Antes do desastre atual (2013-2020 no mínimo), o Fluminense tinha passado apenas dois períodos de aridez em sua história.
O primeiro, entre 1925 e 1935, marcado pela transição do amadorismo para a era profissional, sucedido pelo time super campeão até 1941.
O segundo, entre 1986 e 1994, sucedido pelo incrível 1995, mas disputando vários títulos. A seguir, a tragédia dos rebaixamentos (em campeonatos com muito menos jogos do que os atuais) e a ressurreição lenta nos anos 2000.
O período atual, desde 2012 até aqui, significou uma era de lutas contra o rebaixamento (cinco em sete temporadas, o que nenhum grande clube brasileiro passou, nem os que caíram em algum momento), mediocridade, ausência de conquistas importantes e gestões que vivem à base de fake news, gabinetes do ódio e sentenças mofadas como “Seja sócio: é seu dever”, tudo para sustentar um carrossel de jogadores de capacidade duvidosíssima com o dinheiro da rifa de jogadores da base. Até alguns anos, havia pouca percepção desse sistema porque o Fluminense teve um ótimo patrocínio de longo prazo e, especialmente a partir de 2008, contou regularmente com grandes jogadores até 2014, quando veio a estiagem.
O mundo mudou, o futebol mudou, raros são os jogadores que atravessam duas temporadas num clube. A figura dos agentes, necessária no modelo atual, em muitas vezes é um estorvo para qualquer gestão. Em muitas situações, a subida precoce de jovens jogadores os queima e também existe a barra forçada para negociações. Porém, fica difícil explicar algumas situações apenas com essa generalização.
O que leva Grêmio, Santos, São Paulo e outras equipes a obter retorno esportivo e financeiro muito superior ao Fluminense, já que todos sofrem do mesmo jeito com agentes, subidas precoces e dívidas?
Por que todas as grandes equipes que têm os mesmos problemas financeiros do Fluminense também têm conseguido resultados melhores, em termos regionais, nacionais e continentais?
Por que, de todos os grandes clubes brasileiros, o Fluminense é o único clube que lutou cinco vezes contra o rebaixamento nas últimas sete temporadas?
Por que, de todos os grandes clubes brasileiros, o Fluminense é o único a não contar com um patrocinador master estável há seis anos?
Só nos últimos três anos, uma lista (provavelmente incompleta, colaborem por favor com os nomes faltantes) dá o tom da montagem de elenco do Fluminense. Façamos uma avaliação:
1) Agenor
2) Rodolfo
3) Kelvin
4) Ewandro
5) Orinho
6) Felippe Cardoso
7) Caio Paulista
8) Danilo Barcelos
9) Egídio
10) Nathan Ribeiro
11) Paulo Ricardo
12) Airton
13) Zé Ricardo
14) Pablo Dyego
15) Robinho
16) Romarinho
17) De Amores
18) Luan Peres
19) Bryan Cabezas
20) João Carlos
21) Júnior Dutra
22) Kayke
23) Lukão
24) Yago
25) Guilherme
26) Bruno Silva
27) Henrique (Cruzeiro)
28) Maranhão
29) Peu
Estendendo um pouco o período, temos alguns jogadores mais qualificados que tiveram o mesmo destino: o Corinthians.
POR QUE CORINTHIANS E FLUMINENSE FAZEM TANTOS NEGÓCIOS?
Ibanez foi rapidinho de vez para a Europa. Scarpa saiu na briga para o Palmeiras. Henrique Dourado foi direto para o Flamengo, mesmo porto seguro de Pedro e Gerson após breves passagens pelo exterior. Caio Henrique para o Grêmio. Allan para o Atlético. Não bastou ao Fluminense ser refém de agentes no mercado internacional: é também vitrine para clubes brasileiros.
É natural que a torcida tricolor tenha perdido a paciência com o trabalho de Odair Hellmann, marcado pela ausência de um esquema de jogo, a prioridade de veteranos na escalação e substituições extraterrestres. Contudo, esticando um pouco a corda, vamos relembrar quem foram os treinadores regulares do Fluminense nos últimos cinco anos?
Cristóvão, Enderson Moreira, Ricardo Drubsky, Eduardo Baptista, Levir Culpi, Abel, Marcelo Oliveira, Marcão, Fernando Diniz, Oswaldo de Oliveira e o próprio Odair.
A quem interessa que, em vez de mostrar satisfação por um time forte e vitorioso, alguns torcedores optem pelo papel de comemorar o pagamento de folhas salariais ou a imaginária redução da dívida do clube?
Por fim, uma incrível sucessão de comportamentos é repetida sem que ninguém toque no assunto na grande imprensa: um jogador da casa ou contratado logo se destaca e, num súbito, cai de produção e imediatamente um coro nas redes sociais o acusa de corpo mole, cabeça no exterior etc. Nasce um fato político que muitas vezes termina com uma negociação de baixo retorno financeiro. Convido você a pensar numa lista com ex-jogadores do Fluminense que passaram pela mesma situação. O caso mais recente é o de Marcos Paulo, que fervilha no momento. Há quem diga que o problema é a cabeça do jogador na Europa, ou que tenha queimado etapas na sua subida para os profissionais. Mas como se explica o sucesso do jovem atacante nas seleções de base do Brasil e de Portugal ao disputar partidas internacionais?
Longe de pretender ser a dona da verdade, esta coluna tem o simples objetivo de convidar os leitores a uma reflexão sobre o Fluminense atual e suas versões anteriores, todas endossadas por gente que não vale uma nota de três reais, e que muitas vezes ofereceu seu endosso por conta de promessas não cumpridas.
No mais, que venha uma importante vitória sobre o Goiás nesta quarta-feira. Ela não muda um longo cenário de devastação mas dá esperanças de que não passaremos sufoco neste 2020-21.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
O Fluminense está sendo beneficiado pela pandemia, que nivelou todos os times por baixo, muito baixo mesmo. Existem times que jogam muito mais que o Fluminense, e se encontram abaixo na tabela.
E, se o Flu quebrar a regras de tropeçar contra times das últimas posições, e ganhar do Goiás, a zona de rebaixamento vai ficando surpreendentemente mais longe.
Um tropeço, porém, pode por tudo à perder.