adianta colocar catupiry na coxinha que vende por lá, “gourmetizar” o botequim não é dar um passo pra frente, é fingir ser maior e melhor do que se é de fato.
Melhor seria limpar o banheiro primeiro.
Panorama Tricolor
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Imagem: zanzi