Amigos, amigas, eu vou dedicar minha primeira coluna de 2022 a falar exclusivamente de futebol. Já deixo prometido para a próxima falar sobre a política tricolor, não a eleitoral, que ainda vai ficar para mais tarde, mas a política em seu sentido mais nobre, que é o conjunto de decisões, diretrizes, estratégias, escolhas e ações em curso, assim como os caminhos que considero mais apropriados para seguirmos, com destaque para o aspecto econômico-financeiro.
Eu tenho estado com o dedo coçando nas últimas semanas, desde que começaram a chegar os novos contratados ao Fluminense, mas nenhuma análise pode ser levada muito a sério olhando somente para a porta de entrada. Tenho estado com os olhos atentos à porta de saída e considero como única perda até aqui a saída de Abel Hernandez, que nem chega a ser uma perda sensível para o elenco, até porque temos a chegada de Germán Cano, que se aproxima muito mais de um perfil fadado a brilhar no comando do ataque tricolor.
O futebol brasileiro tem hoje três grandes forças consolidadas, que parecem fadadas a continuar assim em 2022: Dissidência, Palmeiras e Atlético MG. São clubes que contam com poderio econômico e elencos sedimentados. A grande expectativa é pelo surgimento de uma quarta força, algum player que reúna potencial para desafiar o domínio desses clubes que, nos últimos três anos, dividiram os títulos de quase todas as competições importantes no Brasil e na América do Sul.
Vejo o Fluminense muito fortalecido para esse começo de temporada, até porque, até o presente momento, estamos retendo as principais peças do elenco de 2021. Acredito que Corinthians, Athlético PR e Bragantino sejam nossos adversários na luta por se apropriar do cajado da quarta força, mas vejo o Fluminense em vantagem.
Quais são nossas credenciais para tal pretensão? O Fluminense de 2021 nos fez herdar muitos pontos fortes. Temos um grande goleiro, excelentes opções para a zaga, volantes de excelente nível, um Paulo Henrique Ganso que promete fazer sua melhor temporada desde os tempos de Santos, Luís Henrique, Gabriel Teixeira e JK. Não fizemos duas temporadas diferenciadas em relação ao que vínhamos fazendo por acaso.
Ao contrário do que aconteceu em 2021, o Fluminense de 2022 se reforçou – e muito! -, não apenas fez contratações aleatórias. Vejo em Nathan e Cano duas excelentes contratações. Ambos chegam para brigar por vagas na equipe titular. Não acredito que William tenha vindo para ser titular, mas será um jogador muito útil, pois é experiente, tem qualidade e sabe fazer gols. Eu também não entendi por que contratamos dois laterais esquerdos e ninguém para a lateral-direita, mas posso imaginar algumas soluções, a começar por dar uma chance a Daniel, que tem potencial para ser a grande revelação do Fluminense nessa temporada.
Acho David Duarte uma boa contratação para uma equipe que precisará se desdobrar para cumprir compromissos em quatro competições ao longo do ano. Quanto à polêmica contratação de Felipe Melo, com seus 38 anos, considero-o um jogador de muita qualidade, que poderá ser muito útil, principalmente num esquema com três zagueiros. Não dá para cravar nenhuma bola fora, e isso é muito bom, já que no ano passado nós cravamos várias aqui.
O Fluminense se aproveitou muito bem da base que tinha de 2021 e montou um elenco que me parece apropriado para desafiar a temporada e até pleitear a conquista de títulos. Não tenham dúvidas de que diminuímos a distância para os três atuais protagonistas. E diminuímos muito.
Para mim, o grande ponto de interrogação é Abel Braga. Num momento em que os três protagonistas se rendem à evidência de que as melhores soluções para o comando técnico estão fora do país, o Fluminense faz um movimento ultraconservador. Além de buscar solução caseira, traz um técnico que teve como grande feito nos últimos oito ou nove anos levar o Inter, herdado de Coudet, ao vice-campeonato brasileiro de 2020. Sempre bom lembrar que eu apontei, durante aquela temporada, o Inter, na gestão Coudet, como o time melhor resolvido tática e conceitualmente.
Eu acredito que velho é aquilo que não se pode reciclar, transformar, reinventar e fazer evoluir. A idade de Abel é o que menos importa, mas a capacidade de compreender que não é porque foi bom no passado que será bom no presente. Houvesse o trabalho de Abel no Inter sido tão maravilhoso, por que não referendá-lo no comando técnico para 2021? Acho que perdemos a oportunidade de dar um passo mais ousado. Mesmo assim, vou torcer e aguardar, mas com uma desconfiança do tamanho do Maracanã.
A ousadia do Fluminense na formação do elenco poderia ser acompanhada da mesma ousadia na escolha do comando técnico, mas eu torço apaixonadamente para queimar minha língua. A análise, no entanto, precisa ser realista. E nós sabemos bem que as decisões no Fluminense não são condicionadas exclusivamente por critérios técnicos ou estratégicos. De qualquer forma, o elenco para 2022 anima.
Estou ansioso para ver esse Fluminense em campo, esperando ver acertos e boas propostas de jogo já nas primeiras partidas da temporada.
Saudações Tricolores!