Podemos tirar muitas conclusões sobre a monumental vitória tricolor no último Fla-Flu – boas e ruins –, não restam dúvidas. De uma delas, que o fato do Fluminense ter vencido o clássico foi mera obrigação, visto que não o triunfávamos há quatro anos no Brasileirão – e isso é muito problemático. O Fluminense, clube gigante que é e com a história única e imbatível que possui, não pode tratar essa estatística como algo normal. É totalmente desproporcional a quem tem vocação para a eternidade – como bem definiu o mestre Nelson Rodrigues.
É algo, portanto, a ser corrigido. Clássico é para ser vencido e tratado como uma final, independente das circunstâncias momentâneas que lhes cercam. Ponto.
Claramente, é sempre muito lindo ver o Fluminense desafiando o impossível, mostrando em campo a força da sua camisa e vencendo até mesmo os problemas que lhes são impostos. É lindo vê-lo encobrir as tragédias pessoais e sociais, guerrear contra a soberba, contra a ignorância, até mesmo contra alguns de seus seus próprios jogadores que não entendem a dimensão de seu escudo – vide Caio Paulista, Felipe Cardoso e outros. É prazeroso vê-lo deixar os idiotas da objetividade – como também dizia o imortal Nelson Rodrigues – no chão após um êxito improvável.
É fascinante reviver os tempos de glória, os gols fantásticos, as vitórias eternas, mesmo que seja por uma noite de insônia, por noventa minutos de um clássico mágico. É fascinante imaginar este jogo com um público arrebatador, com cânticos, torcida – muita torcida –, pó de arroz e gente feliz – tudo impossível no cenário atual. É fascinante poder ver a centenária história tricolor viva, a essência imutável, o sobrenatural ao nosso lado, o sol brilhando em três cores, nossa bandeira tremulando e colorindo o azul do céu.
Tal qual a primavera que vem para florescer e colorir o vazio do inverno, a vitória tricolor lavou a alma de quem soube vibrá-la, senti-la, de quem compreende sua imensidão.
Foi uma noite memorável, apesar dos erros já bem explicados pelos amigxs desta casa e da questão que levantei no início da coluna. Como todo Fla-Flu, ficamos atônitos e inquietos, desta vez, com uma bela recompensa no final.
Um gol de cabeça e o outro no acréscimo, como de costume.
Valeu a insônia, a dor de cabeça, a ressaca.
Tudo normal, pura e simplesmente.
Se a vitória no Fla-Flu for realmente um bom presságio para quarta-feira e o resto do ano, preparam-se, meus caros: são as quatro linhas abrindo alas para a força da camisa tricolor.
E, quando isso acontece, não há ninguém capaz de pará-la.