O roteiro é antigo e tem sido repetido há anos.
Contratações discutíveis, muitas de veteranos em declínio na carreira, que não trazem retorno esportivo/financeiro.
Bravatas midiáticas regulares falando de gestão, trabalho, planejamento e saneamento financeiro, repercutidas na imprensa esportiva convencional e segmentada do Fluminense, esta com alguns mercenários da informação, sempre dispostos a negociar manchetes e matérias conforme a direção do vento.
Movimentos simultâneos nas redes sociais para defender o presidente de ocasião e seus súditos, de preferência destruindo as reputações dos críticos e varrendo as questões tricolores para debaixo do tapete. E, claro, sempre terceirizando as culpas.
Um novo jeito de “torcer”, onde é permitido aos jogadores até dar esporro em torcedores e a derrota deve ser aplaudida. A degeneração do que se chamava de apoio incondicional.
Com o tempo, foram incorporadas novas práticas abjetas. Por exemplo, outrora discretos, empresários ligados ao Fluminense perderam o pudor e passaram até a dar entrevistas como se fossem dirigentes do clube, ou ainda convivendo intimamente em ambiente de concentração.
Uma fábrica de jovens jogadores que ora são negociados imediatamente, ora surgem e somem velozmente, ora são repassados para clubes de menor investimento, quando deveriam compor pelo menos metade do time titular a cada temporada. Mesmo quando se destacam, a qualquer momento podem ser preteridos por “reforços” com muito mais idade e dígitos no contracheque.
Basicamente, este é o Fluminense dos últimos dez anos, salvo situações pontuais: dois meses com Cristovão no comando em 2014, o bom primeiro turno do Brasileirão 2015, o primeiro quadrimestre de 2017 com Abel Braga, o quinto lugar no insosso Brasileiro de 2020 (sem jamais disputar o título) e, por fim, a semana que cercou a decisão do Carioca de 2022. Ah, sim, teve também a Primeira Liga. Se algum outro grande acontecimento tiver fugido da minha memória, me desculpem.
Para a quantidade de dinheiro que o Fluminense teve, dá para dizer que 2012-2022 é a época mais fracassada da história do clube, só que devidamente maquiada, enrustida, falseada.
Ué, mas não fizemos uma “grande” Libertadores em 2021? Não. Passamos de fase porque isso é quase obrigação para grandes clubes brasileiros. Fomos eliminados de maneira esdrúxula por um time fraco, que acabou como sparring na semifinal. E cá entre nós, muito do Fluminense naquela competição se deve a atuações brilhantes de Marcos Felipe, goleiro perseguido e hoje barrado.
Se alguém tem dúvidas de que esta década é perdida e que ruim mesmo era 1986-1994, lembro que neste período disputamos (de verdade) os títulos dos Cariocas de 1990, 1991, 1993 e 1994; os Brasileiros de 1988 e 1991, mais a Copa do Brasil de 1992.
Como alguém pode falar desta década se tivemos os anos de rebaixamento? Sem dúvida foi um momento terrível, mas dois anos depois da Série C o Fluminense estava disputando o título da Série A, de verdade, sem figuração. Nunca é demais lembrar que as campanhas tricolores nos Brasileiros de 2013, 15, 17, 18 e 19 tiveram o mesmo padrão de mediocridade.
Hoje, parte considerável da nossa torcida vive a ilusão da garimpagem: enlouquecido com uma pepita encontrada, o garimpeiro passa a ver ouro na primeira pedrinha encontrada – e demora para cair em si. Basta uma boa partida ou duas para que muitos vejam a grande evolução, o novo pentacampeão, a nova Máquina, até que tudo se desfaz por causa de um jogo chuvoso, uma expulsão, uma contusão – e aí vem a cara de tacho e decepção.
Já escrevi e falei muitas vezes: a maior derrota da história do Fluminense não é a perda da Libertadores em 2008, nem as agruras da Terceira Divisão, mas a perda de um patrimônio fundamental, que sempre foi o senso crítico da nossa multidão tricolor. O Fluminense nunca foi um clube de falácias e bravatas, de manchetes inventadas, de toma-lá-dá-cá: tudo isso que temos visto é coisa dessa década maldita. Não que no passado não tivéssemos dirigentes horrorosos, porque tivemos, mas ao menos a mediocridade não era enganada e nem servia para banquete de ingênuos e ignorantes.
Meus amigos, eu não estou aqui para apedrejar ninguém e nem alimentar ódios, até porque no Fluminense existe gente muito melhor do que eu para isso.
O que quero dizer é não adianta vivermos essa bipolaridade de euforia e desgraça a cada três dias se não entendermos o que está por trás de tudo isso. Vai muito além de um jogo, de um momento, de uma semana ou um mês.
É preciso eliminar esse modelo perverso de agência de aluguel de camisas que se transformou o clube, ou ele nos eliminará. Uma sucursal de empresários, com discursos fajutos e entrevistas coletivas patéticas que chegam a virar piada, tamanha a quantidade de mentiras e imprecisões ali contidas.
O Fluminense não pode ser um clube de migalhas, que acende suas luzinhas de dez em dez anos, que possa comemorar aproveitamento de 50 e poucos por cento, que chegue ao cúmulo de celebrar “integração com o mercado sul-americano”. Não podemos ser tão ridículos. Se o atual gestor tem orgulho deste papel, que o guarde para si.
Tenho vivido alguns dos piores dias da minha vida e nem sei se serão os últimos. Nunca temos certeza do caminho da vida. Se até hoje escrevi aqui mais de 1.200 vezes, é porque acredito que a força da palavra possa, de alguma forma, colaborar com o Fluminense para alguma coisa.
Estou cheio de conversar com torcedores de 35, 30 ou 20 anos de idade que me dizem “Ah, você viu o Fluminense espetacular, grande”. Sinceramente, seria um desgosto ainda maior morrer ouvindo isso. Eu não quero nenhuma visibilidade, nenhuma fama, nenhum sucesso; na verdade, tudo o que eu queria era ser o garoto anônimo que fui, um entre muitos naquela arquibancada dos vitoriosos, dos que não aceitavam discursos mofados, dos que faziam até greve de torcida se o Tricolor não tomasse tenência. Eu só queria ser o anônimo da minha arquibancada com sua nuvem espessa de pó de arroz, duzentas bandeiras tricolores e uma torcida que não se confirmava com dois ou três anos sem título, pouco importando se ela lotava, era meia-boca ou pequena conforme cada situação.
No fundo, no fundo, não é o Diniz, o Caio Paulista, o Capitão Moldávia ou o Wellington, assim como não foram o Roger, o Odair, o Bobadilla, o Lucão do Break, o Egídio, o Kelvin, o Júnior Dutra, o pobre Agenor e tantos outros que estão ou estiveram no Fluminense. É esse modelo maldito de agência de aluguel de camisas que precisa ser eliminado, derrotado, banido do clube para sempre. Modelo que faz do Fluminense um clube que corre para não chegar, recheado de situações extracampo no mínimo duvidosas. E a hora de eliminar esse modelo é nas eleições tricolores de novembro.
A não ser que ganhemos o Brasileiro ou a Copa do Brasil, hoje situações de baixa probabilidade, estamos a cinco meses de uma década perdida, que nem um título local sobre o maior rival consegue salvar. Uma década que não honra a história do Fluminense. Uma década de migalhas, de lampejos, de brilhos efêmeros, pequena, medíocre.
Humildemente peço a você, que lê esta coluna, uma reflexão sobre estes quase dez anos, seus protagonistas políticos e os resultados do Fluminense, porque se nos limitarmos à dualidade evolução x involução de cada semana, corremos um sério risco: o de virarmos garimpeiros atrás do sonho de uma pepita de ouro que jamais virá.
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No próximo dia 21/06, terça-feira, o Sebo X recebe os relançamentos dos livros “O escândalo do Brasileirão 2013” e “Duas vezes no céu: os campeões do Rio e do Brasil”.
Paulo Ricardo Paúl fez um trabalho primoroso sobre o que aconteceu naquela famigerada 38a rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. Merece todo respeito e apreço dos tricolores. Já deveria ter sido homenageado pelo clube. É um livraço.
“Duas vezes” é meu segundo livro sobre o Flu. Celebra o grande ano de 2012, a última temporada em que o Fluminense foi Fluminense de verdade – quando esse câncer de “novas gestões” ainda não tinha se espalhado. Devido a uma safadeza tramada dentro das dependências do Fluminense, com o objetivo de silenciar meu trabalho, cheguei a sofrer um processo judicial espúrio que durou oito anos. O que os safados da trama não contavam é que essa verdadeira agressão não somente não me calaria, mas me incentivaria a escrever outros 19 livros sobre o clube. Venci na escrita, na história e na Justiça. Ainda me pergunto sobre como alguém que representa o Fluminense possa ter “entendido” o lado de alguém que buscou a destruição de um livro sobre o clube.
Todos estão convidados para esta celebração. Os livros serão vendidos por R$ 29,90 cada exemplar.
Sebo X: Praça Tiradentes 9, sala 611, Centro, RJ. Terça-feira, das 16 às 20 horas. WhatsApp 21 99634-8756.
John Kenedy, João Nt., Luan Brito. Talentos promissores, que foram bem na base. Por que contratar pro lugar de Fred? Satisfazer empresários? Deixar os garotos esquecidos e vender depois, a preço de banana, levando algum? O mesmo pra quem vier pro lugar de LH. Não estamos perdendo só a década, estamos perdendo o clube.