Abel Braga foi atirado na cova dos leões.
Em mais uma atuação sofrível contra o Inter no sábado, que culminou em mais uma derrota, a torcida explodiu e ofendeu fortemente o treinador.
Não que o próprio Abel não tenha contribuído para a avalanche que se formou, mas pode ter certeza que ele é mais vítima do que algoz.
Primeiramente, Abel foi contratado. Ele não bateu na porta pedindo emprego, muito pelo contrário, chegou com alto salário e status de ídolo. Após sofrermos no ano passado com Roger Machado e posteriormente Marcão, mais uma vez de bombeiro, a diretoria anunciou o técnico como se estivesse trazendo um dos melhores disponíveis no mercado.
Quem vende ilusão, colhe tempestade.
Abel não veio por ser ídolo ou capacitado, mas sim por ser mais fácil convencê-lo a aceitar situações que estão distantes do campo, da tática e da meritocracia. No balcão de negócios tricolor existem muitos interesses acima do Fluminense. Há tempos.
A verdade é que Abel não tem mais condições. Não conseguiu montar uma equipe até agora e, pelo andar da carruagem, parece praticamente impossível que consiga. Sem padrão tático e modelo de jogo, o Flu vai vagando pelas competições com desempenho sofrível e resultados terríveis.
O time nunca jogou bem, tirando os jogos da final do Carioca e alguns do time alternativo. Somente o 4-4-2 losango, que era o esquema reserva do segundo time, teve algum brilho no fraco campeonato estadual.
Fomos desclassificados na pré Libertadores por um time fraquíssimo, jogando de forma covarde. Se não ganharmos o próximo jogo da Sula, estamos praticamente desclassificados, afinal fomos goleados de forma impiedosa pelo Junior em Barranquilla, novamente jogando com desempenho fraco e com a mesma postura acuada.
No Brasileirão, o Flu tem um gol em três jogos, sendo este contra, marcado por Paulão. Na Copa do Brasil, estreamos muito mal contra o Vila Nova.
Abel é um senhor com setenta anos de idade, uma história de muito trabalho e uma ferida que o machucou demais. O futebol tem uma rotina extremamente estressante de treinos, viagens, estudos e jogos. Além de todo o esforço, ainda existe a cobrança, a intolerância e uma torcida machucada por tantos anos de administrações fracassadas que estão, há muito tempo, dilacerando a instituição.
Não é só uma questão de estar desatualizado taticamente. Infelizmente, assim como está ocorrendo com Fred, resta nítido que Abel não tem mais condições de vivenciar as exigências que a loucura do mundo da bola impõe. O desempenho do time e as várias atitudes do treinador demonstram desconexão com a realidade. Declarou que o preparador de goleiros é quem escala o arqueiro titular. Disse que se soubesse que ia perder contra o Inter, teria poupado. Perdeu-se naquele episódio em que debochou da invasão que ocorria no rival.
Todos esses fatos causaram espanto, afinal ele sempre foi um treinador firme em suas decisões e um homem pacífico em seu cotidiano.
Abel identificou que existem problemas, mas mostra não saber identificá-los e muito menos resolvê-los. Por mais que alguns tentem encontrar mérito e padrão no seu trabalho, o abismo tático salta aos olhos de quem sofre assistindo o Tricolor.
Por não ter mais condições e pelo equívoco que foi sua contratação, Abel é mais uma vítima da política do balcão de negócios que impera na atual administração. Não é uma prática que se iniciou nessa gestão, mas nela se desenvolveu, ganhou força e uma importância assustadora. Eles precisavam de um treinador fantoche, de um ídolo, um senhor boa praça que formou seu caráter no clube e se encontra no final de carreira. Ele, com aquela conversa no pé do ouvido, iria aceitar as imposições financeiras que tanto interessam aos diretores e empresários. Vemos isso na insistência com alguns jogadores como Cris Silva, Samuel Xavier, Wellington e Bigode. E também em atitudes que peitam a meritocracia e o bom senso, como nos casos de Marcos Felipe e Nathan.
Na teia dos interesses, Abel se encontra mais perdido do que cego em tiroteio. Em desespero, tenta jogar no desgaste a culpa de todo o fracasso. Mas, pense naquilo que rezam como verdade. A história é que desfazem das nossas joias a preço de banana com a preocupação de pagarem altos salários para um elenco classificado como forte. Não era o momento dessa qualidade se impor? Mais uma cilada sem explicação do balcão de negócios tricolor, que também tem habilidade ímpar na arte de vender sonhos.
Será que um treinador estrangeiro de personalidade, como Abel Ferreira e Vitor Pereira, por exemplo, aceitaria essas condições financeiras? Tanto que Abel Ferreira não quis saber se Felipe Melo e Bigode eram ídolos da torcida. Viu que seu time precisaria de intensidade na temporada e dispensou os dois. Adivinha quem os contratou?
No próximo jogo, Abel será lançado na cova dos leões. Mais uma vez estará exposto às ofensas e agressões. Além de vítima e fantoche, ele também foi contratado para ser escudo.
O salário alto e a tentativa diária de preencher o vazio que se abriu com o falecimento do filho, continuam fazendo Abel caminhar. Mas ali, na beira do campo, ele está exposto e sem reação. Praticamente nocauteado e nas cordas, o ídolo vai se desfazendo diante do torcedor que vive um misto de dor e ódio. Mas se ele desafia os princípios básicos do futebol é porque tem o aval de quem controla o dinheiro do clube. Mais do que isto: Abel trabalha em função de interesses que muitas vezes vão de encontro aos do Fluminense. Mais um ano praticamente jogado fora por incompetência calculada.
As escolhas estapafúrdias de Abel estão ancoradas na falta de planejamento de uma administração que enxerga a instituição Fluminense como uma laranja. Querem o suco e estão deixando o bagaço. Nesse sentido, Abel é instrumento.
Chegou o ponto final. É preciso preservar o ídolo e a pessoa Abel Braga. Infelizmente, não dá mais. É hora de curtir seu dinheiro, Abelão. Que lindo! Vá tomar seu vinho e tocar seu piano. Você merece!