O que de positivo e negativo nessa versão 2021 do Fluminense (por Marcelo Savioli)

Analisar a temporada 2021, ora encerrada, do Fluminense é uma tarefa mandatória e cheia de armadilhas. Como eu gosto de tarefas desafiadoras, vou me aventurar nesse projeto e, desde já, peço desculpas por eventuais equívocos. Eles são inerentes ao ofício e quem não quer se arriscar a cometer erros é melhor procurar outra ocupação, principalmente quando se trata de Fluminense.

O gol do Bragantino, marcado no finalzinho do jogo contra o Inter, deu cores mais verdadeiras ao desfecho da campanha tricolor no Campeonato Brasileiro. O Fluminense não fez por merecer uma vaga direto na fase de grupos da Libertadores, tampouco fez por merecer estar entre os seis melhores do país. A sétima posição teve um caráter mais realista na representação do que apresentamos na competição.

O Fluminense do Brasileiro que ficou para análise foi o de Marcão. Um Fluminense que oscilou nos resultados, mas esteve sempre a bordo da mediocridade. A mediocridade foi, aliás, nossa marca registrada no Brasileiro. Um time que não apresentou absolutamente nada conceitualmente e que flagelou nossas almas com exibições pouco inspiradas, com enorme apreço pela retranca, sempre deixando a impressão de que nunca treinou suas ações ofensivas, sempre, exceto em uma ou outra jogada de bola parada, aleatórias.

O futebol do Fluminense, quinto colocado em 2021, não evoluiu em nada. Esteve, na verdade, aquém do próprio Marcão. Se alguma coisa chegamos a apresentar, foi na “Era Roger Machado”, quando apresentamos evolução lenta e gradativa, não em direção a algo novo, mas ao que tivemos de melhor na temporada passada. No que regredimos com Marcão, que dessa vez não aprovou, não foi capaz sequer de deixar um único traço de sua assinatura em um time modorrento.

Apesar de tudo isso, o Fluminense conquistou resultados dignos e condizentes com seu tamanho. Chegou às quartas de final da Libertadores e da Copa do Brasil, foi à final do Flamengão, onde fez uma apresentação deplorável no jogo decisivo, e chegou em sétimo no Brasileiro, conquistando o direito de, no ano que vem, disputar a pré-Libertadores.

Se não evoluímos em qualidade do elenco, se não evoluímos em agregar valores e conceitos ao nosso futebol, contraditoriamente tivemos o melhor ano, em termos de resultados, desde 2012, ano em que nos sagramos tetracampeões brasileiros.

A que devemos atribuir os resultados? Talvez às travessuras do Gravatinha, talvez às defesas milagrosas de Marcos Felipe em momentos críticos. A que devemos atribuir um ano estéril? Decisões erradas nas contratações, decisões erradas ao longo e ao final da temporada passada, que nos privaram de peças importantes, contusões seguidas de Gabriel Teixeira, ao acidente ocorrido com Ganso, que nos tirou uma referência técnica num momento promissor, aos equívocos incontáveis nas escalações desde Róger Machado.

Vou deixar para outra ocasião qualquer tipo de comentário acerca do porvir, para não me alongar demasiadamente, porque é preciso também avaliar o que aconteceu fora de campo. Do ponto de vista estratégico, o Fluminense fez um golaço ao conseguir fazer contratos longos com os ótimos valores da nossa base. Isso nos traz boas perspectivas quanto ao aproveitamento esportivo e econômico desses garotos, embora saibamos que em ambos os casos o clube precisa fazer movimentos mais ousados no terreno estratégico, econômico e financeiro.

Terminar o ano na iminência de bater o recorde histórico em receitas, com possibilidade de redução da dívida, salários em dia e com um patrocinador master é uma ótima notícia, porém longe de ser suficiente frente ao que a conjuntura impõe de necessidade de iniciativa, inovação e ousadia ao Fluminense. Caso, evidentemente, queira voltar a ser protagonista no cenário do futebol brasileiro e internacional.

O voto online ficou como uma daquelas coisas que as pessoas dizem para alcançar seus objetivos eleitorais, mas que fazem somente se julgarem convenientes. O boicote ao projeto de revitalização das Laranjeiras, grande oportunidade para que a atual gestão pudesse deixar um legado expressivo para o clube, foi a grande bola fora. Um projeto que trazia consigo uma oportunidade real de alavancagem de marketing, financeira e econômica.

O que houve de negativo nesse último período de dois anos pode ser consertado. Não está aí, ou nos erros passados, o principal risco a que estamos sujeitos. Talvez, por ironia, o maior risco resida no que houve de positivo, porque pode-se ficar com a impressão de que o clube está no caminho certo, quando, na verdade, não há caminho, porque o Fluminense continua parado no tempo, sem avanços organizacionais, econômicos ou estratégicos.

Temos resultados obtidos no futebol a partir de políticas aleatórias e resultados financeiros amparados por receitas extraordinárias, entre premiações e transferências de atletas, rubrica que também tem tudo para bater seu recorde histórico em 2021. Não é isso que dará sustentabilidade a um clube que tem como compromisso de existência ser uma referência esportiva e organizacional para o mundo, que o diga Jules Rimet, por ocasião da entrega da Taça Olímpica ao Prêmio Nobel do Esporte.

“O Fluminense é a mais perfeita organização esportiva do mundo”

Isso não é um elogio, é um compromisso, amigas, amigos.

Saudações Tricolores!