Nas últimas semanas, o Fluminense vive turbulências pelos mais variados motivos. A ausência do bom futebol, as grosserias da Comissão Técnica, o confuso episódio de indisciplina e, por fim, o balanço desarranjado do clube. No futebol, o tempo voa rápido demais e, seis meses depois do título da Libertadores, é evidente que o Tricolor precisa se reinventar e rápido.
Falei certa vez algo que muitos colegas repetem: para mim, a maior derrota do Fluminense na história não está na perda de nenhum título, nem dos terríveis anos de rebaixamento – já mais do que superados. Entendo que o grande fracasso da história tricolor foi a perda do senso coletivo crítico que sempre marcou a nossa torcida, pelo menos desde que eu era criança nos anos 1970. E por conta dessa perda, muitos de nós trocaram a paixão pela paixonite, transformando o ato de torcer num culto, repelindo todas as dialéticas em nome de uma verdade única que não se vê em campo. A cereja podre do bolo é dizer que tricolores críticos a determinadas situações do clube “não são tricolores de verdade” ou o fazem por interesses políticos nas Laranjeiras. Felizmente esses patetas são minoria, ainda que façam barulho.
Hoje o Fluminense é cercado por uma verdadeira máquina de propaganda em todas as redes sociais, visando convencer pelo menos os mais ingênuos de que temos um clube perfeito, em grande fase, pronto para viver uma era gloriosa e com total saúde financeira. Chegamos ao cúmulo de ter grupos de WhatsApp para combinar vaias a determinados jogadores – caso de Martinelli – por meros interesses comerciais que não são os do clube. E essa máquina faz uma verdadeira lavagem cerebral em muitos torcedores que se deixam levar. É preciso combater isso.
A Libertadores finalmente chegou. Era esperada e desejada. O grande problema é que ela virou a desculpa oficial para todos os problemas, como se o Fluminense fosse um clube minúsculo, daqueles que conquistam um título e então “podem” se dar ao luxo de anos de figuração. Segundo os cardeais da imbecilidade, ser tricolor é aceitar passivamente a eliminação no Carioca (desprezando um tri que não ganhamos há 40 anos), o péssimo futebol jogado e desculpas estapafúrdias para que uma panela de veteranos seja a tônica em campo, enquanto os jovens jogadores do Xerém são rifados para pagar os “donos do time”.
Independentemente dos atos de indisciplina de John Kennedy, tudo que cerca seu afastamento tem estranheza. O fato em si, a ocasião e a própria maneira com que o clube gerenciou o problema. É uma situação anormal.
Campo. É melhor vencer do que perder, óbvio, mas quem transformou a vitória sobre o Sampaio Corrêa, time da série C, num épico da recuperação do campeão da Libertadores, ou não viu o jogo ou não sabe nada de futebol. Torcemos, queremos o melhor mas não dá pra participar dessa farsa. O Fluminense terá que melhorar muito se quiser ganhar outros títulos este ano. A primeira prova é neste sábado, diante do poderoso Atlético Mineiro em Cariacica.
O balanço fica para depois. É constrangedor demais.
Paulo, como sempre uma excelente coluna e gortaria de adicionar que a perda do senso crítico na nossa torcida tem a meu ver grande relação com haver muitos novos torcedores de técnico, presidente, diretor e jogador. Para essas pessoas o Fluminense enquanto clube com 122 anos de glórias é abaixo de nomes que passarão, deixando ou não memórias relevantes.
Ainda bem que neste Panorama e em alguns outros poucos lugares consideramos o Fluminense maior que todos nós.