Há pouco, antes de cumprir o doloroso ofício de réquiem, espiei as redes sociais, este universo que deveria ser tão belo mas parece desencanto quando o assunto é Fluminense.
Encontrei dezenas e dezenas de pessoas, homens e mulheres, jovens e adultos, todos falando da nossa querida Fernanda. Incrédulos, chorosos, abismados com uma passagem tão precoce e súbita.
A vida e a morte são assim: temos muitas dúvidas, tropeçamos, rimos, choramos e, por isso, vivemos.
É muito difícil escrever agora, mas vamos lá.
Fernanda foi uma das grandes torcedores do Fluminense em sua história. Não por marketing, documentos, aferições, nada disso. E nem precisava: qualquer pessoa que esteve perto dela por um mísero minuto, em qualquer arquibancada, pode testemunhar a respeito. Das espeluncas do Cariocão ao gourmetizado estádio que agora mora no lugar do Maracanã.
Às vezes no outrora maior do mundo e, depois, mais no Engenhão, nos víamos e levantávamos as sobrancelhas como se fosse um olá. Numa noite depois de um jogo que ganhamos, ao me ver na saída ela me abraçou e disse o que muitos repetiram a seguir: “Ah, você que é do PANORAMA”. De certa forma, ela é um nome nosso.
Num belo dia, viajamos juntos para um jogo. Não paramos mais. Vivemos anos e jornadas incríveis, comemoramos e sofremos. Vibramos com o tetracampeonato, nos desesperamos com 2013, ressuscitamos e encontramos alívio.
Fernanda foi presença constante nos lançamentos dos meus livros sobre o Flu. Sempre arrebatava as câmeras com sua tatuagem tricolor no ombro esquerdo. Falante, comunicativa, simpática, com sua voz de trovoada, ela já chegava de longe e vinha varrendo as gentes pelo caminho, feito uma incansável militante das nossas três cores imortais.
Bebemos grandes chopes, trocamos angústias, cantamos, gritamos e fomos felizes por segundos. Falamos de música, de sonhos e de planos. Ela veio gravar conosco aqui e virou um mito da casa. Inventou um apelido para mim. Num sábado, tivemos uma tarde mitológica no Cafeína de Copacabana ao lado do nosso escritor Luiz Couceiro, onde ela definia um conceito desafiador: o de “mulher de torcida”. Isso vai estar no meu livro sobre Copacabana, que sai ano que vem.
Há pouco tempo, tivemos nosso último encontro num momento difícil: o velório de sua mãe. Conversamos, tentei lhe passar boas energias, ela estava serena.
Ficamos de marcar uma nova gravação do PANORAMA. Não deu tempo.
Fernanda carregou o Fluminense na pele, no coração, na dedicação. Muitos de seus amigos foram feitos nas arquibancadas. Muitos a viam e logo a identificavam.
Algumas vezes eu a vi chorar, mas hoje eu só penso em seu sorriso, sua eloquência, sua imponência. Agora o choro é todo meu. Estamos aqui, eu e Marina, numa sexta-feira sem viço, olhando para o nada e tentando encontrar algum conforto.
O Fluminense perdeu uma grande torcedora, eu perdi uma grande amiga, o mundo perdeu uma grande mulher. Mas aqui só me reporto à questão física: quem passou uma única tarde com ela não a esquece. Ela continua por aqui de algum jeito: eu a vejo nos rostos e falas de Isabela, Duda, Lari, Dinho, Babi, Bel, Rubens, Marcão e tantos, tantos, tantos outros amigos também queridos demais que o Flu me proporcionou.
Aquela tatuagem no ombro merecia uma escultura em bronze.
Para um escritor de verdade, amizades e amores sempre vão aparecer em algumas páginas publicadas. Uma crônica, um poema, um verbete.
Fernanda foi embora feito um furacão. Ela viveu assim: intensa, superlativa, ilimitada. As homenagens sempre serão poucas, mas farei o possível dentro da pequenina parte que me cabe. E também foi um grande, inesquecível e duradouro momento do Fluminense que eu vivi.
Por isso, aqui continua.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: fernanda
Maravilhoso! Mesmo sem conhecer pessoalmente essa encantadora mulher. Você através do seu texto nos remete a esse lugar de intimidade. Parabéns e sinto muito.
Quem passou uma única tarde com ela não a esquece, uma ótima pessoa, embaixadora da causa tricolor, que me sacaneava quando o Flu ganhava o meu Flamengo mas que nunca consegui revidar, só consolá-la, tão doce ela era …
Fica a lembrança do seu sorriso, e o respeito por sua vida guerreira.
Falou tudo amigo, estas palavras deixará estar sempre presente a lembrança desta guerreira e fiel amiga tricolor.
Nunca fui um aficcionado por futebol, Fernanda entrou na minha vida em momentos dolorosos proporcionados por meus joelhos e coluna.
Dei de cara com aquele furacão com voz de trovão quando ela ainda era Fernandona, grandona, e veio me antender com um jaleco com as cores do Fluminense discretamente decorando o topo do bolso. Minha fisioterapeuta virou amiga, e chegou um dia a demonstrar o quanto gostava de mim com a frase: você é Flamenguista mas eu te adoro, seu maluco.
Quantas saudades :/
Linda e merecida homenagem!
Parabéns Paulo Roberto Andel, por mais um belo texto
PREZADOS TRICOLORES,
Uma lástima essa partida precoce da nossa amiga Fernanda Britto. Estou estarrecido, muito triste, pois ao lado dela crescemos no colégio Pedro II – unidade São Cristóvão.
Fica aqui o abraço cruz-maltino de um amigo que gostava de instigar a fidalguia tricolor até a mesma meter a boca no trombone e falar um monte. Que Deus a receba com tapete verde, branco e grená.
Minha amiga fez a passagem. Mas ela vive e viverá sempre em nossos corações.
Que texto! VC a todo tempo só fez ela mais presente! Só pude sentir uma sensação de plenitude e luz! Nesta hora difícil,VC descreveu amorosamente a presença se sua amiga, tricolor agora na eternidade! Meus sentimento!
Lindas e merecidas palavras…
Assim fica difícil não chorar.
O carinho e a saudade de um até breve.
É meu amigo…se um momento como este pode haver conforto….ele se traduz em sua palvras.
Uma amiga….uma menina….uma grande mulher.
Fernanda….só morre quem não deixa saudades….vc está guardada aqui no peito.