Tese sobre fiasco do Flu em Fortaleza (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, creio que há uma coisa com a qual todos nós concordamos. O Fluminense escapou de uma sova ultrajante ontem em Fortaleza, como se já não fosse no mínimo constrangedor o passeio que levamos de, é verdade, temos que reconhecer, um dos melhores times do Brasil na atualidade.

Aliás, antes de discorrer sobre minha tese acerca do acontecido tenho que aplaudir o Fortaleza pela grande exibição de ontem, pela qualidade do atual elenco e pela longevidade do projeto Vojvoda. Adianto minha opinião de que a maior responsabilidade pelo fiasco de ontem foi o conjunto da obra proposta e realizada em campo pelo adversário. Houvesse o Fluminense entrado com o time titular, ainda assim teríamos um jogo, ainda que mais equilibrado, duríssimo.

Se o Fortaleza fez a sua parte com méritos de sobra, o Fluminense também teve deméritos apresentados em cores vivas no gramado maltratado do Castelão. Aliás, o gramado também entra nessa equação, não como fator determinante para o andamento da partida, mas, possivelmente, no planejamento tricolor para a sequência de jogos por três competições.

Transporto-me, agora, para a cabeça da comissão técnica do Fluminense. Encerrada a partida contra o Athletico, com vitória, há uma semana, no Maracanã, todos os passos a serem dados levam ao jogo de terça contra o River, e é preciso que compreendamos o tamanho desse jogo. O Fluminense joga uma verdadeira decisão envolvendo sua classificação para as oitavas da Libertadores. Uma vitória nos leva aos 9 pontos, tendo o Cristal como adversário, no Maracanã, na última rodada, com altíssima probabilidade de chegarmos aos 12 pontos, uma marca com a qual muito dificilmente não nos classificaríamos, sem contar com a possibilidade de obter pontos em La Paz e em Buenos Aires, buscando ficar entre os times de melhor campanha na fase de grupos, o que nos garantiria decidir as fases de mata-mata em casa. Qualquer outro resultado diante do River nos deixaria em situação perigosa, haja vista essas duas mesmas partidas em La Paz e Buenos Aires.

Diante disso, a comissão técnica olha para a classificação e para a tabela do Campeonato Brasileiro. Lá está o Fluminense em primeiro lugar, tendo pela frente o Fortaleza, no Castelão, e o Vasco, no próximo sábado, no Maracanã. Se perdemos para o Fortaleza e vencemos o Vasco, resultado com altíssima probabilidade, chegamos a 9 pontos em quatro rodadas. Isso significa 75% de aproveitamento, que é aproveitamento de campeão.

Então, eu penso: eu não vou colocar meus principais jogadores para enfrentar o Fortaleza, lá no Castelão, a três dias de uma decisão. Eu vou enfrentar um adversário fortíssimo, que pode me vencer mesmo eu estando com minha melhor formação, num gramado ruim, contra um time que marca justo, joga intenso e com muita velocidade. É quase que uma forma de suicídio. Eu vou minar os jogadores mais velhos e ainda vou correr o risco de perder alguém com leisão. Então, eu vou descartar esse jogo. Vou com um time alternativo e, se os Deuses estiverem do nosso lado, de repente ainda consigo um bom resultado.

O problema é que se eu não vou colocar mais da metade dos meus titulares contra o Fortaleza, eu vou deixar meu time principal dez dias sem jogar e isso eu não quero, porque eu preciso manter o ritmo desse time. O que fazer então? Bota o time titular contra o Paysandu.

Eu não sei se isso faz sentido para vocês, tampouco estou afirmando que tenha sido essa a visão da comissão técnica, mas faz todo sentido para mim. Agora, se foi pensado dessa forma, ninguém vai vir a público prestar tais esclarecimentos, porque choveriam pedras e impropérios vindos dos quatro cantos do planeta, non é vero?

E vamos ao jogo, propriamente dito.
Quando olhei a escalação, confesso que já tomei um susto. O Fluminense escala três atacantes, que não são propriamente marcadores, tendo entre eles o Alan, que eu nem pensava que pudesse mais vir a ser escalado. Um jogador totalmente fora de ritmo para enfrentar um time intenso, talentoso e veloz como o do Fortaleza. Apenas três homens em um meio de campo com baixa capacidade de construção. O que todos nós pensamos? O Diniz é louco. Ele vai para a trocação com o Fortaleza.

Pensávamos, então, que o melhor plano de jogo seria povoar o meio de campo para termos intensidade na marcação e, ao mesmo tempo, tirarmos a velocidade do jogo, constrangendo a proposta do adversário. Pois, por incrível que pareça, o Fluminense tentou controlar o jogo da forma habitual, saindo com trocas de passes na defesa, tentando atrair o Fortaleza e encontrar espaços para que as bolas chegassem nos nossos atacantes com espaço para uma progressão rápida em direção ao gol, usando as qualidades ofensivas de JK e Lelê.
Em alguns momentos, isso até aconteceu, mas as decisões tomadas eram equivocadas e chegamos a desperdiçar pelo menos dois excelentes contra-ataques, com a defesa deles exposta. Ao mesmo tempo, nosso meio, com baixa capacidade de construção, muitas vezes era desarmado, o que gerava o que o Fortaleza mais gosta, que é a chance de contra-atacar, com espaço, em velocidade.

Para piorar, Guga fez péssima atuação e foi envolvido com facilidade por Moisés, que deitou e rolou em cima do nosso lateral, ao passo em que Alexsander tinha sérias dificuldades com Calebe pelo outro lado.
Resultado: não conseguíamos tirar a velocidade do jogo, não conseguíamos criar e ainda errávamos em profusão, oferecendo seguidas oportunidades de gols ao Fortaleza. Nossas melhores jogadas, acreditem, saíam de bolas longas metidas por Manoel e Nino. Numa delas, Nino lançou JK, que só não foi melhor em campo do que Fábio, que se livrou do marcador e carimbou a trave.

Com 2 a 1 para o Fortaleza, Diniz tirou Guga e Pirani, que também atuava muito mal, colocando Ganso e Arias no intervalo, mas, com dez minutos de jogo, era o Fortaleza quem já havia desperdiçado duas chances de gols. Na terceira, aí já era demais, Moisés fez 3 a 1.

Com mais qualidade em campo, o Fluminense ainda diminuiu com lindo gol de JK, mas não demorou para a casa desmoronar. O Fortaleza chegou ao quarto, com um verdadeiro gol de pelada, com Moisés chegando à boca da meta de Fábio com uns 10 metros de vantagem do defensor mais próximo. O Fluminense continuou corajoso, mas o adversário mais perigoso, criando, ainda, mais três grandes oportunidades de gols, agora com Diniz enchendo o time de atacante e tirando os defensores. Já era, então, mais especulação do que plano de jogo.

Em resumo, o que se pode dizer é que, se foi o que se passou pela cabeça da nossa comissão técnica, a estratégia para a sequência de jogos faz todo sentido, mas o plano para o jogo de ontem poderia ter sido menos ruim, evitando as agruras a que fomos submetidos.
Tirando tudo isso, estaremos celebrando eufóricos o saldo dessa sequência de jogos se o Fluminense vencer River e Vasco.

Classificados para as oitavas da Copa do Brasil, com a classificação muito bem encaminhada na Libertadores e com 75% de aproveitamento no Brasileiro ao final da quarta rodada. Resta combinar com o River, que, não se iludam, tenho dito isso com frequência, está seguramente, hoje, entre os três ou quatro melhores times do continente.
Saudações Tricolores!

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