I
Aula de Cálculo I do Professor Pinha. Todo calouro de matemática ou informática da turma da manhã na UERJ tinha que passar por essa turma. A cada semestre, de quarenta, só cinco iam para a prova final, reflexo do péssimo ensino de matemática no segundo grau.
A aula do Professor Pinha era absolutamente espetacular. O Pinha era uma figura. O terror da calourada. Não matávamos essa aula por nada nesse mundo.
Pois bem: eis que, numa dessas aulas, começo a ouvir uma gritaria no corredor. Parecia uma horda de bárbaros invadindo uma cidade inimiga e deixando seu rastro de destruição. E, no fundo, os veteranos na hora do trote se comportavam como bárbaros mesmo. O Pinha adorava!
De repente, os bárbaros entram na sala, anunciando que era o grande dia. Era o dia do trote da calourada de Matemática, Informática e Estatística da manhã. Na frente da sala discursavam Paulo Roberto Andel – sim, ele mesmo – e Sérgio “Metal”. A turma estava um alvoroço só. Eu já tinha passado por dois trotes: na PUC, onde comecei o curso de tecnólogo de processamento de dados no ano anterior e abandonei por motivos financeiros e na Rural, onde fui iniciar o curso de Matemática para adiantar (já sabia que ia para UERJ no ano seguinte, o que foi um tiro no pé já que as federais entraram numa greve longa naquele ano). Mas, cada trote é um trote.
O trote foi bacana, divertido e cumpriu seu papel de integração dos calouros com os veteranos. Mas, não sei por que motivo, daquele trote surgiu uma pendenga com Paulo Andel (conhecido como Paulo Brou) e um ódio mortal do Sérgio “Metal’. Coisas da juventude.
II
“Pinha, como está a prova?”, perguntou um calouro.
“Eu fiz e tirei oito”, respondeu o professor, com aquele jeito sarcástico de ser.
Esse era o grande e inesquecível Professor Pinha. Gordo, voz grossa e sempre com uma risadinha zombeteira. As aulas dele eram inesquecíveis.
Recebo a primeira prova de Cálculo I e na primeira questão já vem o enunciado: “Um indefeso aluno de cálculo fugindo do seu temido professor”… Pinha era uma figura!
Ao receber a prova, vanglorio-me da minha nota cinco. Isso mesmo. Tirar cinco com o Pinha era motivo de orgulho. Uma colega de classe recebe sua prova que vem com um Band Aid colado, um desenho de sangue saindo e os seguintes dizeres: “Este corte foi muito profundo”. A menina numa parte de um limite que continha a expressão (x-1/1) cortara um do “numerador’ com o um do “denominador”. Ui! Só os fortes entenderão!
III
Sala Maracanã. Todo andar na Uerj tinha a sua. Era uma junção de três ou quatro salas que formavam uma sala gigantesca e onde turmas do mesmo período de determinada matéria eram juntadas para as provas.
Entro às 8:00 para iniciar a prova de Álgebra Linear I, da excelente professora Myrian Sertã. As aulas dela eram um luxo. Didática demais e adorava a profissão que exercia. Tem gente que nasceu para ser professor. Myrian Sertã era uma delas.
Lá pelas 11:30 entrego a prova, cambaleando, tonto. Isso mesmo, as provas duravam até quatro horas. A professora mandava resolver matrizes quilométricas que davam um trabalho gigantesco para fazer. Mas valia a pena. Sempre vale!
IV
Professora Janette dava aula de Álgebra do primeiro período ao quarto período. Uma professora sensacional. Como a Myrian citada acima, tinha uma didática espetacular e adorava a profissão.
Tinha a vocação para o magistério. A diferença dos professores ligados a área de matemática aos de informática (nem todos) era gritante. As maiorias dos professores de informática normalmente estavam no mercado de trabalho e iam pra UERJ dar aula. Não viviam do e para o magistério. O guru deles, amado por todos, era professor 40 horas, trabalhando na IBM e dando consultoria. Alguém poderia explicar-me isso?
Na Matemática, não. Viviam só para dar aulas. E elas eram mágicas.
Infelizmente, no meu segundo período, a professora Janette faleceu, pasmem, por causa do giz. Total paradoxo.
E nunca mais até o final da minha estadia na UERJ lá houve uma professora ou professor que a substituísse à altura. Álgebra era um pré-requisito quase toda a grade curricular. E a morte da Professora Jannete – aliada a minha militância política – foi uma perda irreparável sob o meu ponto de vista acadêmico.
Jorge Guilherme, José Fabiano, Marilanda, Magela, de Geometria, Flávio, de Geometria Descritiva, Ana Luiza de Análise Matemática, Amâncio Cesar (chefe da TOV), de Cálculo, todos estes grandes professores do IME-UERJ que nunca me esquecerei!
Epílogo
E o que esta história toda tem a ver com o Fluminense? Nada!
Mas, ao lembrar que o Fluminense foi campeão brasileiro em 2010 e depois em 2012, de novo e que estamos em 2014, isso me sugere uma P.A (progressão aritmética) de razão dois e que seguindo os acontecimentos relacionados a essa mesma P.A., seremos campeões brasileiros de novo.
E como fiz Matemática na UERJ, as lembranças vieram todas. E A UERJ me deu muito: formação, caráter, belos amigos, o amigo e sócio de Panorama, Paulo Andel, e de forma indireta, o amor da minha vida!
Mas, voltando ao Fluminense, sábado começa o Campeonato Brasileiro e este time é uma incógnita. A maior parte do time titular faz parte do elenco campeão brasileiro de 2012, alguns são até remanescentes da campanha de 2010. O time ainda teve a volta do deus supremo Conca e a chegada do excelente Walter. Olhando por esse prisma, sugere que disputaremos o título. Mas boa parte desse elenco que foi tetracampeão em 2012 fez também parte da campanha medíocre do ano passado, o que nos levou às últimas posições do campeonato.
A chegada do Cristovão melhorou o time em relação ao que vinha jogando esse ano. O grupo voltou a jogar com raça e disposição. A diretoria vem acertando suas dívidas com os jogadores, dívidas essas formadas porque o Fluminense teve seu dinheiro politicamente penhorado ano passado.
Precisamos de uma zaga nova, um volante de qualidade e um atacante de velocidade. Não temos dinheiro para contratações no momento já que não podemos contar com a Unimed para isso. Terá que ser na criatividade!
Que em 2014 a P. A. de títulos siga firme e forte! Eu sempre acredito no Fluminense
Posfácio
Esse texto é dedicado ao maior de todos. Meu professor de Funções de Variáveis Complexas, meu amigo, meu camarada de tantas lutas na UERJ e no estado do Rio de Janeiro, meu fiador num apartamento que vivi por oito anos da forma mais feliz possível na minha amada Tijuca, durante uns meses parceiro de sinuca, um excelente papo, um vigor em pessoa até os últimos dias de sua vida, uma mente brilhante, um quadro lindo (que letra ele tinha no quadro), um irrequieto por natureza.
Falo de Antônio Braga Coscarelli. O Cosca ou Cosquinha. Nesse momento, as lágrimas me chegam. Certas pessoas não deveriam morrer, Coscarelli era uma delas.
Saudade eterna!
Caldeira, passei pela minha saudosa UERJ um pouco antes (1983/85). Lembro de alguns excelentes mestres, como o Amâncio César, grande vascaíno. Também cursei Matemática (incompleto), pois não suportei rsrsrs. Depois, me formei em Contábeis e Direito… Muitas saudades, inclusive de minha Vila Isabel.
Espero que sua P.A. esteja corretíssima. Seria maravilhoso para nós Tricolores e um tapa com luva de pelica nesta imprensa covarde.
Grande abs, Luiz.
Marcus,
fomos contemporaneos no IME-UERJ. Entrei em 88, juntamente com Paulo Tib. Acho que eu era um dos veteranos ali em sua descrição. Segundo o Brou, esse apelido dele foi dado por mim, mas nem me lembro disso. Parece que um dia me perguntaram “mas de qual Paulo voce esta falando?” Como nao sabia o sobrenome dele, disse “o Paulo Brou”, ja que ele chamava todo mundo assim.
Bons tempos, mesmo so tendo ficado la por 2 anos. Passava muito tempo na “seis mil e hall”. Bar Loreninha…
Andel: Confirmo a informação. Naquele tempo, eu estava muito voltado em sacanear calouros que tinham visual de surfista e chamava-os de Brou. De tanto falar, o Valença (Marcello Goulart) passou a me chamar assim, Tiba e Bola também. Deu nisso.
E eu que logo de cara, recebi o apelido de Velho de um cara que tinha apelido de Vovô! kkkk
Vinicius, me causou forte emoção saber destes detalhes, que eu ainda não sabia, da sua vida universitária. Quero que você saiba que eu me orgulho muito de você.
Beijos
Valeu, pai!
Te amo!
Beijos!
Vivone:
Amigo, belas lembranças da nossa UERJ.
Quanto à PA, dado todo o quadro do clube, as deficiências do time e do elenco (citadas por vc) que parece que nunca conseguiremos sanar, jogador estrela da companhia que parece estar mandando mais do que o presidente e jogando pouquíssimo (ou nada) etc., acho que é no mínimo caso de PG.
Abraço.
Amigo Caldeira,
Sou de humanas, também na UERJ, fui do 12. Lendo este artigo, a saudade bateu suave no meu coração. Parabéns pelo texto, me fez lembrar de grandes momentos da minha vida.
Obrigado, meu amigo!
A UERJ é inesquecível!
These are days you’ll remember.
Never before and never since, I promise, will the whole world be warm as this.
And as you feel it, you’ll know it’s true that you are blessed and lucky.
It’s true that you are touched by something that will grow and bloom in you.
These are days you’ll remember.
When may is rushing over you with desire to be part of the miracles you see in every hour.
You’ll know it’s true that you are blessed and lucky.
It’s true that you are touched by something that will grow and bloom in you.
These are days.
These are the days you might fill with laughter until you break.
These days you might feel a shaft of light make it’s way across your face.
And when you do you’ll know how it was meant to be.
See the signs and know their meaning.
It’s true, you’ll know how it was meant to be.
Hear the signs and know they’re speaking to you, to you.
https://www.youtube.com/watch?v=2gnQ7SLnbu0