A Gustavo Albuquerque e Guilhermino Careca (por Marcus Vinicius Caldeira)

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O primeiro título que comemorei do Fluminense foi o de campeão carioca de 1980. Não no estádio, ainda não os frequentava. Neste dia, estava fazendo a minha primeira comunhão na Igreja Sagrados Corações na Tijuca. A cerimônia foi na mesma tarde e noite em que jogaram Fluminense e Vasco pela decisão do estadual daquele ano. Naquela época, o campeonato carioca era mais importante que o campeonato brasileiro, a Libertadores e o Mundial.

Um amigo levou o rádio de pilha. Isso mesmo. Perdoem-nos os católicos. Cristo nos perdoaria, afinal as crianças têm lugares cativos no reino dos céus, não é mesmo? E volta e meia eu olhava para atrás perguntando quanto estava a partida. No final da cerimônia, entrei no carro do meu avô paterno e, como o jogo ainda estava acontecendo, pedi para colocar na transmissão pelo rádio. E eis que, no caminho para casa, Edinho fez o gol que viria a ser o da vitória e do título.

Hiato.

Depois disso, minha lembrança enquanto torcedor de arquibancada foi a final do brasileiro de 1984. Meus pais separados, meu pai em viagem no exterior. Almoço na casa dos meus avós paternos, que moravam no Boulevard 28 de Setembro, Vila Isabel, pertinho do Maior do Mundo. Lembro-me de importunar meu avô para me levar o jogo. E como avô é avô, marchamos ele, eu e meu irmão rubro-negro para o Maracanã.

Filas gigantescas nas bilheterias (engraçado que hoje, com a quinta parte do público daquela época, as elas continuam enormes), filas gigantescas para entrar. Não tinha lugar para sentar na arquibancada. Naquela época era assim. Se não chegasse com pelo menos uma hora de antecedência, babau. Sentei na grade do anel da arquibancada com os pés para baixo. No futebol moderno com o mimimi de hoje seria impossível. Fui uma criança feliz naquela tarde de bandeirões, bandeiras mil, pó de arroz, o torcedor Careca (Guilhermino dos Santos) e título.

Em 1985, jogo decisivo contra o Bangu. Desta vez não estava na arquibancada, mas na cadeira cativa da família daquele meu amigo que levou o rádio para o Maracanã. Não era a mesma festa dali. Até de calça comprida eu tive que ir. Mas, dali, a mesma alegria: bandeirões, bandeiras mil, pó-de-arroz, o torcedor Careca e título.

Vocês podem imaginar a felicidade de um torcedor adolescente que, como eu, viveu essa época com todos esses componentes de festa na arquibancada e com seu time tricampeão do principal torneio do Brasil e campeão brasileiro em três anos?

Não à toa essas imagens nunca saíram da minha cabeça nem sairão.

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Pois bem. Há sete anos, algum burocrata estúpido de plantão cismou de proibir a festa a torcida do Fluminense com pó de arroz no estádio, alegando o mesmo ser prejudicial à segurança do torcedor. A estupidez do burocrata não tem limites.

Há sete anos então se travava uma luta para que pudéssemos seguir com a festa. Mas aqui é a torcida do Fluminense. A mesma que em 2013 saiu em defesa do clube que foi achincalhado por conta do episódio que foi achincalhado por conta do episódio da Portuguesa – e que salvou o Flamengo do rebaixamento.

Nesta torcida do Fluminense, duas figuras notáveis foram à luta na justiça pela manutenção da tradição tricolor no estádio: os advogados Gustavo Albuquerque – grande blogueiro do Globoesporte e escritor dos bons – e Gabriel Machado. A decisão veio hoje, por unanimidade dos votos dos desembargadores, favorável à torcida do Fluminense e à manutenção da tradição no estádio.
 
É inacreditável que tenhamos que brigar por coisa tão banal. Mas tivemos. O mundo de hoje é uma estupidez só. Mas, dessa vez, se fez justiça.
 
Não há palavras para exprimir o agradecimento que se faz necessário a estes dois. É a possibilidade de reviver com meu filho, que está pra nascer, e minha família – esposa e primo – toda tricolor a mesma alegria que vivi quando moleque.
 
Muito obrigado, Gustavo Albuquerque e Gabriel Machado.
 
O torcedor Careca revive em cada um de nós.
 
O pó de arroz é eterno, assim como o Fluminense, sua grandeza e sua torcida.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira

Imagem: ffc/pra

1 Comments

  1. Boa Caldeira !

    Nao existe nada igual no mundo.
    A identificacao que nossa torcida tem com o po-de-arroz e algo jamais visto.
    Grande vitoria do Fluminense.
    Se rasguem, adversarios ! Vcs sao todos iguais kkk
    Orgulho de ser Tricolor ! ST

    Abracos da Califa a todos,

    Rodrigo

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