A churrascaria, o garçom e o Fluminense (por Wagner Victer)

Pouco antes do início da Pandemia, fui jantar com o meu filho Francisco, em uma tradicional churrascaria da Ilha do Governador, Mocellin, onde moro. Entre lascas de costela desfiadas, palmitos assados ao forno e sushi/sashimi, um dos garçons, que já conhecia, veio à mesa, me confidenciando, de maneira até sem graça, que era sócio do Fluminense e que não havia votado nas eleições tricolores na chapa que eu compunha como Vice-Presidente Geral, e sim na Chapa Vencedora, que atualmente comanda o Fluminense.

Já sentia naquele aproach sincero que ele estava bastante triste com os resultados decepcionantes do Fluminense, obtidos ao final de 2019, e busquei levá-lo a fazer uma reflexão com um paralelo ao seu cotidiano profissional, através de uma simples pergunta: Você sabe porque a Churrascaria onde você trabalha, ao contrário de outras grandes ou até tradicionais, não fechou?

Enquanto ele hesitava na resposta, até por não entender o contexto da minha pergunta nessa discussão tricolor e até gastronômica, dei a resposta: Nessa churrascaria EXISTE GESTÃO! Isso acontece desde o ato da escolha da aquisição da carne, por seu preço associado à qualidade, na inspeção de recebimento, escolha de um fornecedor tradicional, na inovação nos cortes das carnes, até na forma como os garçons são treinados a se integrarem e atenderem imediatamente o cliente quando este é mobilizado. Ou seja, o sistema na churrascaria “roda” de forma e a partir de procedimentos onde custos, qualidade, satisfação do cliente até mecanismos de transparência (compliance) claramente observada, produção do sushi/sashimi à frente do cliente o que não se observa, com frequência, na maioria das redes de restaurantes, onde clientes se acotovelam entre espetos pingando e filas insensíveis à porta do estabelecimento, que podem levar à sua extinção.

Não há portanto, como fazer diferente de como havíamos falado na campanha. Sem transparência ampla e práticas mínimas de compliance que não observamos na gestão de nossos ativos nas aquisições, empréstimos e vendas de atletas de base, temos a queda vertiginosa da nossa imagem, o que afasta patrocinadores, sócios em potencial e principalmente nos afunda cada vez mais em um passivo financeiro que, na prática, nos torna insolventes, o que certamente se fôssemos uma organização privada, com falência estabelecida e até fechamento definitivo de operação.

Nossos custos operacionais do Fluminense, tais quais aquelas que são controladas pela churrascaria são enormes. Já na época que analisei, em 2019, por ocasião da campanha, pois ficaria com a responsabilidade da gestão, já eram facilmente reduzidos na rubrica de pessoal, na ordem de 40%, e tudo indica que já até aumentaram.

O equacionamento de passivos, renegociando dívidas em prazos mais longos com taxas mais atrativas e até em eventuais parcerias feitas de forma transparente, seria fundamental até para obter a tão sonhada Certidão Negativa de Débito (CND) anunciada ao início do ano, resolvida como “Cabeça de Bacalhau” – até então nunca surgiu e possivelmente não surgirá a tempo para podermos receber patrocínios e incentivos de órgãos públicos, ou mesmo participar da licitação de concessão do Maracanã da maneira que esse estágio não seja entregue de “mão beijada” aos mulambos.

A gestão de nossas operações jurídicas que entregaríamos a um membro da Procuradoria de Estado, hoje se observa num rosário de nossos passivos e penhoras, repentinas nunca anunciadas.

Na questão orçamentária, nossa falha é ainda mais emblemática. Um clube tem um orçamento que deveria estar disponibilizando, discutido até o fim do ano, exercício anterior, sendo aprovado somente em agosto do exercício vigente, chega a ser surreal, pois é prática que não pode guardar no paralelo, como qualquer modelo que se considera de gestão aceitável, ou seja, não aceitável nem em uma churrascaria.

Sou daqueles que consideram que não é momento de se falar em eleição, até porque a atual direção foi legitimamente eleita no voto, e temos muito tempo de gestão ainda pela frente. Porém, a cobrança dos compromissos estabelecidos, a crítica nas eventuais praticas erradas ou pouco transparentes, a sugestão de novos caminhos a trilhar e o reconhecimento dos acertos é algo que todos os sócios, assim como os clientes churrascarias devem fazer, só que, ao contrário de uma churrascaria, não podemos trocar nosso time de paixão.

Como exemplo o atual sucesso dos mulambos é nítido, pois montaram um grupo e por três gestões reuniram apaixonados pelo clube que não dependiam e não dependem financeiramente do futebol, para se unir, cada um com sua experiência profissional bem sucedida.

Portanto o atual amadorismo, além do histrionismo como marca através do processo de Presidencialismo centralizador, são caminhos que podem nos levar ao fim e devem ser avaliados.

Fico abismado que muitos tricolores comecem a perceber isso somente agora com as derrotas que acontecem e, plagiando o grande e maior escritor vivo tricolor, Paulo-Roberto Andel, que diz que nossa maior derrota histórica não foi a queda à Série C, mais sem a perda da capacidade crítica da Torcida Tricolor, que era diferenciada.

Ao contrário daqueles que pensam que os clubes são blindados por alguma proteção divina, e não fecharão as portas como as tradicionais churrascarias, a gestão é o único caminho de sobrevivência para o Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

3 Comments

  1. O VICTER (Wagner) é um comprovado gestor de sucesso nas empresas que foi Presidente executivo.
    Foi assim na Cedae, na Faetec, e outras.
    Também como gestor de serviços e bens públicos foi eficiente e inovador nas principais Secretarias de Estado que ocupou com excepcional desempenho.
    Por essa sua invejável experiência profissional, sua competência inerente, com diferenciada cognição, tem a extrema lucidez de enxergar a administração de forma ampla, com visão holística dos problemas existentes…

  2. Com certeza, a questão da gestão é absolutamente fundamental para qualquer time e, certamente, tem que ser levado em conta para qualquer um que queira se aventurar para a diretoria de qualquer time de futebol. Fico triste em ver o meu tricolor na situação difícil na qual se encontra e o que é pior: sem perspectiva! Estou cansado de sempre iniciar o campeonato brasileiro com um objetivo único: alcançar os 46 pontos! O Fluminense merece mais… Somente profissionalismo pode mudar essa situação.

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