SEJA LUZ PARA O LUIZ. COLABORE.
Eram 10 horas. Dormi havia quatro horas porque trabalhara até perto das seis. Cansaço, mas lembrei do jogo. Frio na barriga. Desviava o pensamento e tentava não sofrer desde tão cedo. Tinha que nadar. Dois dias sem conseguir por conta do trabalho. Vinha acumulando energia que virava uma carga difícil de carregar.
Por conta do excesso de trabalho da semana, ficou muita coisa represada e sábado é o dia. Farmácia, loja de construção, bugigangas, vai pra lá, vem pra cá. Duas da tarde e nem tinha comido ainda. Era aniversário da sogra. Comer, correr, arrumar, sair, voltar, jogo. Daria tempo? Sim, não. Larguei algumas coisas para trás. Não deu tempo de ir ao aniversário.
A cada movimento, a cada espaço de pensamento, entre uma coisa ou outra, vinha a tentativa de antever um jogo. 2×0 era difícil de controlar os nervos. Mesmo traduzindo imagens em palavras, a tensão seria gigante. Já consigo manter o controle. Sábado, não.
Se saísse um gol do adversário logo no começo, a vantagem iria para o ralo. Segurar o começo e explorar o nervosismo e a ansiedade seria a estratégia. Se o gol fosse do Fluminense, abriria três de vantagem liquidaria cedo. Tanto SE quanto permitia a análise combinatória. Cheguei a imaginar uma goleada. Uns quatro…
Chegou o momento de preparar os equipamentos, anotar as escalações, arbitragem. Coloquei no Youtube alguns vídeos da torcida. Aquilo joga a adrenalina necessária para quando a bola rolar. Ouvi um, dois, uns cinco áudios. Estava calibrado como uma cerveja que não bebera.
Faltava pouco. O pré-jogo já rolava. Eu ouvia e memorizava cada fala. Quando o tempo permite, sempre faço isso porque ajuda a traçar ideias que, algumas, viram verdade. Vamos entrar no ar. Cinco, quatro, três, dois, é agora, e o frio na barriga bateu. Não sentira antes. Era um dia diferente.
Apita e o jogo começou. Tive surpresa com a tranqüilidade e a consciência em campo. Ganso dava outro ritmo ao jogo. Passes precisos, bola de pé em pé, o adversário correndo atrás. O gol estava a uma troca de passes. Saiu o primeiro, mas não era nosso. Bateu certo desespero. Agora, vem uma avalanche. Não veio.
Ganso continuava a ditar o ritmo do jogo. André desfilava categoria, Arias deixava os adversários para trás. Cano buscava jogo. Só Cristiano destoava. Mas teve um raro momento de lucidez e tocou entre dois para Arias, que fazia a parede. Daí para Ganso, Arias no fundo, Cano para o gol. Rasguei a voz.
Depois, tinha todo um tempo de jogo. Mais nervosismo, a ansiedade crescia a tal ponto que não conseguia para de pensar no apito final. Nunca chegava. 45, 50, briga, 52 e, finalmente, poderíamos comemorar. Não é fácil narrar uma decisão, mas, depois, dá uma sensação de dever cumprido. Mais: narrar um título, um gol do título, não tem igual. Vale todo o dia, todo o campeonato. Impagável.
Já, já, tem mais. Quarta-feira está aí.