O Fluminense ou o ex-Fluminense? (por Paulo-Roberto Andel)

I

“Se quereis saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória”.

Uma das máximas de Nelson Rodrigues, a sentença acima foi escrita há várias décadas. Nelson nasceu em 1913. Com vinte e poucos anos, viu a espetacular equipe tricolor do fim dos anos 1930. Antes dos 40, era campeão do mundo. Aos 56, testemunhou uma avalanche de títulos por mais de uma década, que o acompanhou até a morte, em 1980.

Ao olhar para o passado, o cronista maior tinha o que contar.

E hoje?

Tricolores de 40 anos de idade olham para o próprio passado e carregam uma triste constatação: nascidos em 1982, passaram metade de suas vidas sem qualquer comemoração expressiva do Fluminense.

O que temos vivido é o Fluminense ou o ex-Fluminense?

II

Há onze anos, ao lado de Raul Sussekind, tive a honra de passar uma tarde entrevistando Gilberto Gil. Uma de suas falas mais marcantes foi sobre o então recente Brasileirão 2010.

Gil me disse da alegria e serenidade que sentiu naquela conquista, pois os anos se passavam e o Fluminense parecia que nunca mais conquistaria um Brasileiro, até que veio o triunfo. Aquilo me tocou profundamente, porque Gil é um de meus maiores ídolos e, com a delicadeza publicamente conhecida, me disse de seu medo de morrer sem ver o Fluminense grande outra vez.

Nunca me esqueci daquela tarde.

III

Os dois itens acima registram pontos de vista de notáveis personagens do Fluminense, e chamam a atenção para uma questão desagradável, porém necessária eu nossos debates: o Fluminense de hoje é o Fluminense de sempre?

O Fluminense do século XX é um dos maiores times do mundo, carregando tatuagens e varizes como todos os outros.

O Fluminense do século XXI, salvo o período entre 2010-2012 e momentos esparsos, caminha para 25 anos da nova era sequer fazendo sombra para o do passado mais distante.

É maquiado com uma política tosca de marketing nas redes sociais, memes estúpidos na página oficial do clube no Facebook, a hiper valorização de situações e jogadores comuns – a ponto de se comemorar título de posse de bola, de engajamento na internet e de maior festa de todos os tempos… Tudo isso com um exército de internautas canalhas que, a troco de quê não se sabe – mas muito se desconfia -, sabotam ostensivamente a memória e a história do Fluminense.

Às vezes, o presidente do clube dá uma entrevista coletiva protocolar, recheada de perguntas levanta-bola e respostas que lembram o melhor de Franz Kafka, misturado com Monteiro Lobato no Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Fica o apelo de quem talvez não tenha muito tempo pela frente: o ex-Fluminense, calhorda e hipócrita, não pode vencer o Fluminense.

IV

Sobre a eliminação de ontem, quase tudo já foi dito mas algumas reflexões se fazem necessárias.

Seria possível imaginar competitividade com a escalação de um jogador que não atuava há meses, caso de Wellington, e que nunca fez três partidas boas com a camisa do Fluminense?

Seria possível chegar à final da Copa do Brasil com um ex-goleiro que joga com o nome, endeusado por defesas simples, ganhando pano passado por dezenas de falhas e frangos, caso de Fábio? Catorze gols em oito jogos…

O que poderíamos esperar de Willian Bigode na decisão?

Ainda será preciso falar alguma coisa sobre essa farsa grosseira, incompetente e dispendiosa chamada Felipe Melo?

Torcer não é abanar o rabo, exceto para os que tenham vocação para tal. Os quatro jogadores acima foram criticados por meses a fio neste espaço. E agora não adianta mais latir na arquibancada.

V

Não se trata de fazer terra arrasada, mas é preciso reconhecer os inúmeros problemas e o fracasso. Sim.

O dinheiro gasto no começo do ano não foi para ganhar um Carioquinha e disputar o que desse.

Ao contrário do que sempre é propagado pelas Marias Gestão, mesmo muito abaixo do rival em termos financeiros, o Fluminense não é um coitadinho. Seu orçamento é um dos maiores do Brasil. Sua dívida também. Seus gastos tresloucados, também.

Somados, Fábio, Felipe Melo, Wellington e Willian Bigode podem custar mais de 40 milhões de reais em dois anos.

As eliminações na pré-Libertadores e na Sul-americana foram patéticas.

A eliminação de ontem na Copa do Brasil é um misto de vergonha e atestado de incompetência. O Corinthians, que não tem compromisso com as agruras tricolores, passou seu trator como quis e conseguiu a vaga com todo merecimento.

VI

O que explica que, em tantos jogos decisivos, o Fluminense entre paralisado em campo? Como se não tivesse o objetivo de vencer?

VII

Deixar de lutar contra o rebaixamento para ser quinto ou sétimo não é melhora significativa de coisa alguma, mas apenas consolação.

Chega dessa calhordice!

Quem lucra às custas desse discurso bovino de que o Fluminense é um coitadinho?

VIII

Agora é tentar assegurar a classificação na fase de grupos da Libertadores. Tentar, porque garantida não está.

De toda forma, os calhordas vão tratar o Carioquinha como se fosse o título dos títulos, a Champions. De onde menos se espera é que não vem nada.

É óbvio que foi bom vencer o rival, mas não dá para fingir que estamos em 1969 ou 1984. Os tempos são outros.

IX

O assassinato da reputação de jogadores promissores, como Marcos Felipe e Martinelli, por conta de fascínio pessoal por ex-jogadores como Fábio e Felipe Melo é, sem dúvida, a fotografia perfeita da mediocridade arrogante que reina nos fóruns de discussão sobre o Fluminense.

A bola pune a arrogância.

X

Qualquer coisa que passe de um jogo de despedida para Thiago Neves pelo Fluminense deve ser tratada como o que é: crime de lesa-pátria contra as finanças tricolores.

XI

O EX-FLUMINENSE NÃO PODE VENCER O FLUMINENSE!

4 Comments

  1. O FLAMENGO JÁ GANHARA E PODE ANTECIPAR A VOLTA OLÍMPICA POIS O DINIZ NOS DERROTARA AO EXIBIR – SE SEM OUTRA ALTERNATIVA OU ESQUEMA A DEIXAR O FOFÃO FÁBIO UM EXPERIENTE ENTREGAR O JÔGO AO MOSQUETEIRO…ABERTO A APOSTAS…LAMARTINE BABO OUVIREMOS DE NÔVO…

  2. E o MB não se cansa das armações com veteranos que ninguém mais quer e ele contrata e (ex)jogador, empresário, e diretoria levam o seu por fora, o Flu paga e a torcida esperneia em vão: vem aí Tiago Neves. Os próximos serão Rivelino, Samarone e Pintinho.

  3. Suas colocações são pertinentes, sou do tempo em que ganhávamos títulos todos os anos, tínhamos mais títulos e vitórias do que os outros times cariocas, hj nos contentamos com o fato de não cairmos pra segunda divisão, a escolha do Diniz ontem foi infeliz, gostaria que alguém me explicasse o porque do Yago Felipe não jogar, parabéns pelo texto, saudações tricolores.

  4. Os maiores últimos títulos do Fluminense é o número de ingressos vendidos para determinada partida.
    Chovem postagens em redes sociais comemorando número de venda de ingressos, como se isso fosse mais importante que título.

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