FlaPress: 90 dias (por Paulo-Roberto Andel)

Lá se foram três meses.

Noventa dias.

Nunca a amnésia coletiva tinha sido tão forte na história da imprensa esportiva do Brasil, particularmente o eixo Rio-SP, maior da América Latina.

Sucedeu que o domingo de 8 de dezembro do ano passado foi um dia histórico no lapso de centenas de profissionais da informação jornalística, todos acostumados a tratar dezenas de dados diariamente.

A história todo mundo já sabe: o lateral André Santos, suspenso e com vasta divulgação midiática, entrou irregularmente em campo na partida contra o Cruzeiro, na véspera. Por isso, o Flamengo foi ao desespero, inclusive com escândalo no vestiário devidamente abafado por quem tinha a obrigação de informar. Com certeza, Pelaipe não estava fazendo palestra de auto-ajuda no intervalo.

Rádios, TVs, jornais. Ninguém lembrou do óbvio.

Uma coincidência do tamanho da Mega-Sena da Virada.

A fanfarronice do sábado, uma vez divulgada, seria o assunto reinante em todo o país, uma vez que mexeria com a tabela na zona de rebaixamento.

Ninguém lembrou.

Então, Fluminense e Vasco, a caminho da forca, foram para as batalhas finais.

Incrivelmente, o gol de Samuel garantiu a vitória contra o Bahia na Fonte Nova lotada, a minutos do fim. Mas as cabeças estavam baixas: não era suficiente para a salvação. Ou melhor, era mas ninguém sabia. Ninguém na imprensa lembrou do problema fatal de André Santos.

No Sul, em circunstâncias estranhíssimas, o Vasco voltou a uma partida completamente sem condições de segurança. Acabou goleado. Claro que o extracampo afetou.

Quem cairia com o gol de Samuel seria o Flamengo, pela óbvia afronta à lei e a punição certa no STJD.

Mas não é que a Portuguesa cometeu o mesmo erro e escalou um jogador irregular?

E salvou o Flamengo sem querer. Suicidou-se no caso Heverton. Ah, Lusa kamikaze. Tudo pelo Império do Sol.

Imagine se, na sua rua, num intervalo de 22 horas, duas pessoas caem do oitavo andar do mesmo prédio em cima da mesma copa de árvore, desabam no chão e saem andando sem qualquer sequela. Na rodada 38 do Brasileiro 2013 isso foi fichinha.

O resto? Goleada evidente no STJD. O Flu massacrado criminosamente pela imprensa marrom, a honesta Lusa tungada… e o Flamengo? Ninguém da imprensa lembrou que era o principal interessado no imbróglio. Deu até livro, dos bons.

Os dias foram passando, o óbvio ficou cada vez mais óbvio e o assunto minguou.

Com certeza, não foi para proteger o Fluminense, nem o Vasco.

Ida à CAS ou verborragia na Justiça Comum são atos para desfocar a visão periférica da questão.

O procurador Senise calou-se.

Alguém lembrou ao Juca para não entrevistar o Papai Noel: “Vai dar merda!”

Os frenéticos Mauro Cezar e Antero, outrora agressivos e quase em cólera, tornaram-se tranquilos ursinhos panda na savana.

Com certeza não foi para proteger o Fluminense. Nem o Vasco.

Um conhecido editor de esportes que costuma ridicularizar leitores no Twitter sobre o tema é, sim, o mesmo que, por coincidência, responde por quem lá suprimiu trecho de uma coluna lidíssima, onde se pedia (com justiça e delicadamente) que o Fluminense tivesse a mesma consideração que o time mais protegido a respeito de conquistas mundiais – no mesmo site, um afetadérrimo colunista discorda com veemência. Frenesi!

Depois de 90 dias, o silêncio da imprensa sobre o rol de coincidências permanece. Mas tem uma falha arterial grave: não estamos no AI-5, então existe através da internet a possibilidade de contraditórios. E de réplica.

Um dos editores do PANORAMA é descendente de judeus e árabes. Garantia de memória de elefante e que, pelo menos, nos próximos 600 anos, o caso Flamenguesa não sairá da pauta.

Até que provem que os suicidas fracassados das árvores cabem em outra realidade que não a de Saramandaia.

A última? Boni e Zico pré-campeões do Carnaval.

Mega-Sena da Virada à Canindé? Show do Milhão? Você decide.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: PRA

2 Comments

  1. ST**** Paulo-Roberto

    Outro fenômeno interessantíssimo verificado é que logo a seguir ao suicídio,
    a pessoa que se atirou depois serviu de aparo para o que caiu primeiro.

    A lógica de Saramandaia e as Leis da Física como as escreveu Macunaíma.

  2. O pior é o Senise. Era um falastrão até descobrir que iria ter que mexer com Globo e Flamengo. Sumiu de cena.

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