Vergonha na cara (por Paulo-Roberto Andel)

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É praticamente uma façanha: mesmo com uma pontuação bem diferente no campeonato brasileiro, o Fluminense conseguiu realizar seu segundo semestre consecutivo expondo seus torcedores ao ridículo. Duas debacles impressionantes; a primeira, mais grave; a segunda, definitiva.

Depois de um 2013 pavoroso, salvo por André Santos e sua imprensa esportiva esquecida, esperava-se de 2014 um mínimo de comprometimento do elenco tricolor. A resposta veio em momentos patéticos nas atuações contra Horizonte, América-RN e Chapecoense.

Na amarra de contratos megalômanos com os “atletas” (feitos por Dr. Caetano e Dona Unimed), rescisões são inviáveis. Quem quer contratar grandes craques entediados que jogam o “me engana que eu gosto” e gastam o tempo em declarações estilo TV Fama?

Bastou passar a eleição passada e a direção tricolor aponta a cada dia para os caminhos do surrealismo. O voto de confiança dado a Peter Siemsen em meio ao caos do ano passado, medido por estrondoso resultado eleitoral favorável, foi diluído em silêncios constrangedores na defesa institucional do clube, em mais um aceite de Renato Gaúcho (ídolo eterno dentro do campo) como treinador e a completa apatia do caso atual, onde jogadores posam como dirigentes do Tricolor, dão esporro em torcedores e depois deixam claro que “sem dinheiro, a coisa desanda” (aos desavisados, o nome disso é entrega). Reconheço em Peter a honestidade e a luta contra um dragão que é a dívida do clube; porém, ser presidente do Fluminense é mais do que ser gerente de contas.

Chega a ser inacreditável que, depois das cenas de 2013 e 2014, jogadores como Fred, Wagner e Sobis se prestem a papéis midiáticos tão ridículos, tratando o lugar onde ganharam milhões de reais como um feudinho. Pensando bem, os papéis não são inacreditáveis, mas sim a falta de vergonha na cara em rechaçá-los. É inaceitável que Mário Bittencourt ou qualquer outro dirigente cogite passar a mão na cabeça dessa turma que já disse a que veio – quem se lembra do jogo contra o Santos no final do ano passado?

Que fiquem de lado as vaidades pessoais, a prepotência, as barganhas pessoais, até mesmo o jogo político que cerca a situação atual. Um time e uma diretoria com vergonha na cara são o anseio de todos os tricolores, independentemente de outros confrontos do jogo social. Trata-se de uma questão geral. Que os torcedores, sócios e conselheiros comecem desde já a cobrar, questionar e não aceitar essa pasmaceira que já ameaça e compromete 2015 antes do fim da atual temporada.

E antes que eu me esqueça: poupem-me do ridículo de tratar Fred como Pelé, numa demonstração de carência e ausência de autoestima. As discussões sobre fazer gols como argumento para que ele tenha direito de praticamente urinar no pé dos torcedores são constrangedoras. Para fazer tais gols, Fred se tornou o jogador mais bem pago dos 112 anos de Fluminense. Joga dentro da área. Teve como companheiros jogadores velozes ou de fantástica qualidade técnica. Bateu 30 pênaltis. Definitivamente, não fez nada sozinho. Merece respeito por seu talento e seu passado. Salvo momentos esparsos, hoje atua a maior parte do tempo como um ex-jogador. Quem quiser que o idolatre como semideus, mas não é meu caso: aplaudi Romerito, Assis, Edinho, Renato e outros grandes campeões. Imagine Waldo, Preguinho, Russo, Telê, Hércules e outros dizendo ordenar greve do time ou dando esporro na torcida que acabou de ser humilhada com o Maracanã cheio? E Pelé, o maior de todos, JAMAIS desrespeitou o Santos em 74 anos de vida.

Para finalizar: Fred está longe de ser o único culpado. É apenas o mais caro e um mau capitão, incensado por manchetes estrambóticas. O time inteiro já era. O time inteiro. Ou renova-se através de dispensas e trocas, mais repasses ou, desde já, o Fluminense é candidato a jogar a série B em 2016.

A salvar, Marlon, Mattis, Edson, Cícero, o herói Conca e a garotada.

Aos campeões de 2010 e 2012, meu muito obrigado pelo antes, não por este agora um tanto pestilento. Que sejam felizes em novos empregos. Pelo visto, nas charmosas Laranjeiras com treinos às cinco da tarde, a felicidade não lhes soa possível.

Chega de ser refém de jogadores. Uma vaga na Libertadores não encobre este mar de lama.

Pelo visto, mesmo com muitas cristovices, nosso (justamente) questionado treinador também não é o único culpado. Afinal, está tão enrolado quanto estiveram Abel, Luxemburgo, Dorival e até mesmo Renato, apenas para falar desse pavoroso biênio. São todos “burros” ou reféns de mercenários? Sejamos razoáveis.

Diretoria que eu apoiei e defendi, vergonha na cara por favor. Atitude. Ajam como tricolores, sem paixões exacerbadas mas também sem sangue de barata ou cara de paisagem.

Só.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: king crimson, “in the court of the crimson king”, 1969

O ENGENHEIRO E A ESFINGE 19 11 2014

6 Comments

  1. Estou muito desanimado com o Flu. E mantendo o Cristóvão como treinador, podemos esperar que nossos jovens talentosos não terão vez. Estamos fadados aos mesmos fracassos de 2014 com a mesmas desculpas. Que o elenco é reduzido, que temos deficiências em diversos setores e que não reforçamos o time com novos medalhões.
    Ou seja, tudo para continuar do jeito que está. Lamentável

  2. Grande Andel,
    o ocaso de uma equipe durar tanto é que nunca vi! Seus últimos raios de luz foram até sacramentar o caneco de 2012, de lá para cá, enxugaram gelo. Se eu tivesse talento, escreveria quase igual a ti, tirando a parte do apoio e defesa. Embora não negue os avanços, principalmente em Xerém e no SF, sendo o último com sérios problemas desde o nascimento.

    ST

  3. A pergunta que não quer calar. Celso Barros permitirá a venda de Fred? Quem será o garoto propaganda nas entrevistas em que aparece ao fundo propagandas com os reluzentes painéis da Unimed ? Jogar bola é o de menos. Liderança positiva e defender a instituição pra que? Basta ser falastrão e ter um painel ao fundo. Nestas horas me ponho no lugar do pequeno Conca. Que bom ser tímido.

  4. O ano de 2015 do Fluminense será tenebroso. Com esses jogadores mercenários e suas entregadas ou com o ‘bom, bonito e barato’ dos anos 90 de volta.

  5. Caro Andel,

    Será que os nossos jogadores estão assistindo os jogos do Atlético-MG (que tem jogado com uma garra espetacular, correndo e suando sangue do primeiro ao último minuto de cada jogo)?

    E me lembro que o Fluminense do Cuca nos últimos jogos do brasileiro de 2009 jogou exatamente assim.

    Creio que com alguns jogadores do atual elenco (que você apontou) mais os melhores garotos de Xerém poderemos jogar em 2015 como aquele time do Cuca do fim de 2009.

    Saudações…

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