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A foto é antiga mas diz muita coisa.
Meu amigo Marcelo Pitanga, um dos heróis da literatura tricolor – seu livro precisa ser relançado! -, num close quase desfocado de antigamente.
O cenário é o velho Maracanã, aquele que fez os garotos dos anos 1960 e 1970 para sempre. Os dos 1980, também.
Deve ser algo em torno de duas ou três da tarde.
Young Flu, porra!
Seria um jogo decisivo ou daqueles corriqueiros, que não são lá grande coisa para a tabela do campeonato, mas que cada torcedor carrega em sua memória afetiva?
Sentado em sua arquibancada nada confortável mas querida, o torcedor solitário mira o campo imortal com a vista juvenil. Ok, hoje os assentos são inegavelmente melhores, mas tem um problema evidente: onde foram parar a alma, o carisma, a atmosfera? E o pó de arroz, agora tabulado e limitado por quem nunca o sentiu no ar? E o mar de bandeiras, que coloria o cinza do concreto num contraste maravilhoso. Será que lá embaixo tinha algum garoto passando com sua bandeirinha, também solitária, na geral? Quem sabe?
Tudo fica mais acentuado por causa do triste momento que todos passamos. A vida está ferida, cansada, sabotada e, para piorar, não tem futebol. Nem poderia, porque a irresponsabilidade não pode vencer a razão. Mas é triste saber que o futebol é uma das nossas ausências, mesmo que absolutamente necessária.
Enquanto contamos os mortos, os humilhados, os sofridos, as falências, o drama e a tragédia a céu aberto e televisões ligadas, é preciso buscar dez segundos de paz em alguma esmola de alegria. E aí está a foto como um donativo, um amparo para corações e mentes do time que nunca descansa.
O jovem músico e poeta olhando para o horizonte, procurando por jogadas inesquecíveis, momentos de beleza rara e preferencialmente uma vitória, embora saiba que futebol é risco.
A mesma arquibancada que abrigou o choro e o suicídio em 1950 se transformou num dos mais belos recantos da esperança, e assim resistiu por sessenta anos. A força da grana e a compulsão corrupta a derrubaram para sempre, mas outra nasceu ali. A magia não é a mesma para quem viveu o passado mas, quando todo esse caos passar, novos garotos podem escrever outras histórias em cima das cadeiras azuis de plástico.
Para os mais velhos, o fascínio acabou. No entanto, isso não os impede de continuar a procurar, procurar, procurar pelos novos significados de uma paixão que não termina. É que o jogo há de recomeçar. Na verdade, ele é incapaz de cessar.
Foto: acervo Marcelo Pitanga
Panorama Tricolor
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