Fluminense 2 x 2 RB Bragantino (por Paulo-Roberto Andel)

Tudo na vida é equilíbrio e ponderação. Quero dizer, ao menos é o que deveria ser. A história do copo d’água pela metade. Está mais cheio ou mais vazio? Nenhum dos dois, a metade é o limite superior e inferior na mesma questão.

Muitas vezes é preciso avaliar direitinho se não estamos fazendo uma confusão que pode custar caro, isso em qualquer cenário da vida.

Por exemplo, confundindo confiança com empáfia, otimismo com delírio, persistência com teimosia, criatividade com improvisação e por aí vai.

Há muitos anos, o Campeonato Brasileiro é o tipo de competição que, embora longa, no estilo rali, cobra a conta de suas quase 40 rodadas. Todo jogo é duro, do começo ao fim, seja com um postulante ao título ou um time na zona de rebaixamento. E lá por outubro ou novembro, sempre tem um time lamentando a perda da chance do título por causa de um, dois ou três jogos desperdiçados.

Ao jogo. O que o Fluminense ofereceu de melhor neste sábado foi a sua sede de gol, a sua busca ofensiva. Sem dúvida alguma era algo que nós esperávamos desde o ano passado.

Não falo propriamente de injustiça. Ah, teve as bolas no travessão. Ah, o goleiro deles pegou muito. Gente, já tivemos times rebaixados que fizeram a mesma coisa – e longe de qualquer comparação técnica, quero apenas dizer que times de diferentes categorias podem ser agressivos e ameaçadores.

O fato é que, depois de meses sem uma única partida digna de quem conquistou a América, o Fluminense jogou 45 minutos suficientes para muitos tricolores já contarem com o ovo da galinha que, até o momento, não existe.

Atacamos muito, mas o Bragantino também.

E qual é o problema? Apesar de ter um time com grande força ofensiva, já no primeiro tempo o Fluminense corria riscos. Basta falar de Felipe Melo. Mas a grande questão é que hoje temos um carro desalinhado.

O motor de arranque é ótimo. O problema é que o veículo tem dois pneus normais na frente e dois pneuzões de trator na traseira. Ao mesmo tempo em que eles oferecem mais distância percorrida em menos tempo, podem fazer simplesmente com que o carro capote a qualquer movimento fora do tom. Ah, o piloto também é bom, mas dá suas cacetadas alla Didi Mocó.

Resumindo: apesar da força ofensiva, o Fluminense é tão mal montado com essa sandice de jogar sem zagueiros e laterais que, a qualquer momento, o carro tomba. E foi assim, num estalar de dedos que o Bragantino virou o jogo. Apesar de empenados e tortos em campo, conseguimos empatar e podíamos até ter virado o jogo, mas isso não ia apagar os recortes desastrosos dessa partida de sábado.

Além de destruir a melhor e mais jovem dupla de volantes do Brasil, André e Martinelli, o Fluminense oferece o gol para qualquer time que tenha mínima vocação de bola aérea. Mínima. É o que basta. Jogamos sem zagueiros, sem posicionamento de zaga, sem cacoete, sem nada. Três gols de cabeça seguidos, no meio da área, com todos olhando. Cadê o zagueiro?

Tão destrambelhado que aí cabe uma graça do futebol: o artilheiro da noite foi Lima, um dos piores em campo.

Não adianta dar chilique, piti, rodar a baiana e fazer escândalo com batalha de glitter por dinizetismo – o desastre defensivo do Fluminense hoje é obra pessoal do Sr. Fernando Diniz, que por ter conquistado a Libertadores da América é tido por muitos como um gênio supremo e invencível, “maior da história do clube”, que criou o moderno football brasileiro, coisa que ele não é. Certamente Diniz é um treinador em ascensão, com algumas ótimas ideias e outras de doer, mas sua empáfia e teimosia o levam a decisões que, em alguns casos, custam muito caro ao Fluminense (com trocadilhos).

Não quero decepcionar os tricolores mais jovens, mas muita coisa boa (mesmo) que se viu no Fluminense de Diniz já foi vista há décadas nos times comandados pelo imortal Telê Santana, facilmente encontradas no YouTube, e, mais atrás, no trabalho de Elba de Pádua Lima, o Tim. Dois símbolos tricolores por sinal. A única diferença gritante é que nem Telê nem Tim inventaram zagas com volantes improvisados nem atacantes jogando de laterais. Tim não ganhou a Libertadores, mas levou a Seleção do Peru a uma Copa do Mundo. Telê não ganhou a Copa, mas ganhou todo o resto mais de uma vez. Há um ano e meio, Diniz era tido como um personagem caricato à beira do campo. Ganhou o Carioca, a Libertadores e a Recopa, que muito comemoramos. Também levou uma sova no Mundial, que poderia ser educativa mas, pelo visto, não foi.

O pior é esse discurso patético de que o Fluminense não tem zagueiros. Felipe Andrade é, desde já, uma das maiores revelações do século XXI no clube. Se for colocado como titular da quarta zaga, só sairá para o exterior. Talvez seja esse o problema… por que não é efetivado? Para garantir Felipe Melo por 45 minutos se arrastando?

Acabamos de revelar Luan Freitas, doado ao Paysandu. Fica nítido que se cria problemas para se vender soluções, seja a volta de TS3 (com todo respeito aos amigos, eu não aguento mais esse assunto) ou alguma nova invencionice padrão Antonio Carlos.

Outra Tonga da Mironga foi criada por alguns torcedores, sempre para minimizar erros visíveis. Depois dos dois jogos na Libertadores, onde fomos razoáveis mas estamos na liderança, a nova conversa fiada foi “Ah, tem que ver que os outros times passaram muitas dificuldades, veja o Grêmio…”. Amigos, no futebol sul-americano atual, time brasileiro tem obrigação de passar à fase final, e o Fluminense não é um dos candidatos simplesmente, mas o atual campeão. Está defendendo o título de maior da América. É difícil compreender?

Enfim, a coluna ficou grande demais. Não tem terra arrasada. É apenas um desabafo sobre como a teimosia e a empáfia podem prejudicar até mesmo uma atuação vigorosa como a do primeiro tempo desde sábado.

Em que outro momento de seus quase 122 anos, o Fluminense jogou tão improvisado em sua defesa quanto agora? Alguém sabe dizer?

Com laterais nas laterais, zagueiros na zaga e volantes no meio, humildemente desconfio de que vamos melhorar.

Resta saber se o Cruyff da Cidade de Deus vai nos ajudar ou atrapalhar.

Bertolucci, faça alguma coisa!

2 Comments

  1. ADEPTO RABUGENTO E ACATALÉPTICO DO PIRRONISMO AGRAVA – O ENCARNAR AO DOUTOR SILVANA E AO PROFESSOR PARDAL SOB EXPERIMENTOS DANOSOS A FAZER AO SOBRENATURAL DE ALMEIDA RIR – SE DE NOSSA DESDITA E INFORTÚNIO AO LIMIAR DA MARATONA DO BRASILEIRO EM QUE ESSE PONTO PELO RALO EVITÁVEL ANTE UM MODESTO BRAGANTINO AINDA QUE O RETROSPECTO EXIBA UM ADVERSÁRIO CASCUDO E OSSO DURO DE ROER AO LONGO DA HISTÓRIA DA PELEJA ESSE DINIZ CUJA SOBERBA, EMPÁFIA E PETULÂNCIA PAR PERFEITO DO CARTOLA MÁRIO BITTENCOURT CUJA OPACIDADE E DESPÓTICA POSTURA NÃO OUVE O CLAMOR DOS OLHEIROS QUE CONTRATAM PARA REFORÇAR E OBSERVEM QUEM LUCRARA COM A VINDA DESSE MEDIOCRE ANTONIO CARFLOS ZAGUEIRO NO BANCO EM PREJUIZO DE UM MARTINELLE CANTINFLAS NA ESTATURA E FORA DA POSIÇÃO A APENAS VER A BOLA DESCREVER A CURVA E POR DUAS VEZES NA JOGADA PARADA NOS DEIXAR NA MÃO E SE AO ZEMA INDAGASSES A PRÓPOSITO ELE DIRIA EU NÃO OUVO…

  2. Muito obrigado por sua análise, finalmente alguém que pensa como eu! As análises em geral são extremamente simplistas. O Lima passou o jogo como um peso morto, não marcou direito, já que não é sua característica, e tampouco armou o time, já que não sabe fazer, aí faz dois gols, um mérito total do Ganso e o outro um “pombo sem asa” que só foi importante pois o time estava perdendo, e aí o cara se torna “um dos melhores em campo” para “analistas”. E o Marquinhos era nosso melhor atacante até o Guardiota recuar ele para a lateral…

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