A eleição do Flu sem Pedro Antônio (por Marcelo Savioli)

Uma possível candidatura de Pedro Antônio para o pleito de novembro era aguardada ansiosamente por muitos. Não só o nome de Pedro Antônio, mas o projeto à frente do qual ele estaria. Confesso que me incluo entre aqueles que desejavam essa candidatura, como alguém que anseia por um projeto consistente para o Fluminense, que contemple o presente e o futuro.

Ao que tudo indica, teremos que esperar que esse projeto venha da candidatura de Mário Bittencourt, atual mandatário. Há sinais? O projeto de modelagem do clube para atração de investimentos vultosos e a ideia de padronizar o modelo de futebol, a partir das ideias e do comando de Fernando Diniz, desde a base, fazem brilhar os olhos do torcedor e se elevarem as desconfianças de quem já não confia no atual gestor.

Eu me coloco num meio termo com relação a esse dilema. A atual gestão tem tido muita competência em reforçar minha rejeição a um estado de espírito em que o entusiasmo e a credulidade sejam traços evidentes. Não se trata aqui, porém, de fazer críticas que já foram feitas, mas de olhar o futuro, e eu só consigo olhá-lo com meus olhos.

Ainda que tenha um apreço pessoal por Ademar Arrais, um dos possíveis candidatos da oposição, reconheço que Ademar tem pouco apelo político para enfrentar Mário, o que significa dizer que o atual mandatário se reelegerá. E não será, obviamente, pelos seus erros e idiossincrasias. Será pela falta de opções políticas dentro do cenário eleitoral, mas também por seus méritos.

Em que pese o polêmico modelo de gestão do futebol, em compasso com uma gestão financeira que tem a propaganda como maior mérito, é fato que o Fluminense, pelo menos no campo esportivo, vive seu melhor momento desde o fim da parceria com a Unimed. Batemos, ainda, com sobra, o recorde de sócios torcedores, assim como temos atraído plateias significativas e até surpreendentes ao estádio.

Por outro lado, a política de contratar jogadores que custam caro à folha salarial, mas que não entregam 10% do que custam, e as vendas sempre sofríveis de nossos melhores ativos, são elementos que concorrem para comprometer nosso futuro próximo e qualquer perspectiva de saneamento verdadeiro das finanças do clube.

Diante dessa conjuntura, o que esperar da eleição de novembro? Eu espero do futuro, porque, para mim, a eleição já está resolvida. Não é o que eu quero ou deixo de querer, é a análise fria dos fatos. Sendo assim, é Mário o personagem que nos redimirá ou nos afundará no atoleiro do ostracismo.

O que eu espero, não espero de Mário, espero do Fluminense, seja lá quem for o mandatário. Esperava muito de uma eventual candidatura de Pedro Antônio, não jogo a toalha por conta da iminente reeleição do atual e, ao que tudo indica, futuro mandatário.

Não jogo a toalha porque eu sei exatamente no que acreditar para o futuro próximo e distante do Fluminense. O clube precisa ser capaz de atrair investimentos pesados, e isso passa pela modernização do modelo organizacional e pela profissionalização total da gestão. Só com investimento poderemos pensar em algo mais que um voo de galinha, mesmo com Fernando Diniz como figura central da política técnica de todo o futebol tricolor. Porque isso só se sustenta com dinheiro, com competitividade econômica.

Outro ponto fulcral é a mudança do modelo de organização do futebol brasileiro. A distribuição das cotas de televisão é um sintoma, não a causa. A causa é o modelo, que permite que as distorções promovidas pelas Organizações Globo sejam implementadas com êxito. Falarei exclusivamente desse tema numa próxima coluna, mas, por ora, fica a reiteração da afirmação de que somente uma liga de clubes comprometida com o sucesso do produto “futebol brasileiro” fará prosperarem nossos anseios de recuperar nossas tradições e de voltarmos a ver um ambiente competitivo em que uns não sejam favorecidos em detrimento de outros, tão ou mais relevantes que os primeiros para a história da construção do prestígio desse produto.

Em que pese a estúpida sabotagem ao projeto de revitalização das Laranjeiras, como ativo econômico e financeiro, além de esportivo, as ideias colocadas em pauta deixam acesas a chama da esperança. A esperança de que a receita composta por Xerém, investimento externo, reestruturação e profissionalização do clube, com a gestão lógica e conceitual do futebol, nos reconduza ao protagonismo, que é a nossa verdadeira vocação.

As esperanças que depositava numa possível candidatura de Pedro Antônio, tenho que transferi-las para Mário Bittencourt. Não por opção ou por falta dela, mas por constatação e desejo. Desejo que é de milhões de pessoas que vivem a paixão pelo Fluminense Football Club.

No mais, que o verde da esperança não seja em vão e todo poder ao Pó-de-Arroz!