Tricolores de sangue grená, o Fluminense atual é uma baita gangorra. O mesmo time que toma uma goleada ridícula do Athletico-PR em casa consegue meter 1 a 0 no time da Gávea em Itaquera na virada da ampulheta. O mesmo elenco que vai até o Paraguai e bate o Cerro Porteño por 2 a 0 com autoridade (erros do VAR à parte) é o que perde para o Grêmio por 1 a 0 em casa sem qualquer inspiração e sem qualquer letalidade. O Tricolor de Laranjeiras tem vivido seus momentos de Dr. Jekyll e Mr. Hyde (O Médico e o Monstro, 1886), ora nos dando triunfos maravilhosos, ora nos enchendo de desgosto. Já havia sido assim, por exemplo, contra o Bragantino. No jogo da ida, 2 a 0 suntuosos e domínio das ações. Já na volta, derrota por 2 a 1 e sufoco pra garantir a vaga. Essa instabilidade resulta numa imprevisibilidade. A gente nunca sabe se vai vibrar ou se enfurecer com uma partida do time, não importa contra quem seja. E isso gera, obviamente, uma desconfiança da torcida. É difícil acreditar que um time que oscila tanto consiga ser campeão. Se por enquanto as oscilações ainda não nos custaram o avanço nas competições de mata-mata, já passou perto.
No Brasileirão, o cenário não é muito diferente, mas tem um agravante: a dificuldade de vencer em casa. Com derrotas como as sofridas para o time paranaense e para o time gaúcho, o Fluminense bambeia no meio da tabela, sem conseguir se aproximar dos líderes. Tinha a chance de chegar a 20 pontos e entrar no G6, mas a desperdiçou. Com poucas vitórias, vai sofrendo também com os critérios de desempate, nunca ficando à frente de ninguém caso empate em pontos. E tudo isso nos descredencia a brigar pelo Campeonato Brasileiro, ou seja, uma competição a menos para se falar em título. E ainda que uma briga pelo descenso esteja distante, faltam pelo menos uns 30 pontos para ela realmente se tornar coisa do passado. A tabela que vem por aí nos reserva fortes emoções. Palmeiras fora no próximo sábado, Juventude em casa no outro, e América-MG fora no dia 8. Tudo isso entre Libertadores e Copa do Brasil, é claro. Ainda que Juventude e América-MG não façam um campeonato muito brilhante, se Roger resolver entrar com “time misto” de novo vamos sofrer. Contra o líder, então, nem se fala.
A “gestão de elenco” tão propalada por Roger precisa sair do CT e ganhar as quatro linhas. Nem todas as partidas do Brasileirão serão como a vitória contra o Sport. Eu falei na coluna passada que talvez fosse inteligente usar o time RESERVA para alguns jogos do Brasileirão em que precisássemos poupar titulares. Aí o que Roger faz? Coloca um time MISTO, sem entrosamento, para jogar. Claro que ia dar merda, e deu. Os próximos confrontos pedem inteligência na hora de escalar e, principalmente, de substituir. Contra o Palmeiras precisaremos ir de titulares se quisermos nos recuperar desse péssimo resultado contra o Grêmio, saindo de lá pelo menos com um ponto. Já contra Juventude e América-MG pode-se pensar em escalar o time reserva em caso de necessidade. Nada de mistão frio, hein Roger! As próximas semanas serão determinantes para sabermos o que o Fluminense fará em todos os campeonatos que disputa. Confirmar a vaga para as quartas da Libertadores e atropelar o Criciúma nas oitavas da Copa do Brasil são obrigações. Não dá pra aceitar menos que isso.
Todavia, o ano não acaba em agosto (esperamos). E por mais que tenhamos uma base que sempre entra bem, talvez seja o momento de pensar em algumas contratações pontuais. Não temos reserva para Samuel Xavier. Calegari vem mal, e já cansei de falar que ele é volante. Ao contrário do que muitos falam, acho que teríamos um bom quarteto de volância no elenco com André, Martinelli, Yago e Calegari. É uma base sólida para a maioria dos jogos. Julião pode até quebrar um galho, mas não por muito tempo. Marlon precisa logo mostrar algum serviço na lateral esquerda, caso contrário seria de bom tom contratar. Jefté se lesionou e perdeu espaço até no time de aspirantes, que só perde, e ficaremos sem uma opção imediata caso Egídio e/ou Danilo se lesionem. Infelizmente se Bobadilla não se recuperar e John Kennedy não mostrar serviço, precisaremos de outro centroavante. Abel já mostrou que não consegue ser a opção para trombar com os zagueiros e fazer pivôs. O momento é de azeitar os times (titular e reserva) e não querer reinventar a roda. Se Roger quer que a torcida confie nele, precisa mostrar que é digno de confiança.
Curtas:
– Roger diz que faz gestão de elenco, mas na verdade ele faz gestão é de contratos. No contrato de Wellington Jabaculesma (que passou longe de ser a razão para a derrota, sejamos justos), consta que a renovação será automática se ele jogar 60% dos jogos. Se fizesse mesmo gestão de elenco, Ganso e Nenê não viveriam saindo putos de campo.
– Acho que já passou da hora de treinar pelo menos o time reserva (o qual ele já disse que mais treina) em outros esquemas táticos, não? Entra jogo, sai jogo e o malfadado 4-3-3 permanece, seja contra um Grêmio fechado ou contra um Flamengo aberto. Nem sempre vai dar certo. Precisa haver opções, e já falo isso desde que Roger assumiu a equipe.
– Nosso treinador precisa ler melhor o momento das partidas. Fez isso bem contra o Cerro e mal contra o Grêmio. Colocou juventude no segundo tempo e perdeu o meio de campo. Depois tentou “consertar” e o time, desentrosado, não conseguiu criar mais nada, principalmente depois que Luiz Henrique (o dublê de Caio Paulista) foi substituído. Contra um time fechado e com uma zaga alta, a saída era chutar de fora. Martinelli, Yago e Cazares, nossos melhores chutadores em campo, não tentaram uma vez sequer. Faltou orientação. Aí fica difícil.
– Palpites para os próximos jogos: Fluminense 2 x 1 Cerro Porteño; Palmeiras 1 x 1 Fluminense.