Da Bolívia para a Arena (por Claudia Barros)

Fugir da zona de conforto. Quebrar a barreira da acomodação. Sair do quadrado.

Acho que foi isso que Diniz fez em La Paz.

Nossa mestra Eliane Gonçalves já dizia, como sempre diz, que a adaptação na altitude leva, pelo menos, três dias. Chegamos com menos tempo do que isso.

Se não houve tempo hábil para treinar, se nosso elenco principal requer cuidados, se havia necessidade de descansar os corpos e mentes de jogadores estruturais do time, o que fez Diniz?

O mesmo que eu teria feito, com o perdão da ousadia… rs

Diniz saiu do quadrado e mandou a campo um time jamais visto junto, um time repleto de jovens que devem ter visto ali, cruelmente na altitude de La Paz, o desafio mais divertido e instigante das suas vidas.

Com Isaac, Esquerdinha, Kauã Elias, o técnico tricolor divertiu a torcida ao vê-los em campo e, ao mesmo tempo, divertiu os jogadores que, ao embarcar para a Bolívia, riam de canto a canto da boca.

Antes de mais nada, não há o que se analisar tática ou tecnicamente. Diniz acertou na equipe que levou à Bolívia, assim como Diniz acertou na entrevista que deu após o jogo.

Jogar em condições de ar rarefeito, pressão para oxigenar o cérebro e as derivações dessa combinação _ dor de cabeça, tontura, desorientação _ transforma o esporte em outra coisa, menos em futebol, como afirmou Diniz. 

Jogar futebol sem noção de tempo de bola, de velocidade em relação à densidade do ar e até mesmo sem domínio sobre os movimentos do corpo, é um crime. Desculpem-me aqueles que falam que faz parte e que para ser campeão da Libertadores tem que sublimar a realidade da altitude.

Para mim, jogar a quase quatro mil metros acima do nível do mar mata o futebol, já que não existe; mata a capacidade técnica e física dos jogadores; mata qualquer lógica associada.

Eu vi Arias errando passes e tempo de bola de forma humilhante. 

Eu vi os garotos afoitos e sem a menor noção de controle respiratório. 

Eu vi o time do The Strongest chutar 11 vezes a gol porque é disso que eles vivem.

Eu vi o Flu não dar um chute sequer a gol porque a bola tomou todos os rumos possíveis, menos o da trave adversária.

Eu vi Fábio iluminado e seguro, usando toda a experiência dos inúmeros jogos que já fez na altitude.

Eu vi ousadia e coragem em Fernando Diniz.

Eu só não vi futebol. A ponto de ter ficado com uma vontade absurda de começar a ver os garotos que subiram o morro boliviano descer para jogar no nível do mar, no nível da técnica e do talento de Xerém. 

Contra o Corinthians, pela oitava rodada do Brasileirão, o jogo, a história, as chances e os protagonistas são outros. E nessa, sou mais Diniz! 

Foto: CB