Em plena terça-feira de Carnaval, enquanto muitos festejam e vivo minhas tragédias pessoais trancado, acordo, cochilo, acordo e lá está o Fluminense no olho do furacão do WhatsApp. Assim como em diversas outras vezes, pela negociação barata ou até grátis de jogadores jovens, casos de John Kennedy, Calegari e Yago.
Sinceramente, não pretendo debater potenciais técnicos, personalidades ou outras características dos atletas citados. Isso já foi muito feito nas redes sociais e pela exótica comunidade tricolor chamada de “influencers”.
O que está em jogo não é se John Kennedy é indisciplinado, se Calegari perde pênaltis ou se Yago não é tão bom quanto gostaríamos.
À mesa, a roleta demonstra que o grande problema do Fluminense é o modelo.
Brilhante sacada do escritor e documentarista Marcello Migliaccio: “O Fluminense virou uma agência de aluguel de camisas”.
O modelo não prioriza a disputa de títulos, mas a manutenção de um ambiente de falsas esperanças, que sirva de cortina de fumaça para um mafuá de negociações discutíveis que não gera lucro devido ao clube, mas certamente o faz a outras pessoas jurídicas e físicas também. Afinal, Uram, Bertolucci e Francis Melo Guedes não fazem filantropia para o Fluminense.
Há dez anos, o Tricolor vive de faz de conta, de raspas e restos, de esmolinha esportiva. Comemora quinto e quarto lugar no Brasileiro sem jamais ter sido postulante aos títulos de fato. “Oh, já fizemos muito, é o que podemos. O Flamengo tem mais dinheiro…”. Para cada rara contratação acertada como Cano e Arias, vem um lote de craques fake. Basta duas ou três defesas, duas ou três jogadas e ponto: aí estão o melhor goleiro, o melhor lateral e o melhor meia do Brasil (nem os próprios “homenageados” acreditam nisso). Ah, comemora também eliminação nas semifinais da Copa do Brasil: “Oh, já fizemos muito…”.
Se o Fluminense não tem dinheiro, por que mantém jogadores caros, sem retorno esportivo e financeiro, tais como Willian Bigode, Felipe Melo, Alan e Marrony, por exemplo?
Há dez anos, o Fluminense regularmente rifa seus jogadores mais promissores para darem vez a outros, mais velhos, mais fracos mas com contratos expressivos, que geram comissões mais gordas aos atores envolvidos.
Esse é o modelo.
Será possível que ninguém perceba que, em mais de uma dezena de vezes, os jogadores são imediatamente tachados como de cabeça ruim, de pai chato, de foco fora do clube e logo aparece uma turma na internet dizendo “Tem que negociar mesmo!”? Será possível que seja só coincidência?
Se tiver dúvidas, meu amigo que aqui me lê, fica uma sugestão a respeito de coincidência: pegue um dado, desses de jogos de azar ou sorte. A seguir, escolha uma face das seis. Um por exemplo. Então jogue o dado 12 vezes, anotando os resultados. Quando o experimento tiver dado 1 por 12 vezes seguidas, por favor me chame.
De 2015 em diante, a roda de negociações do Fluminense começou a se acentuar, até chegar a 2019, quando disparou. Basta ver os nomes contratados desde então, e principalmente onde foram parar depois que saíram do Flu. Os nomes, as idades e os salários…
Há inclusive um discurso extraterrestre sustentado pelo próprio clube, baseado em que só se ganha a Libertadores depois de disputá-la muitas vezes (uma piada ao se conferir as trajetórias de Santos, Grêmio, Flamengo e Cruzeiro na competição) e que obrigatoriamente é preciso ter muitos veteranos na equipe. Qualquer lesma sabe que o Santos de 2011 era quase um time de juniores… Enfim, tudo isso não passa de conversa no estilo “manga com leite mata” para enganar ingênuos e desatentos.
Ganhar o Carioca é sempre bom, mas hoje é inaceitável dizer que se trata de uma conquista de ponta. O Fluminense deve jogar todas as competições para vencer, ou ao menos deveria, mas é quase unanimidade que a manutenção da grandeza do clube está vinculada à conquista de títulos nacionais e e continentais. E se a preocupação fosse mesmo o Carioca, não teríamos apenas quatro títulos no século XXI.
Primeira Liga: meu respeito, comemorei, mas é uma competição morta.
Há anos, o torcedor do Fluminense é tratado como idiota pela direção do clube, seja pelos discursos estapafúrdios, pela omissão nas derrotas e principalmente pela mentira, caso do direito de voto on line que foi desprezado pela atual gestão em seu primeiro mandato, com a leniência de seu Conselho Deliberativo. E o pior é que falta senso crítico coletivo, a ponto de alguns acharem normais as sandices administrativas de um clube que, para piorar, tem um balanço de queijo suíço – cheio de furos -, ressalvado até dizer “chega”.
Por fim, mais um convite à reflexão: num clássico, o Fluminense tem um pênalti a seu favor. Seus três principais cobradores estão em campo, sendo que o oficial acertou 100% das cobranças na temporada anterior. De repente há um disse-me-disse no campo e à beira dele. Do nada, surge como cobrador um jogador que jamais havia batido pênaltis como profissional. Ele bate, perde, o time perde o jogo e, na saída, só quem fala protocolarmente é o auxiliar técnico.
Vinte dias depois, o assunto não foi explicado, mas o calouro do pênalti está sendo negociado.
E aí? Vamos jogar o dado 12 vezes para ver se conseguimos 12 resultados de face 1?
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Ao término desta redação, chega a notícia de que embora Yago tenha contrato com o Fluminense até o fim de 2024, será ou poderá ser cedido ao Bahia sem custos.
O mesmo Bahia que já faturou Kayky e Marcos Felipe.
Vamos jogar o dado de novo!
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Renato Azevedo, meu amigo de tantos anos na UERJ e uma das melhores que conheci, faleceu ontem. A vida o surpreendeu em pleno voo de felicidade com sua família e amigos.
Renato é do tempo em que eu tinha vergonha de mostrar o que escrevia, o que acabou quando passei a colaborar com o jornal do Centro Acadêmico. Foi das primeiras pessoas a me elogiar. Nunca mais parei de escrever.
É difícil comentar. Fica a foto. Meu amigo.
Sensacional!!!!!!!!!!!!!!!!!
J. Kenedy é jogador pra dar retorno esportivo e ser vendido por 100 mi. Callegari nunca foi testado na posiçao de origem, deveria ficar, é jovem. F. Melo é quem deveria ser sacado. Yago é útil ao elenco, sua a camisa e qualquer pereba custa caro, porque libera-lo barato? Vendem garotos a preço de banana e depois trazem veteranos e tentam justificar, falando que são ídolos do clube. Ganham os empresários, ganha quem leva por fora. Perdem o clube e a torcida. Ou algo muda, ou haverá desânimo geral na galera.
Meus sentimentos aos familiares e amigos do Marcelo.
Parabéns pelo excelente artigo, excelência que você consegue repetir com uma frequência rotineira.
Sem dúvida, nossos presidentes e dirigentes na última década colocaram o gigantesco Fluminense Football Club na condição de time de futebol médio, o que nunca foi e por certo deixará de ser.
O modelo de gestão do futebol que adotaram ofende o Fluminense e cada um dos seus milhões de torcedores.
Eles só não mataram a esperança.
Passarão, mais cedo ou mais tarde.
O Fluminense voltará a brilhar.
Ocupará seu lugar.
Um abraço