Quem ganha com o caos dos ingressos? (por Paulo-Roberto Andel)

Pela 143a vez ou equivalente, a torcida do Fluminense ficou fula da vida com a abertura da venda de ingressos para a decisão de vaga na Libertadores, diante do paraguaio Olimpia.

As explicações costumam debochar da capacidade intelectual de leitores e espectadores. Passam pela superlotação do sistema de compras, quando todos sabemos que eventos com público dez vezes maior fluem normalmente noutros sites. É uma questão primária de TI.

Então o sócio, que muitas vezes assim se mantém mais pela chance de comprar ingressos do que qualquer outra coisa, a cada jogo importante, passa a via crucis de um passageiro humilhado pela SuperVia, por exemplo.

Os que conseguem uma simples compra de ingressos passam a comemorar feito um título conquistado, tamanha a dificuldade de sucesso. Porém, depois disso, ainda virá o jogo propriamente dito e, com isso, um mar de desperdícios e pequenas aporrinhações, que vão desde um engarrafamento de gente na saída do metrô (porque já começaram a colocar limitadores de passagem às cinco da tarde), até fazer uma verdadeira odisseia pelo grande negócio chamado grades e, depois de uma volta imensa, ao chegar às catracas, os estíuartes te empurram para a última entrada, pois “a circulação é melhor”. Ou seja, os putos ficam parados dando ordens sem se mexer.

Cheguei a falar que antes você precisa mostrar o seu cartão de sócio três ou quatro vezes nas barreiras de acesso? Isso para você, sócio, porque os cambistas deslizam livre e alegremente.

Passando da catraca, mesmo com um espaço físico gigantesco onde rapidamente se escoa milhares de pessoas, um cidadão imediatamente te manda sair dali, como se estivesse te fazendo um favor. Depois, mais três ou quatro cidadãos te dão boa tarde ou boa noite literalmente latindo – ou cantando um tema de Tom Waits. O Maracanã atual é o local de grande porte onde tem mais gente dando boa noite no mundo, claro, com enorme má vontade. Aí finalmente você pode encontrar a paz, comprar seu cachorro quente ou o hambúrguer do Fluzão, que é muito simpático mas pequeno para grandes players dos lanches.

O curioso é que, em todos os jogos decisivos do Fluminense mandante, todos, sempre sobra um bolinho de ingressos no disputadíssimo setor Sul e/ou em outros, dando a impressão de que o cambismo foi derrotado morrendo com ingressos na mão. É, tem quem acredite e estamos num país de crença livre. Tudo bem.

Perto do segundo tempo, na vitória ou na derrota, o detalhamento do mapa de ingressos é divulgado nos telões do Maracanã. A nossa torcida comemora os números com gritos e aplausos. Às vezes são cinco mil ingressos de cortesia do clube, mas ninguém repara. Se nada de errado houver, o portal da transparência tricolor está com sua atualização atrasada.

Em muitas ocasiões, há um enigma indecifrável: por que o setor Leste Inferior tem muito mais pessoas do que o seu número de assentos disponíveis?

Se tem algo que nenhum jogador, funcionário ou dirigente do Fluminense tem direito é de reclamar da torcida tricolor no Maracanã. Para lotá-lo, como tem feito regularmente desde o pós-pandemia, ela se submete as piores condições para apoiar o time. E como todos queremos o título da Libertadores, a multidão tricolor ainda vai ter pelo menos mais duas grandes aporrinhações com os tíquetes de acesso: na semifinal e final da competição.

Afinal, quem ganha com o caos na compra de ingressos?

1 Comments

  1. É lamentável essa venda de ingressos! O início da venda se deu às 10hs e às 14hs já não tinham mais ingressos. As pessoas tem as suas vidas, trabalham, estudam, não dá pra ficar fazendo plantão na Internet. Sou sócio-proprietário do Fluminense há 15 anos e tô (até o momento) sem ingresso. E indignado! Aí, quando chegar na hora do jogo, veremos vários lugares vazios no Maracanã. O Fluminense está trocando torcedores fiéis pela manutenção firme e forte dos cambistas. Saudade do tempo em que chegávamos no Maracanã lotado, em cima da hora, e sempre tinha aquele ingresso de papel disponível pra gente comprar. Lamentável!!! ❤

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