Fluminense 1 x 1 Sporting Cristal (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, não foi a classificação que gostaríamos de presenciar, mas foi a classificação para as oitavas de final da Libertadores. De antemão, quero falar das vaias ao final da partida, que são a expressão legítima de uma torcida que foi sugestionada a querer muito mais do que a atuação de hoje.

É preciso que se diga que grande parte das nossas dificuldades foram impostas pela atuação do adversário. Aquele que parecia o saco de pancadas do grupo e fez sete pontos nos últimos três jogos anteriores, derrotando o Strongest duas vezes e obtendo, em Lima, um empate contra o poderoso River Plate.

Houvesse o grupo seguido o que parecia a toada encomendada, o Cristal teria perdido para o Strongest em La Paz e já teríamos entrado classificados para as oitavas no jogo de hoje. O que não muda o fato de termos sido os únicos a derrotar o Cristal em Lima, o jogo que, desde o início da fase de grupos, chamei de estratégico. E foi esse o jogo que garantiu, não só nossa classificação no chamado grupo da morte, como a primeira colocação.

Tirando a parte da questão estratégica, com o Fluminense chegando à última rodada jogando por um empate, não gostei da ausência de Martinelli no meio de campo. Assim como a de Ganso, nesse caso uma ausência presente, ou uma presença ausente, que comprometeu severamente o nosso jogo. Nossa construção de jogo acabou comprometida pela falta de articulação dos meias tanto na saída de bola quanto na fase ofensiva.

Sem Martinelli, o próprio Ganso se ausentou dessas movimentações, sobrecarregando os defensores e nos tirando o que talvez seja a nossa maior arma, que é a quebra das linhas adversárias com a troca de passes curta e em evolução, que muitas vezes se torna perigosa para nós mesmos, razão pela qual tem que ser próxima à perfeição, como já foi em outros tempos.

Diniz, na coletiva, atribuiu tal dificuldade às opções táticas do adversário, que viu na marcação pressão uma possibilidade de ganhar o jogo. Eu vejo o problema na escalação e no posicionamento de Ganso. Como quem está no campo e no dia a dia, Diniz deve ter mais razão do que eu, mas, na minha falta de razão, vejo que o jogo, embora nenhuma facilidade fosse esperada, poderia nos ter sido mais favorável, ainda que tenhamos estado, ao longo dos 90 minutos, mais próximos dos gols e da vitória.

Fato é que, tudo isso contabilizado, temos um saldo de razoável para bom no primeiro semestre. Um saldo que só pode ser apurado se confrontado o que fizemos com a expectativa do que poderíamos fazer. Estamos, afinal, falando do time que foi considerado por muitos, embora eu tenha a isso minhas restrições, o melhor da América do Sul, ainda que não sem méritos para isso.

Vivemos uma rotina de desfalques perturbadora, mas mesmo essa rotina nos serviu como indicador de que o planejamento tinha buracos, assim como de que a própria política do clube não é favorável a maiores ambições, razão pela qual precisa ser mudada.

AComo já manifestei na coluna de ontem, vejo bons movimentos no mercado e até dentro do elenco que podem transformar o atual azedume de parte da torcida, no qual incluo meus sentimentos, em uma renovação das ambições. É preciso que se compreenda que o Fluminense é o Fluminense, uma afirmação a que não há mais nada a ser acrescentado. O que se espera aqui são títulos importantes, o que não mudou nos últimos onze anos, mesmo na ausência deles.

Ao contrário, tal ausência, com a ressalva do bom senso, é um reforço a tal aspiração.

Sabemos que, ainda que trazendo o bom senso novamente ao centro da questão, os títulos são possíveis, mas não podemos mais conviver com decisões erradas, que serão cada vez mais cobradas pela torcida, muito mais que os resultados. É isso que, mais do que qualquer coisa, está em questão.

Saudações Tricolores!