Horas antes de um jogo contra o Volta Redonda pelo Campeonato Carioca, parte da torcida do Fluminense vive uma contradição: ao mesmo tempo em que despreza a competição e a considera inútil, dela aproveita os bons resultados recentes para celebrar uma ascensão do time.
Vencemos seis vezes seguidas, somos líderes do Carioca e isso é ótimo para quem ama o Flu, evidentemente. Contudo, não se pode brigar com os fatos: das seis partidas vitoriosas, cinco foram contra quase ninguém e praticamente por osmose.
Muito longe de desprezar os adversários, mas sim constatando a triste realidade econômica dos times do Rio, especialmente os de menor investimento, incapazes de fazer alguma frente razoável. É ótimo ser líder, mas seria bem melhor vencendo equipes realmente competitivas e mostrando futebol de campeão.
No modelo adotado desde 2020, o Fluminense era um time pragmático e reativo. Embora não tenha conquistado absolutamente nada, o quinto e sétimo lugares no Brasileirão em 20/21 foram celebrados como verdadeiros títulos. De quê? Ninguém sabe explicar.
Tendo feito diversas contratações para a temporada 2022, o fato é que o Fluminense até agora não se encontrou. Ninguém em sã consciência acredita que o futebol mostrado neste ano seja suficiente para conquistar o título brasileiro ou da Copa do Brasil. Apesar de todo o oba-oba ufanista, o que faremos contra o Millonarios nas próximas duas semanas é disputar a repescagem da Libertadores, e não é nenhuma vergonha falar isso pois é fato. Se conseguirmos superar o time colombiano e, a seguir, o paraguaio Olimpia, aí é que ingressaremos na fase de grupos da competição.
No estranho revezamento praticado por Abel Braga, fica mais a impressão de tentar administrar o grupo tricolor – cheio de veteranos – do que propriamente ajustar uma escalação base. Além de confundir os torcedores, sugere que alguns “reservas” deveriam ser “titulares” e vice-versa.
Vejamos o provável time para o jogo de logo mais: Marcos Felipe, Calegari, Manoel, Luccas Claro e Pineida; Wellington, Nonato, Ganso e Nathan; Arias e Cano. Ok, Marcos Felipe é titular e só a insensatez o barraria para terça. Luccas Claro foi titular absoluto em 90% dos jogos de 2021. Nathan veio como a mais promissora das contratações para esta temporada, mas até agora não teve a devida minutagem em campo. Arias e Cano têm mostrado que deveriam ser titulares. Ganso, que causa debates pela simples citação de seu nome é, no mínimo, um caso a se pensar sobre seu aproveitamento.
O jogo de logo mais é mera ratificação ou não de uma liderança que, infelizmente, pode ser bem enganosa para os olhares menos clubistas. Qualquer que seja o resultado, o Fluminense continuará no topo do enfraquecido Carioca. Agora, este sábado sugere que o jogo da próxima terça-feira terá gente em campo jogando com o nome ou abrindo as cortinas do passado, enquanto dois ou três jovens de Xerém se matam fisicamente para dar algum equilíbrio à equipe. Uma vitória muitas vezes serve para tirar do armário os idiotas da objetividade com sorrisos alvares, sentenciando “Vocês torcem contra: estamos vencendo, está tudo bem”. Na verdade, torce contra quem sobrepõe o achismo particular aos fatos expostos a olho nu.
Resultados são sempre importantes, mas partidas vencidas sem qualidade costumam cobrar a conta antes dos momentos decisivos. Que o diga o Fluminense na Libertadores 2021, uma lição que já deveria ter sido aprendida. Enquanto isso, seguimos torcendo com um pé na esperança e outro no ceticismo. Por enquanto, somente por enquanto, o sonho parece bem melhor do que a realidade. Oxalá a equação seja invertida.