Olhem debaixo da cama (por Aloísio Senra)

tá careca

Tricolores de sangue grená, logo mais o Fluminense Football Club realizará a primeira de oito (esperamos) partidas que nos levarão (esperamos²) ao bicampeonato da Copa do Brasil. O regulamento da competição, que sofreu modificações em tempos recentes, agora permite que os melhores times do Brasil dela participem. Com sinceridade, eu abominava a fórmula anterior – que deixava de fora os times da Libertadores, e abomino esta – que se estende pelo ano inteiro.

Muito melhor seria se Libertadores e Sul-Americana fossem disputadas no primeiro semestre de forma concorrente, voltando ao critério antigo de classificação para esta última, e a Copa do Brasil, que sempre precisou de um semestre apenas, fosse disputada no segundo semestre, aí sim em concorrência com o Campeonato Brasileiro. Para tal, talvez fosse necessário que o Brasileirão começasse um pouco antes, mas seria, na minha visão, o modelo ideal.

Nesta edição, o regulamento mudou uma vez mais para abarcar algumas novas regras: a partir de agora, a definição dos confrontos também das quartas de final será mediante sorteio. Algo não me cheira bem nesta mudança. Principalmente se analisarmos a próxima mudança: os confrontos a partir das semifinais não contam mais com o critério dos gols fora de casa tendo peso maior, e todos os confrontos a partir das oitavas de final cujos participantes atuem no mesmo estádio (exemplo, Vasco e Flamengo, que devem atuar no Maracanã) também seguirão esta regra.

Isso essencialmente quer dizer que os jogos ficarão mais perigosos e mais propensos a serem decididos pela arbitragem, principalmente porque não haverá espaço para erro ou “jogar com o regulamento debaixo do braço” em boa parte das partidas. Onde o regulamento perde força, a arbitragem ganha força, e com o nível que temos no Brasil, isto é no mínimo temerário. É claro, isto também significa que provavelmente teremos decisões em disputa de pênaltis com maior frequência, o que sempre gera controvérsia e passa, muitas vezes, a impressão de injustiça.

Mesmo com todos os “contras”, eu acredito piamente que o Fluminense deve investir todas as suas fichas na Copa do Brasil. A disputa pelo G4 está muito acirrada, e apenas o primeiro e o segundo colocados garantem vaga para a fase de grupos da Libertadores. O terceiro e o quarto precisarão jogar a temível Pré-Libertadores, que adora uma zebra. Já o campeão da Copa do Brasil entra, também, direto na fase de grupos.

Além disso, penso que não temos elenco para manter o nível com os desfalques que estamos tendo, principalmente porque a reposição não está sendo a ideal. Enderson demonstra insegurança para mudar o esquema quando é necessário, insistindo demais no 4-2-3-1, que já se tornou previsível. Nos últimos jogos isto ficou bastante evidente, apesar da vitória contra o Figueirense. Assim, apostar nossas fichas numa competição de tiro curto, em que, nos oito jogos, precisaremos jogar bem acima da média apenas em metade deles, e garantir o feijão-com-arroz nos outros quatro, parece-me mais realista que esperar que consigamos pelo menos a segunda colocação nas próximas dezenove rodadas, tendo pelo menos sete adversários para as duas vagas que nos colocariam “na boa” da Libertadores.

Hoje a caminhada começa contra o “Papão da Curuzu”, o Paysandu, considerado time grande no Norte, com bastante tradição, e tudo mais. A análise óbvia é que o Fluminense precisa encestar o time paraense de gols, sem dar mole para o azar, mas conhecemos o espírito de Robin Hood do nosso querido tricolor, que adora dar um vexame contra times pequenos, de todas as divisões, sem discriminação.

Só espero que o Fluminense ataque, jogue para vencer, com vontade de vencer, com gana de vencer. O resultado é consequência de muitos fatores, e a derrota faz parte, mesmo quando não é esperada, mas o que NÃO PODEMOS, EM HIPÓTESE ALGUMA, É AMARELAR PARA O PAYSANDU. Nada de três volantes, nada de “fechar o time no final”. Está três a zero? Dane-se! Cai dentro e mete seis! Chega de mentalidade tacanha! Chega de pensar como time pequeno! Chega de América-RN, Chapecoense, Horizonte!

Isso aqui é FLUMINENSE, Enderson! Enquanto todo mundo remava, a gente jogava futebol. Nascemos com a vocação da eternidade, somos os eternos campeões. Nossa camisa joga sozinha, mas precisa que os caras que a vestem queiram ganhar. Eu não vou aceitar qualquer explicação, qualquer desculpa. Pode ganhar de dois a zero. Se vier de melindre, com negócio de segurar resultado, eu vou pedir o seu boné nesse espaço, pode ter certeza. Chega de dar razão para a mídia nojenta, que fica apostando no nosso insucesso, que seremos a vítima da zebra!

Minha mensagem de fé e esperança para vocês, jogadores, é apenas uma: olhem debaixo da cama antes de levantar. Se não houver nada lá, é assim que vocês têm que encarar nosso adversário. Esse negócio de respeito ao adversário é bonitinho, mas a realidade é outra. Se jogar como grande, vai ganhar. E para jogar como grande, precisamos que vocês pensem como jogadores de um time grande.

Grande não, Enorme.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: tacareca.com

capa o fluminense que eu vivi 4 - FINAL