(Originalmente publicada em 13/04/2016)
Há muito tempo, na minha tenra infância, não havia um garoto tricolor da minha idade que não fosse absolutamente louco pelo zagueiro Edinho. Quase diariamente, após os treinos nas Laranjeiras, vinha ele com a bola e um goleiro – ou outro jogador – para treinar cobranças de falta. Cem, em média. Os chutes só paravam quando o céu de Álvaro Chaves escurecia por completo. Aqui não falo por ouvir dizer ou copiar alfarrábios: sou testemunha ocular.
Informação relevante: não confundir Edinho, Edino Nazareth Filho, personagem desta coluna, com seu homônimo, o volante (e também zagueiro) Edimo Ferreira Campos, grande campeão carioca e brasileiro em 2012.
Consagrado na Máquina aos 20 anos de idade (tendo chegado à base do Flu em 1969), herói solitário entre 1978 e 1979, fera da Seleção Brasileira – quando isso realmente significava muita coisa – talentosíssimo, dotado de um preparo físico invejável, Edinho liderou o jovem time tricolor campeão de 1980 e trouxe milhares de torcedores aos jogos só para vê-lo.
Suas arrancadas eram famosas: com grande velocidade, trazia a bola da defesa para o ataque, muitas vezes passando ou chutando a gol.
Um exímio cobrador de faltas e cabeceador. Certamente está na lista seletíssima dos zagueiros tricolores que marcaram três gols em um jogo – mais de uma vez, assim como pertence ao pantheon dos defensores artilheiros da história do clube.
Era tão bom jogador que nem o fracasso da Seleção na Copa de 1982 – onde ele deveria ter sido o titular da quarta-zaga – impediu sua imediata transferência para o futebol italiano. E se você vem com aquela velha história de que Edinho traiu o Fluminense por jogar na Gávea em 1987, é bom pesquisar a respeito e constatar que a culpa disso, para variar, foi dos dirigentes tricolores.
Ao primeiro sinal, Edinho voltou. Ficaria mais um ano e meio, novamente liderando um Flu em reconstrução às semifinais da Copa União. Sua despedida se deu em circunstâncias adversas: ao levarmos uma goleada do Flamengo por 4 a 0, o clima ferveu e um obscuro cartola, rasgando a história do clube, gritou no vestiário que Edinho tinha se vendido para o rival. Um poderoso soco na cara selou a rescisão contratual dias depois. Então o zagueiro foi para o Grêmio, tornou-se o capitão do time gaúcho e ganhou a primeira Copa do Brasil da história.
(JB, 14/04/1989)
Sempre foi um profissional absoluto dentro das quatro linhas. Chegava a ser chato, para não dizer insuportável (mas não no mau sentido): reclamava de dirigentes, jogadores, treinadores, torcedores, reivindicava salários atrasados em público, cobrava por reforços. Diariamente. Qualquer empate era o fim do mundo para ele. Derrota era sinal de Terceira Guerra Mundial. Se dependesse do zagueiro, o Tricolor teria vencido todos os jogos entre 1975 e 1982 por goleada, sem sofrer gols.
Dois anos depois de deixar as Laranjeiras como jogador, Edinho tornou-se treinador do Fluminense. Com altos e baixos, conduziu dois times modestos à disputa de títulos estaduais, sendo devidamente garfados nas finais de 1991 e 1993 – aliás, a história de que o Flu daqueles tempos era apenas uma desgraça em campo parece aquela falácia da manga com leite e fica para outra coluna. Em sua última passagem, terminada com rusgas pela contratação do veterano lateral Nonato, cunhou uma frase que ficou famosa: “Jogador que é reserva em outro time não pode ser titular do Fluminense”.
Edinho nunca foi um amor de pessoa e, como filho de Deus, sujeitou-se a diversos pecados. Mas, sinceramente, aliando garra e talento dentro do gramado, limitando-me a esta seara, em quarenta anos eu vi três: ele, Romerito e Conca, sendo que o zagueiro era o mais técnico deste rol.
Comumente é mencionado como defensor titular, em efemérides que tentam apontar o melhor Fluminense de todos os tempos, onde nomes como Pinheiro, Ricardo e Thiago Silva, entre muitos outros, são menções permanentes.
Em tempos onde as redes sociais navegam em mares de ódio e fornecem espuma de sangue a brilhar, volta e meia fico sabendo das campanhas pelo assassinato de Edinho, agora comentarista na TV, acusado de “secar o Fluminense”, “não ser tricolor” e outros tiros n’água. Ele torce contra, ele é safado, ele odeia o Flu. Nessas horas penso que, em tempos de Google, pesquisar um sujeito antes de xingá-lo pode ser um bom negócio.
Edinho é ranzinza na TV. Ele não é pago para ser torcedor do Fluminense, como alguns gostariam, e nem é dono da verdade, mas mantém a coerência desde o tempo em que se consagrou como um dos maiores jogadores da história do nosso clube, queiram ou não – e resmunga em todos os jogos, não somente os nossos. Mas se o comentarista desagrada boa parte do eleitorado, muitos quarentões tricolores de agora ainda sonham com aqueles gols, jogadas, momentos e a atitude de respeitar a camisa tricolor a cada segundo. Para outros, geralmente alheios às memórias ou por não terem vivido os anos 1970 e 1980, o grande ídolo não passa de um desgraçado do inferno.
Melhor abrir o olho, Fred. Todo mundo tem passado e o brasileiro médio troca cem acertos por qualquer erro relevante, quanto mais vários. Taí o Rods – na coluna de cima – que não me deixa mentir.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: rap
Colaboração do escritor Valterson Botelho na entrevista, do site Ídolos Tricolores
2017….Edinho ainda e’ comentarista.
Para mim, ele foi o meu idolo na infancia. Realmente. 1980, quem viu, numca esquecera.
Mas, quando ele comenta jogos do Flu sempre me deixa aquele gostinho ruim na boca. Logico que eu quero que ele seja honesto, mas algumas vezes ele vai alem e deixa esse gosto amargo.
Nao sei, espero que nao seja algo pessoal contra o Flu. Seria ate legal ele dizer que nao tem nada contra, so para colocar a rapaziada do passado, como eu, em paz na alma.
Boa noite Paulo, vendo os gols de Edinho verifico que os caras deixavam ele livre. A diferença do futebol de hoje para o de antigamente é que hoje existe um agarra agarra dentro da área, puxão de camisa e outras coisas. Não existia isto antigamente abç.
Um pouco de história para refrescar nossas memórias sempre cai bem. Parabéns, Andel.
Talvez por ser Tricolor de Coração, cobre mais do Flu nos jogos, do que cobraria de qq outro, sei lá.
O que sei, não lembro a data nem o jogo, mas na copa de 86, ele invadiu a área do adversário e deixou o zagueiro e o goleiro estrebuchando no chão antes de empurrar a pelota para o fundo das redes, se fosse o pé frio da gávea, seria o gol mais reprisado em todos os tempos.
Quanto ao Frederico, cada vez mais tenho certeza, “garoteou” muito.
ST
Na copa de 78 foi queimado na lateral esquerda, dava pena.
No Framengo foi desmoralizado pela surra que levou do baixinho vascaíno Geovane. A apanhou na cara feio.
Foi muito abaixo que seu futebol merecia.
Por isto minha dupla de zaga de todos os tempos é Tiago Silva e Ricardo Gomes.
Pinheiro não vi.
Nos meus 53 anos vi Edinho jogar desde os juniores do Flu.
Sempre achei que estava mal escalado, todo aquele talento e força ofensiva em um zagueiro, no tempo que jogou era um desperdício.
Vi fazer jogadas lindas de ataque driblando vários e lenvando a bola à frente,
O vi entregando o ouro , fazendo pênaltis por chegar esbaforido, com adversários jogando as suas costas.
Seu futebol estava à frente do seu tempo quando não se falava no Brasil em um esquema com líbero, como jogou…
Grande reportagem. Excelente jogador. Mas como comentarista, de fraco a mediano. Até aí, td certo, haja vista a maioria ser muito ruim. Mas, com a instituição Fluminense ele tem, no mínimo, deveras má vontade. Minha opinião é pior. Mas não convém expressar. Se eu fosse presidente, chamava pra conversar. Ele denigre a instituição e todos q estão lá.