Sete da manhã de domingo de Carnaval. Por aqui, que silêncio! Tempo nublado. Ok, vão ter blocos e muita barulheira, mas agora a mudez é uma regra. Nenhum som de automóvel, ninguém cantando um samba ou sequer brigando. Nada. Nada.
Ontem, não pelo calendário mas pelo simbolismo, foi o sábado de Carnaval número 45 desde que a Máquina Tricolor começou a encantar o mundo, na goleada por 4 a 1 sobre o Corinthians na estreia de Rivellino. Foi outro dia, mas já tem quase meio século, o que mostra a velocidade dos tempos e também o fascínio que aquele time provoca no imaginário tricolor. Desde aquele breve e inesquecível biênio 1975/1976, o Fluminense já conseguiu ganhar muita coisa, viveu e superou dramas terríveis, mas nos últimos anos tem sido uma espécie de pária: vive num limbo e no máximo luta contra a morte. Tomara que outros tempos comecem duma vez.
Voltando àquele sábado de Carnaval de 1975, ele foi na verdade o primeiro dia de uma festa momesca que durou dois anos. O Fluminense foi então o time mais falado, admirado e cortejado do mundo, chegando a ganhar do Bayern Munchen – base da Alemanha campeã mundial de 1974 – com um gol contra de… Gerd Muller, então o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo. Não é à toa que a maior média de público da história do Flu é de 1976: cerca de 45 mil pessoas por partida.
Passou o sábado de Carnaval, passou o velho sonho da Máquina cativando os corações tricolores do primeiro ao último dia. Ficaram as lembranças, a poesia, os Cariocas vencidos passando o trator, os Brasileiros na trave – até nos dramas fomos impecáveis. E um espetáculo de futebol exibido duas vezes por semana, num mundo sem jogos na TV, internet e palermas da obviedade.
Acordemos neste domingo nublado e silencioso, que promete muitos desfiles e alegria para os foliões. A Máquina ainda povoa nossos pensamentos, mesmo daqueles que não a viram. Até seus detratores precisam daquele sonho. Agora estamos longe demais; nossa realidade é tentar eliminar o Moto Club na Copa do Brasil. Com todo respeito ao time maranhense, é um confronto que o time de Rivellino, Doval e Caju costumava vencer por cinco ou sete a zero, sem pestanejar. Porém, os tempos são outros, super outros.
Enquanto isso a Máquina é a nossa Holanda 1974, a Laranja Mecânica: não precisou ganhar tudo para ser inesquecível. Ou o Uruguai de 1950, ao qual vivemos eternamente abraçados por entre os tempos. A diferença é que os uruguaios vivem até hoje daquela conquista; nós, não, mas não dá para desprezar a realidade atual das Laranjeiras e do CT Castilho.
Vamos a ela. Moto Club, Ganso, Nenê, Odair, a volta de Fred e outros capítulos, pois.
Panorama Tricolor
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