Polaroides das Laranjeiras imortais (por Paulo-Roberto Andel)

Era o Leo pisando firme como sempre, eu precisava entregar livros em Botafogo. Fizemos o caminho de ida pelo Santa Bárbara e, tão logo descemos o viaduto, experimentamos a emoção que nos contagia desde crianças, sem a menor importância de termos quase vinte anos de diferença. Afinal, é Fluminense. Passar na porta do estádio e olhar dá uma sensação tão boa que é difícil de escrever,algo que me acompanha desde a infância.

Enquanto ele lembrava de quando comprava ingressos pelo buraquinho gradeado da bilheteria, ou de como era difícil para subir os degraus altos da arquibancada superior sendo pequenininho, eu pensava em quantos treinos e jogos da base vi com meu pai, sonhando com o dia em que o Fluminense voltaria a jogar em seu palco sagrado. Aconteceu em 1986 e, desde então, fiquei tão obcecado em ver jogos em nossa casa que lá fui até para compromissos do Botafogo, só para me sentir local.

E quando saía de Copacabana escolhendo entre o longevo percurso do 434 ou a agilidade do 435, com direito a me arrepiar vendo o grande muro grená – hoje tricolor – com o escudinho na entrada da Pinheiro Machado?

Jogos, muitos e muitos jogos. O Flu tem uma história maravilhosa em seu campo, e é duro vê-la desprezada pela escrotidão política: bravatas, promessas não cumpridas e hipocrisia. A retórica fraudulenta com o único objetivo de manter o sonho maldito do destombamento que permita aberrações como a construção de um shopping ou condomínio.

Fomos a Botafogo e voltamos. Novamente a Pinheiro Machado, agora olhando à esquerda para se deparar com o sublime, o belo, a fascinação que Laranjeiras oferece aos torcedores que sabem o que aquilo significa. Não passou de vinte segundos, mas a repercussão é aquela sensação do coração batendo mais forte. É o Fluminense.

Cem cobranças de falta de Edinho ao final dos treinos, deliciosos joguinhos na quarta-feira à tarde, a turma espiando o jogo em pé no muro, a trave contemplativa que Sérgio Santanna descreveu tão bem em sua conta. Pensar que ali pisaram muitas vezes Marcos Carneiro de Mendonça, Romeu, Tim, Didi, Waldo, Telê, Castilho, Pinheiro, o super time do fim dia anos 1960, a fabulosa Máquina e muito mais.

Para Nelson Rodrigues não se dava um passo nas Laranjeiras sem se tropeçar numa glória. Só de olhá-la vem no peito uma rajada de vitória e pertencimento. É inaceitável ver as sucessivas direções do clube mostrando desprezo à casa que inventou o futebol brasileiro, a torcida, o chefe de torcida, o ídolo, a Seleção brasileira e muito mais.

É preciso salvar Laranjeiras antes que venha um abraço de morte.

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Lucca virou o novo xodó de uma torcida que, a cada novo jogo, busca heróis e vilões para explicar vitórias pontuais, bem como o deprimente caminho dos dez anos sem títulos relevantes que se avizinha.

Respeitada a boa intenção do atacante em sua cobrança de falta na segunda passada, bem como o importante gol, vale um exercício de reflexão: se aquela infração fosse contra o Fluminense e o cobrador marcasse o gol do mesmo jeito, quantos torcedores pediriam o enforcamento do nosso excelente Marcos Felipe?

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Que venha uma santa vitória por 1 a 0 logo mais.

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