Enrico Bianco faleceu há poucos anos. Passou dos noventa, tendo nascido em 1918. Artista plástico, cidadão de Ipanema, foi assistente de Portinari tido como o melhor retratista de sua geração, a ponto de ser considerado por alguns críticos um discípulo mais talentoso do que o próprio mestre, o que lhe valeu estar sempre no top dos colecionadores do mercado na condição de um dos artistas mais caros. Todavia, Bianco jamais chamou Portinari de “você”: apenas por mestre. Caso típico de um italiano respeitoso com quem lhe abriu os caminhos do mundo.
Bianco era um frasista sagaz por excelência. São muitas as suas tiradas, mas a que mais me chamou atenção adveio de sua permanente ausência das exposições sobre seu trabalho. Uma vez perguntado a respeito, cravou uma sentença definitiva: “Para quê? O que um artista tem a ver com seu vernissage?”. Faz todo sentido: o que tem que fazer sucesso é a arte, não a presença do artista.
Desde que li sobre a declaração de Bianco, há coisa de uns dezessete anos, nunca mais me livrei desta ideia. O artista não tem nada a ver com seu vernissage, assim como um livro deve ser o principal objeto de exposição de um escritor, o teatro de um autor ou diretor. O gol fala mais de um artilheiro do que ele mesmo. Um título diz muito mais de um time do que a presença individual de seus jogadores em entrevistas, ou de seus dirigentes.
Vivemos a era do culto às celebridades. Aparecer parece mais importante do que fazer. “Estou na mídia!” traz uma imediata pergunta à mente: “E daí?”
Começou o ano de 2016 de vez. Mais poucos dias e tudo volta ao padrão: jogos, jogos, jogos. Declarações. Frases, ora pensadas, ora espontaneamente esdrúxulas. É preciso preencher as páginas dos jornais, as grades dos programas de rádio, os noticiários da TV. Então lá vem nossos jogadores, treinadores, dirigentes e jornalistas deste Brasil varonil com as mesmas frases manjadas, mofadas, previamente acordadas.
Nem tudo que você lê ou vê é exatamente aquilo que se entende pelas manchetes, tanto para o bem quanto para o mal. Para quem é torcedor de futebol, o mais importante de tudo é um time em campo com garra e atitude, preferencialmente com vitórias – e quando joga com atitude e respeito, até quando perde é aplaudido e incentivado pela torcida.
Que venha finalmente o ano novo e que o Fluminense encontre o seu caminho perdido desde aquele inesquecível tetracampeonato brasileiro em 2012. Superar as dificuldades econômicas advindas do exótico patrocinador, administrar a grana curta depois das contratações de peso (por sinal, bem melhores do que as da insossa temporada 2015), buscar realizar grandes campanhas brigando por títulos, tudo isso sem deixar que o jogo político polua a jornada.
Estou com Enrico Bianco e não abro: a arte é muito mais importante do que a persona do artista. Para aparecer a qualquer custo à toa, o caricato elenco de deslumbrados da internet já é suficiente.
Tricolores, uni-vos pelo Fluminense. Ele é mais importante do que qualquer pessoa em qualquer época.
ALTAIR
Completou 78 anos. Uma das legendas do Fluminense. Campeão mundial pela Seleção, craque da lateral por uma década e meia, bom funcionário das Laranjeiras por décadas a fio. Merece todas as loas e uma maior valorização tricolor, assim como muita gente boa que vestiu a nossa camisa.
Salve Jair Marinho, nosso campeão e seu eterno anjo da guarda.
O FLUMINENSE NA ESTRADA
Meu novo livro sobre o Flu, o sétimo, desta vez ao lado dos craques Eric Costa e Mauro Jácome, presenças constantes neste PANORAMA.
Três torcedores, morando a milhares de quilômetros uns dos outros, trocando 130 perguntas instigantes com opiniões sobre o passado, o presente e o futuro do Fluzão, tudo feito instantaneamente, sem qualquer preparo prévio. Era para sair somente em dezembro, mas os autores escreveram tão velozmente e o projeto ficou tão bacana que resolvemos antecipar. Fluxo espontâneo de literatura.
A princípio, mais dois livros tricolores até o fim do ano. Ambos a caminho. Demolidores, sem falsa modéstia.
“Na estrada” tem lançamentos previstos para as cidades de Uberlândia, São Luís, Caicó e Brasília. No Rio, terá como ponto físico de venda a Livraria Arlequim do Paço Imperial. Neste PANORAMA, faremos a venda virtual.
NOSSOS REFORÇOS
Depois das grandes estreias dos jornalistas Fagner Torres e Paulo Rocha por aqui, na próxima quinta-feira é a vez de Rodo, escritor e poeta, diretor do Portal Pó de Arroz, vestir a camisa panorâmica. Todo sucesso ao colega que vem para, sem falsa modéstia, reforçar essa Máquina da literatura do Fluminense.
Nada contra os likers, mas aqui a prioridade está nas letras.
CHICO SCIENCE
Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: pra
Caicó não é “tão, tão, distante”. De repente apareço por lá.