Na primeira sexta-feira de novembro, esse mês intenso e potente, o Fluminense foi protagonista na noite.
Sagrou-se campeão do Campeonato Brasileiro sub-17, com uma vitória convincente de 2 a 0 sobre o Palmeiras, na casa deles.
Destacaram-se os “moleques de Xerém”. Os gols de Isaque e de Wesley Natã levaram o título para Laranjeiras, consolidando um ano excepcional para o nosso sub-17 que já havia conquistado a Copa do Brasil na temporada 2024.
Isaque, meia ofensivo de 17 anos, que veio do interior de São Paulo para o Fluminense em 2018, é considerado, além de habilidoso, decisivo. Sempre faz gols importantes, em momentos determinantes.
Wesley Natã é um meia mais clássico, de 16 anos de idade. Criado do futsal do Fluminense, está em Xerém desde 2018 e assinou seu primeiro contrato oficial com o clube em meados de 2024.
Ambos são conhecidos como membros de uma geração promissora da base tricolor, cuja alcunha é “Esquadrilha 07” de Xerém.
Esquadrilha, creio eu, numa alusão à Esquadrilha da Fumaça que, organizada e exaustivamente treinada, consegue dar espetáculos. O número 07 faz referência ao ano de nascimento da maioria do elenco: 2007.
Parabéns aos meninos do sub-17. Parabéns ao técnico Felipe Canavan, que também foi jogador do Fluminense nos anos 2000.
E a noite de sexta-feira também foi de Xerém lá no Maracanã, pela 32ª rodada do Brasileirão. Enquanto se comemorava a conquista da garotada do sub-17, o Fluminense recebia o Grêmio.
Mesmo sem padrão de jogo em muitos momentos, o time foi valente, sobretudo no segundo tempo quando fechou os espaços, organizou minimamente o meio de campo e conseguiu virar o jogo com um belo gol de cabeça de Kauã Elias, outro “moleque de Xerém”.
Mas ainda no primeiro tempo, Ganso achou Arias na entrada da área adversária e, com um passe com açúcar, deixou o colombiano numa daquelas posições que os bons sabem aproveitar. Arias chutou rasteiro, entre dois jogadores gremistas que fechavam a visão do bom Marchesín e empatou o jogo, já que àquela altura o Fluminense perdia por 1 a 0.
Aliás, a dupla Ganso e Arias acertou passes e lances impensáveis, como é habitual.
Por pouco o Flu não mata o jogo. Bastava Nonato saber fazer gol, ter cacoete de atacante e teríamos saído de campo com uma vitória e 39 pontos na tabela.
Após o gol de Kauã Elias, num momento em que o Flu fazia uma série de ataques relâmpago na área gremista, o treinador Mano Menezes resolveu fazer mexidas que em nada ajudaram e, pior ainda, desestabilizaram o time.
Em que pese o Fluminense ter sido melhor em campo, mais uma vez uma revoltante atuação de um árbitro medíocre incidiu sobre o resultado. Para mim, não foi pênalti no lance do Fábio com Arezo, assim como não foi pênalti o lance do jogo anterior contra o Vitória.
A coluna permite que eu exponha minha opinião, que pode não ser a das leitoras e leitores. Com um pênalti mandrake, o Fluminense deixa escapar a vitória e amarga um empate injusto no Maracanã.
Mas a noite foi de Xerém, com participação de outro protagonista prata da casa: Marcelo.
Ingresso na base do Flu com 13 anos de idade, assim como Wesley Natã foi oriundo do futsal tricolor.
Quase nascido e criado no Fluminense, Marcelo jogou no futsal, no infantil, no juvenil e no júnior, antes de ascender ao time titular. A história conta que o jogador chegou a morar nas instalações do então CT Vale das Laranjeiras, o que nos permite dizer que, literalmente, o Fluminense era a casa de Marcelo.
Despontou nos profissionais em 2005, então com 17 anos. Grande jogador como sempre foi, no ano seguinte foi negociado com o Real Madrid, onde se tornou uma lenda do futebol mundial.
Assim como sempre fiz em relação a Messi e Ganso, parava tudo para vê-lo jogar. Marcelo é um craque raro. Jogar bola parece fácil, o que é trabalho vira uma brincadeira e o que é habilidade vira espetáculo.
Eu lamentava apenas suas limitações físicas. Mas desde a última sexta-feira, para o bem ou para o mal, eu passei a lamentar também o espetáculo às avessas estrelado por Marcelo.
Não se sabe ainda o que ele falou para o técnico Mano Menezes. Sabe-se, contudo, que algo de muito grave aconteceu para que seu contrato fosse rescindido com o Fluminense, horas depois do ocorrido.
Xerém, já falei várias vezes, é uma botija enterrada no fim do arco-íris. Não para de brotar moeda.
Apesar disso, os tricolores pouco sonham com a projeção dos garotos no time principal. A peneira é estreita, poucos garotos ascendem e mesmo os que tem a chance no principal, são prematuramente vendidos.
O modelo é cruel, o sistema é bruto e os dissabores parecem maiores do que os sabores.
Marcelo, o espetacular, sai da cena tricolor pelo escape. Infelizmente.
Kauã Elias continua jogando com disposição e força.
Isaque e Wesley Natã desde já nos causam a ânsia de vê-los jogar e arrebentar no time principal. A questão é que esse afã acaba nos matando de desassossego.
Na noite dos “moleques de Xerém”, o que poderia ser apenas comemoração se transforma em perturbadoras dúvidas e incertezas no embaciado Fluminense.