Cinquenta mil águias de três cores (por Paulo-Roberto Andel)

Hora de esquecer as mágoas – nem que seja por uma noite – e de elevar o caráter.

E do coletivo prevalecer sobre o individual.

Hoje o Maracanã estará absolutamente lotado com as nossas cores. E tudo indica que, pela primeira vez em anos, teremos mais de 50 mil tricolores no estádio que, se já não é aquele das glórias imortais entre 1950 e 2010, ainda é a nossa referência carioca.

Quem tem mais de 25 ou 30 anos vai voltar a 2008, é compreensível. Lá, vivemos talvez a maior injustiça de nossa história. Contudo, o Fluminense ainda é uma criança diante da eternidade que lhe espera e, por isso, sempre será um protagonista de grandes histórias, muitas com final feliz e outras, não.  A vida é assim. Um grande campeão não é infalível, a perfeição não existe.

Fiquemos então com o espírito dos mais jovens, dos calouros, dos que estão a descobrir o charme do mundo e das cores, das sensações, dos que só veem nesta partida contra a LDU como a grande chance de dar mais um passo rumo a um título continental.

Mas também não nos esqueçamos do velho Fluminense das arquibancadas, onde todos se abraçavam como irmãos e, quando se cantava em uníssono, não havia quem não tremesse do outro lado.

O Fluminense de fazer tremer e sonhar, aquele das fáceis vitórias impossíveis, danado a desafiar paradigmas, aniquilador de definições. A mosca na sopa das manchetes tendenciosas.

Ok, mosaicos, pó de arroz e bandeiras são maravilhas da alma – mesmo! -, mas o que precisa contar acima de tudo logo mais é a essência tricolor. O torcer junto. Junto.

Ficam na lixeira os interesses vis, a politicagem, a pequenez, a obsessão mesquinha por vantagens pessoais e autopromoção.

Desfraldadas, as bandeiras da vontade de vencer, de incentivar, de vibrar, mesmo sabendo que nosso time tem defeitos e até mesmo limitações.

A garra, caros amigos, aquela que, quando emana de fora das quatro linhas, contagia os onze em campo até que cada um só consiga enxergar o sentido da vida na ponta das chuteiras.

Muitas vezes, o Fluminense escreveu jornadas inesquecíveis banhado de uma garra infinita, sendo capaz de transformar partidas em épicos: às vezes, os desavisados podem pensar que aquele 3 a 1 de maio de 2008 foi uma decisão de campeonato. E valeu por uma, claro.

Nunca é demais lembrar: a Sul-Americana não é a Libertadores, o Maracanã 2017 não é o de 2010 e até o Rio de Janeiro está diferente pacas nos últimos invernos. O confronto de logo mais não é a final de 2008, claro. Agora, o Fluminense foi, é e será sempre o Fluminense, a estrela Vega – que significa em árabe “águia mergulhando”. Nós já os vencemos três vezes. Chegou a vez de eliminá-los.

Familiares a milhões, juntos somos uma incrível massa de maníacos para quem a derrota não existe –  capazes de subvertê-la até o último grão da ampulheta.

Cinquenta mil águias de três cores imortais, indissociáveis.

Que seja uma noite de paz, de reencontro, de camaradagem contra a cólera e que tudo isso inspire nosso time a uma vitória inesquecível, daquelas que são lembradas por muitos e muitos anos depois. Juntos, somos a grandeza de um império. Nós todos somos um único Fluminense. Diante desta causa, todo o resto é de um minúsculo comovente e desimportante.

Que seja uma noite de lavar a alma, para escrever mais um bela página do livro dos nossos dias.

Ou como nos versos inesquecíveis do canto da bela Teresa Salgueiro: “Oxalá o Carnaval aconteça”.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: cezar guedes