O primeiro Fla-Flu da minha memória foi o do Caio. O Caio Cambalhota. 1972. Abril de 1972. Lembrava-me do ano, mas tive que pesquisar o mês. Vi pela TV, mas lembro-me da massa nas arquibancadas, nas cadeiras, na geral, das bandeiras, do pó-de-arroz. Mesmo aborrecido com a balaiada, aquelas imagens ficaram para sempre. Um detalhe daquele jogo na minha lembrança era que ficava na expectativa de ver o Caio cair no fosso, quando comemorava seus gols em cima da mureta que dividia o campo da geral. Daquele time rubro-negro, cinco jogadores foram campeões pelas Máquinas Tricolores dos anos 70: Renato, Rodrigues Neto, Zé Mário, Doval e Paulo César.
No ano seguinte, debaixo de um aguaceiro, Manfrini comandou a goleada do título: 4 a 2. A água que espirrava quando a bola era disputada me impressionava mais do que os gols. Criança é assim: vive num mundo próprio. Só me lembro de um gol: um do Manfrini. O segundo dele, o dos 3 a 2. Jurava que o Gerson estava em campo, mas a pesquisa me desmentiu. Estava por lá, mas não jogou. Foi um dia que me deixou assustado com meu pai. Infantil, não entendia ainda certas reações. Quanto mais com o futebol. Num dos gols, não sei se do Manfrini, o dos 3 a 2, ou do Dionísio, que fechou a goleada, meu pai esmurrava uma cadeira. Fez voar o cinzeiro, as cinzas, os tocos. Até hoje, quase quarenta e dois anos depois, as imagens são muito claras. E parece que ainda escuto o som seco das pancadas.
A partir daí, o Fla-Flu passou a fazer parte da minha vida, assim como da de todo mundo que mergulha no mundo do futebol. Como dizia Nelson Rodrigues, o Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. Talvez, antes desses dois jogos, tenha sido o meu nada ou, então, tudo era paisagem mesmo.
São os clássicos que colocam a magia do futebol na nossa imaginação. São eles que movem as multidões, que atraem a atenção, que incorporam a paixão. Então, um simples jogo de bola se transforma em algo mágico, às vezes, sobrenatural.
Panorama Tricolor
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