Il Fluminense sulla strada (por Paulo-Roberto Andel)

Nem são seis horas da manhã em pleno Sábado das Campeãs – melhor dizendo, hipotético – e já estou acordado. Dormi pouco, infelizmente.

Dentro de algumas horas irei para Volta Redonda ver o Fluminense. Há anos não vou lá.

Trata-se de um lugar especial para mim. Gosto da cidade, conheci o estádio quando ele ainda tinha tábuas em vez de concreto na arquibancada e, por fim, é um lugar que marca o fim e o início de grandes amores.

Vai ter Fluminense, com grande chance de ganhar a Taça Guanabara, um prêmio valioso e cada vez mais raro em nossas prateleiras, desde que certa militância política do clube decretou que só a Libertadores interessa – ou seja, em tais mentes primitivas, nossos quase 120 anos de história mundial não fazem sentido. Tudo bem: ontem mesmo um rapaz passou lá no Sebo X e, falando de futebol, disse que Pelé seria um jogador mediano hoje em dia. Sigo Renato Janine Ribeiro que, parafraseando outro escritor, disse algo como “Todos têm direito à opinião; o que ninguém tem direito é a criar seus próprios fatos”.

Não importa que seja efêmera ou ilusória: como é boa essa sensação de unir Fluminense e uma pequena viagem, a estrada, o diferente. Volto aos doze ou treze anos de idade, quando era maravilhoso ir à Rua Bariri, a Ítalo Del Cima ou Conselheiro Galvão – tudo perto, mas longe no referencial de uma criança.

Deley, Gilberto e Mário. Afonsinho, Deley e Mário. Todos jogavam demais.

Vamos eu, o Raul e o Gonzalez, talvez mais alguém. Espero que o Luna vá, o Marcelão, o André Horta, quem mais puder. O Caio Barbosa vai sempre, está em todas. Cada um, do seu jeito, persegue o Fluminense há muito tempo. São muitas vitórias para contar. Claro, também perdemos. Quem está no jogo enfrenta tudo.

Agora já é dia claro e estou ansioso. Só o futebol dá essa sensação boa de voltar aos dez ou doze anos de idade. Contar as horas para ver o time. Guardar para sempre aquele ritual de quinze para as cinco no outro Maracanã: um mar de bandeiras tricolores em fila indiana subindo para as arquibancadas, prestes a explodir uma nuvem gigantesca e fascinante de pó de arroz, que levava minutos e minutos até se dissipar.

Tudo isso é só para dar um chute na bunda da empáfia oca, da verborragia pernóstica e do academicismo de latão que, muitas vezes por exagero, engessa as percepções e debates sobre futebol, ainda que o esporte seja um objeto de foco científico. O fato é que hoje eu não estou nem aí para falar ou pensar em gestão empresarial, intensidade, profundidade, dinâmica, marcação aguda e outras orelhadas. Meu único objetivo é remoçar por algumas horas e buscar meu velho sonho de criança: ir atrás do Fluminense, perseguir o Fluminense e viver o sonho. O jogo, o próximo jogo, as moedas juntadas para comprar o próximo ingresso, a economia de dois lanches para comprar o próximo ingresso, o tênis novo vai esperar porque preciso comprar o próximo ingresso.

No fundo, bem no fundo, quando atravesso duzentos quilômetros para ver o Fluminense, é para minimamente sentir a mão do meu pai puxando a minha, sonhar com a pizza no fim de domingo com minha mãe, esperar os gols do Fantástico, a mesa da TVE e, à meia-noite, a reprise do jogo do Maracanã. É para me sentir vivo. Por favor, me deixem em paz com meu romantismo quase inútil e minha Terra do Nunca – não é pecado suspirar pelos melhores momentos passados na vida, mesmo que eles estejam distantes demais. Eu não sou vigia da poesia alheia, cada um sabe de si.

É só uma Taça Guanabara, que no máximo garante vantagem nas semifinais do Carioca? É só um jogo longe contra uma equipe respeitável, mas modesta? É só um campeonatinho? Não. É Cristóvão fazendo um golaço depois de driblar Manguito, é Paulo Goulart defendendo o pênalti de Zico, é Cláudio Adão fuzilando de primeira depois da chilena de Robertinho, é Assis carregando a bola como o John Coltrane que era dos gramados. Edinho com suas arrancadas fulminantes para o título. Rubens Galaxe acertando uma porrada no ângulo. Zezé arrancando pela esquerda. Me deixem em paz com minha infância insuperável.

Fica assim combinado. É duro demais ser órfão, mas o Raul vai de irmão mais novo, o Gonzalez de mais velho, cada um me dá a mão e eu continuo a procurar pelo Fluminense, num sonho que, perto de meio século, parece interminável. Essa taça tem que vir, porque estamos nas águas de março de São Tom Jobim, porque neste domingo é aniversário do Jocemar e ele merece essa vitória, porque na quarta que vem é Pasión Libertadores e a confiança aumenta.

Dez para as sete da manhã. Vamos à estrada. Tem Tricolor no pôr do sol.