As manchetes de ontem batiam dolorosamente no Time de Guerreiros. Vergonha, vexame, vendidos. As manchetes de anteontem elevavam às nuvens o mesmo elenco. Moderno, majestoso, modelo. O que mudou em vinte e quatro horas? O que era ouro transformou-se em lata tão rapidamente que nem o brilho mais percebemos? Será que existe explicação? Justificativa? Causa? Quaisquer perguntas não podem ser respondidas sob a influência máxima da paixão. Já não podiam antes. Agora menos.
Fomos derrotados de maneira acachapante no Maracanã. Caímos de maneira inacreditável ante um adversário tido como inferior. Surpresa total? De fato, não. Você, leitor do Panorama, leu as advertências de Rods de que “todo cuidado é pouco” antes do jogo. Se não leu, leia, sempre vale escaldar o gato: http://www.panoramatricolor.com/pra-valer-a-classificacao-por-rods/
O que também não significa, nem de longe, que era um resultado esperado. Ou normal. Ou qualquer adjetivo que não passou pela cabeça de nenhum tricolor na quarta-feira. Sim, foi uma derrota divisora de águas, inconcebível, mas que demonstra exatamente o que é o futebol: um esporte em que onze enfrentam outros onze em um espaço por onde o imponderável passeia. Depois da derrota, mesmo com qualquer dificuldade de sono, a primeira lição: o mundo não acabou, o dia raiou e não foi o pior “day after” que já tivemos.
Dentro da análise de noventa minutos, a derrota explica-se por alguns fatores, entre eles, o principal: entramos já classificados, o jogo em si era mera formalidade. E quantas vezes o futebol mostrou que não é feito de formalidades? Eles fizeram um a zero, nós aumentamos o ritmo, viramos. O misto do Flu era suficiente para passar sem sustos. Talvez, se tivesse entrado em campo na segunda etapa.
O que se viu foi um América aguerrido, lutando pelo impossível (lembram-se do “eu acredito”? Pois bem, eles acreditaram), ao passo que o descompromisso causado pela classificação virtual transformava-se em uma sucessão de erros tenebrosos que nos fizeram tomar quatro gols no segundo tempo. Se Fabrício teve a pior atuação de um ser humano trajado com as vestes em três cores, o restante não pode ser poupado. Jean e Valência pouco combateram; Elivélton entregou a rapadura várias vezes; Cavalieri parecia um goleiro juvenil; Carlinhos dormia; Bruno era Bruno – e isso já basta para condená-lo. O ataque pouco incomodou e o meio pouco produziu. A derrota deve ser o mais coletivo de todos os bens.
Faltou na noite de quarta o espírito do Time de Guerreiros que, já há algum tempo, desaparece quando a maré torna-se favorável. Adeptos do surfe, nossos atletas passeiam pelas boas ondas até que o caixote imperdoável aparece. Somos guerreiros na derrota. Somos sangue quando decaem as esperanças. Eis um equívoco a ser trabalhado. A garra e a entrega em cada jogo são elementos que compõem a beleza tática e técnica. Não devemos abrir mão de uma pela outra. Temos de ter tudo, somos a história, não nos esqueçamos.
Fica, em cotejo às análises que vinham antes da quarta, a certeza de que não estamos no olimpo do futebol nacional. Temos um bom esquema tático, jogadores lúcidos e um time qualificado, com algumas boas peças de rotação. Essa é a realidade. Não temos um elenco maravilhoso. E, às vezes, as boas peças não demonstram vontade de brigar por um lugar no relvado, por sair do banco e mudar o jogo. Estamos nos acostumando à acomodação. Mas, a vitória só existe além do limite da zona de conforto.
Que as notícias de problemas quanto à renovação de contratos não sejam responsáveis por desânimos. Ainda que alguns desses atletas possam não renovar seus vínculos – não tratarei aqui se acertadamente ou não – resta a lembrança de que são jogadores supervalorizados no cenário nacional e de que recebem muito bom dinheiro da patrocinadora para cumprir com responsabilidade, respeito e dedicação seus compromissos com o Fluminense até o último dia de seus contratos.
Enfim, não somos a reedição da Máquina Tricolor. Por outro lado, não somos o Íbis que tentam nos impor. Saibamos enxergar com equilíbrio as armadilhas de Fausto que nos levam à soberba ou o complexo de vira-latas que nos impossibilita os sonhos mais altos. Nem oito. Nem oitenta.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: ffc
Rods comenta:
É, meu caro Sir Walace… complicado esse nosso time. Se a teoria da Sul-Americana corresponder à verdade, que ao menos entrassem os reservas. Aliás, se entrassem, era bem provável que tivéssemos metido um um três a zero. Vergonhosa a postura do time, que nem tinha certeza que beliscaria a vaga no outro torneio, dentro da regra idiota da CBF.
O departamento de futebol, incluindo comissão técnica e jogadores, deveriam agradecer o Santos em carta oficial.
Se foi o acaso, digo, a falta de vergonha na cara e fanfarronice em campo que nos deu essa derrota vexatória, realmente não me leram e nem se deram o trabalho de analisar a nossa história na competição.
Abraço e ST!