Para quem é fanático por futebol, pior período do ano é entre dezembro e janeiro: o calendário (gordíssimo) cerra portas, os fanáticos começam a procurar qualquer pelada que se possa assistir, parece que o mundo fica vazio – “apenas” festas, família e a certeza de um mundo melhor que nem sempre é tão certa assim. Os jogadores conseguem as tão sonhadas férias, nenhum treino, nenhuma concentração e, salvo meia-dúzia, que fazem? Correm para o primeiro sintético, várzea ou terra batida que veem em busca de… peladas!
O aperitivo de janeiro? A Copa São Paulo de Juniores, popular “Copinha”, agora um Copão com trocentos mil times. Em tese, pré-temporada, anúncios de contratações que jamais vão se consolidar (especialmente na Gávea, desde os tempos de Cruijff, Gullit e até Maradona), os times à meia-boca mesmo com bases mantidas, o estadual começa geralmente em Bangu com aprazíveis temperaturas de 50 graus Celsius. E aí o ano dispara, salve-se quem puder, S.O.S.
Ao que tudo indica, um quiproquó danado para 2014: os jogadores, via sindicato, chiaram com razão sobre a antecipação da temporada. E tome Copa do Brasil e Sulamericana enfiadas nos intervalos do Brasileirão. A televisão donatária botou sua grana, fez-se banco para os clubes, ela dita o que deve ser feito e acabou. Jogos às 21 horas de sábado, jogos às 18.30 de domingo, jogos às 22 h de quarta-feira. Plim-plim.
Quem tem razão nessa história?
Claro que o calendário tornou-se (ou melhor, foi propositalmente tornado) desumano. Ei, rapaz, experimente você mesmo ter que ir e voltar de avião três vezes por semana cruzando o Brasil pra todo lado: com certeza ficará bem cansado mesmo sem correr.
Agora, bom que se diga, os clubes aceitaram porque quiseram. Lá atrás, rifaram a transmissão a troco de banana, querendo poupar custos com logística nas arquibancadas – tanto que as cotas de transmissão eram calculadas em cima de um “publico estimado” do time X numa competição Y. Aí, o torcedor afastou-se aos poucos – com o novo Maracanã há indícios de retorno, mas ainda tímido -, passou a ver futebol nos bares (onde beber é permitido) ou em casa. Sessenta anos de cultura do Maracanã jogados no lixo, a reconstrução é agora. Hoje, todo mundo já tem suas receitas antecipadas, Plim-plim faz o que quer. Manda. Ordena. Decide.
Mesmo assim, somos obsessivos. Queremos e queremos jogos, estamos aí e acolá para isso. Gols, jogos, vitória, pequenos ensaios de amor. Queremos secar os adversários. Queremos outros jogos de passatempo.
Os jogadores querem descansar. Merecem. Mas não cabe repouso em quadras de futevôlei, matches de showball, disputas no futebol de areia, terra, grama e o que mais vier, certo?
E quando não tem jogo, as manchetes ficam ainda piores: na falta de notícias reais, o mundo da fantasia povoa as páginas. Uma invenção do Professor Pardal atrás da outra.
O mundo das grandes metrópoles é cheio de engarrafamentos, tumultos, disputas, caos, obsessões. O esporte mais popular no Brasil não poderia ser imune a isso. Com tudo isso e muito mais, o maravilhoso mundo do futebol ainda é duas mil vezes melhor do que encarar os noticiários onde o pai mata a família, o sujeito enterra um sujeito vivo, a polícia estupra uma menor de idade e por aí vai.
Hoje é quinta-feira?
Chegue logo, sábado, que eu preciso desesperadamente do Fluzão em campo no Serra Dourada!
Panorama Tricolor
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Imagem: PRA – Blog Otraspalabras!
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