Por muito tempo achei que a culpa de não ver o Fluminense campeão era minha. Todas as vezes em que eu tinha entrado em um estádio para um jogo decisivo, tínhamos saído derrotados. Aliás, minha primeira vez no Maracanã foi em uma final de campeonato Carioca em que perdemos a partida por 2 a 0 para o Vasco em 1994. No ano seguinte, por conta de infortúnios da vida, acabei não conseguindo ir à final contra o Flamengo. Vi o jogo de casa pela televisão. Resultado: fomos campeões com um gol de barriga do Renato Gaúcho aos 41 minutos do segundo tempo. Antológico. Eu não estava lá.
Aí vieram os anos de chumbo da história tricolor.
Depois em 2002 contra o Americano eu não estava lá.
2005 contra o Volta Redonda eu também não estava lá.
A culpa definitivamente era minha. Eu amava ir ao estádio, porém amava ainda mais ver o Flu campeão e isso me afastava de ver os jogos decisivos in loco. Meio de campeonato, estreia, jogos sem importância maior, eu ia sem o menor medo. Vitórias ou derrotas não me faziam pensar em algo tão grandioso ou terrível. Eram eventos normais do futebol. Mas uma final era algo que eu temia.
2007 contra o Figueirense eu não estava lá. Fui a todos jogos no Rio de Janeiro até as semifinais. Todos. À final não. Quando Adriano Magrão escorou para o fundo das redes o belo passe de Thiago Neves eu não estava lá. Em Florianópolis também não.
Veio 2008 e a mágica campanha da Libertadores. Washington Coração Valente desperdiçou a última cobrança de pênalti a minha frente. Lá estava eu.
Fred se destemperou na final contra a mesma LDU do ano anterior e foi expulso. Marcamos 3 gols, porém o quarto, necessário para nos levar a disputa de pênaltis não chegou. Lá estava eu.
Em 2010 fui a todos os jogos do Fluminense em casa e ainda a uma antológica partida contra o Santos na Vila Belmiro em que saímos vitoriosos com um gol de Alan. O dia 5 de dezembro, quando estava marcado o jogo contra o lanterna Guarani, se aproximava. Eu me dividia entre a alegria de ver meu time tão bem e prestes a vencer um campeonato nacional e a angústia por imaginar que todo o roteiro poderia se repetir, pois eu estaria lá e não abriria mão disso.
Jogo amarrado, poucas chances, jogadores visivelmente tensos e um adversário, que mesmo rebaixado, corria pela possibilidade de ganhar um prêmio extra, pago pelos adversários diretos do Fluminense, que necessitavam de um tropeço nosso para almejar o título. A famosa “mala branca”. Menos de 10 minutos para o fim do jogo e nada. Todo peso de anos de sofrimento recaíam sobre meus ombros e eu me culpava, pois “aquilo estava acontecendo por minha causa”.
Fui sozinho ao jogo, como faço de costume. Naquele dia fiz questão de não encontrar nem os amigos de sempre. Queria vibrar ou sofrer só. Era uma dívida que tinha comigo mesmo e precisava pagar.
Gol aos 36 minutos do segundo tempo. O grito que arranhava a garganta era como o som primitivo de um bebê em seu primeiro contato com o mundo. O primeiro suspiro de vida após anos de clausura. A culpa nunca mais faria parte de mim.
Eu estava lá.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @nestoxavier
Nasci e moro em Santos, e eu também estava nesse jogo da Vila Belmiro em 2.010. Bela postagem !