Tinha acabado de chegar do trabalho, almocei e tirei um cochilo, coisa de quarenta minutos. Mal acordei, tinha uma mensagem do André Horta e outra do Gonzalez, com áudios e textos. Nem precisei conferir para saber o óbvio: havia alguma besteirada no mundinho Fluminense na internet. Mundinho mesmo, infelizmente composto em grande parte por picocelebridades em busca da fama ou pior: das que se consideram muito relevantes para o cenário do clube.
Li e ouvi os amigos, confirmei minhas expectativas. Uma das vantagens de ser velho é essa: você se antecipa e não se surpreende à toa. Assim, meu prato tricolor da tarde de sábado foi uma revelação com ares de realismo fantástico: eu, reles mortal tricolor, deveria me submeter à avaliação de gênios das redes sociais, cravando que o jovem jogador Marrony está treinando muito bem e já se torna uma tremenda opção para o ataque tricolor. Aliás, não somente cravando mas também apedrejando os que questionaram tal opção, caso de nosso amigo Bruno Oliveira, que faz um trabalho muito sério no Pitaco Tricolor, e que naturalmente questiona Marrony por motivos óbvios.
Diante de tantos compromissos e problemas pessoais, confesso que num primeiro momento tive vontade de rir. Depois desisti. É que por trás dessas campanhas de ódio na internet sempre existe um componente: a canalhice. E então me pus a pensar.
O que faria anônimos, “famosos” e aspirantes à fama agredirem gente da própria torcida, em defesa veemente de um jogador que jamais mostrou qualidades para ser titular do Fluminense? E que chega a ser constrangedor para o clube em termos de referência histórica? Amigos, não estamos falando do Bambala ou do Arimatéia, mas do Fluminense, um dos clubes que mais cedeu jogadores para a Seleção Brasileira em sua história. E, para quem não conhece a história do Fluminense, nunca é tarde para aprendê-la. Só aqui no PANORAMA temos nove livros digitais grátis, somando mais de 600 páginas. Eu escrevi esses e outros 12 livros relacionados ao Tricolor. Enfim, chega de autopromoção.
Independentemente de estar treinando muito bem, e tomara que esteja mesmo, o fato é que a carreira de Marrony não o credencia hoje a ser titular do Fluminense. Sequer banco. Seus números esquálidos falam por si. Nas vezes em que entrou em campo pelo Flu, teve atuações no máximo apagadas. A quem interessa sua supervalorização num súbito, baseada em treinos e informações herméticas? Quem lucra literalmente com isso?
Não parece ter sido o caso desta vez, mas, em muitas outras ocasiões, a tentativa de impor narrativas épicas a favor de jogadores evidentemente medíocres, bem como satanizar especialmente os jogadores formados na base, acabou favorecendo transações inusitadas e duvidosas para o cofre e a escalação do Fluminense. Para quem tiver dúvidas, é só levantar quantos jogadores formados pelo Flu foram literalmente rifados nos últimos dez anos, pelos motivos mais inesperados: pai chato, não performa, está com a cabeça na Europa, vagabundo, doidão, não quer nada, enganador etc. Geralmente, com os melhores. Já as contratações diversas são transformadas automaticamente em reforços, o que sabemos não ser uma verdade: ano passado, em suas redes sociais, o Flu cansou de enaltecer nomes como os de Wellington e Cris da Moldávia…
Marrony não deve ser satanizado. E o objetivo desta coluna não é esse. Agora, parte da torcida do Fluminense tem que parar de ser pateta e de avalizar qualquer discurso oco de um ou outro com muitos likes, mas com pouco a dizer. Aliás, a internet tricolor está infestada de gente assim nos tempos modernos, algo realmente deplorável. Gente que dá risinho, faz meme e se vangloria de ter cem ou duzentos mil seguidores, mas que não resiste a meia hora de um debate sério sobre o que realmente cerca as Laranjeiras e o CT, envolvendo custos, contratos e interesses.
Torcer para o Fluminense é um ato saudável e de amor. Algo que não se deve confundir com a defesa veemente da criação de factóides e falácias que, muitas vezes, só servem para justificar a alta rotatividade de nomes duvidosos do ponto de vista da escalação do nosso time.
Robertinho, Cláudio Adão, Zezé, Tato, Washington, Ézio, Leonardo, Renato Gaúcho, Waldo, Fred, Wellington, Adriano Magrão, Alex Dias, Leandro Guerreiro, Flávio Minuano, Wellington Nem, Tartá, Tuta, Magno Alves, Roni, Agnaldo, Fábio Bala e tantos outros nomes, uns 200 atacantes, com todo respeito, foram muito, mas muito superiores ao jovem Marrony. Se depois dos super treinos divulgados pela patotinha, este jogador revolucionar os paradigmas da própria carreira, será um prazer vir aqui e reconhecer o erro de avaliação destas linhas.
Não é preciso ser uma picocelebridade da imprensa esportiva para se ter certeza disso.
Basta ter bom senso.