CONTÉM LINGUAGEM FORTE
Chiquinho está tenso. Teve uma discussão séria com o adevogado Happybath por meio eletrônico, dias depois de ambos se abraçarem e trocarem juras de amor num evento político comum. O Fluminense está mexendo com as emoções diferentes de alguns de seus torcedores.
Sempre foram unha e carne, pele com pele. Frequentaram os mesmos circuitos. Riram a valer em festas do babado, mas Chiquinho externa seus desejos homoeróticos com mais vigor, digamos. Para se imiscuir do amor que não ousa dizer seu nome, Happybath chegou a ponto de assediar mulheres em ambientes profissionais, contando com a impunidade e também com o status que isso poderia lhe dar num cenário machista e escroque. Tudo pelas aparências. Chiquinho e Happybath são praticamente a mesma pessoa, a ponto de alguns amigos íntimos apelidarem este de “Zanzibarba”, por conta de sua aparência de rosto peludo.
O motivo da discussão foi um levadinho que Happybath havia prometido a Chiquinho, por conta de serviços prestados a jovens promessas oriundas da base tricolor. A tia velha havia cuidado de dois beninos e passou ao amigo as lidas empresariais. O acerto foi feito num endereço de muita intimidade para Chiquinho: o bar Eclipse, um recanto da diversidade sexual de Copacabana. Íntimos, camaradas, falaram sobre tudo na ocasião, tanto do Fluminense quanto de fora (ou de dentro).
Passados os meses e com a confirmação das transferências dos beninos, Chiquinho encontrou Happybath em vários eventos públicos, sem que conversassem sobre o assunto. Então Chick passou a telefonar, mas o telefone de HB estava sempre na caixa postal. Avarento como sempre, o efeminado acaju resolveu mandar um e-mail perguntando sobre quando receberia o agrado, mas recebeu uma resposta um tanto inusitada:
“Francisco, que agrado? Desculpe mas não entendi. Minha relação com você é de amigo. Se você entendeu alguma coisa relativa à sua orientação sexual, acho que se equivocou. Eu gosto é de mulher. Um abraço”.
A mona ficou puta nas tamancas. Além de caloteiro, o ebó ainda deu pinta de machão. Fascista por natureza, Chiquinho não deixou pedra sobre pedra e mandou uma resposta na lata:
“Escuta aqui, seu adevogado de porta de cadeia, você tá pensando o quê? Que todo mundo é otário? Só vou te dar o papo: tou esperando minha comissão há seis meses e você tá de safadeza. Para de pagar de otário e trata de acertar comigo, antes que umas fotos tuas de vestiário vazem por aí. Rainha do Eclipse querendo posar de bom moço hetero. Acha que tá enganando quem, seu filhadaputa? Quanto maior a altura, maior a queda. Desce do salto e se manca”.
“Francisco da Zanzibar, eu quero lhe lembrar de que você está cometendo crimes previstos no Código Penal. Cuidado, porque posso lhe processar. Tenho prints seus das redes sociais, mensagens comprometedoras, áudios de Whatsapp e, claro, te grampeei, seu TROUXA.”
“Claro que pode, seu viadinho de merda. Assim como eu tenho seus endereços e posso passá-los para um “escritório de cobrança”, se é que você me entende. Ou conversar com amigos da RFB. Ou mostrar ao mundo quem você é. Caloteiro de merda, safado, mona de sauna, bem que nosso irmão tinha me dito das tuas safadezas. De repente, alguém publica na internet o blog Diário de Happybath e as coisas vão ficar muito ruins para você. Eu mando nessa porra. Quer ficar me desafiando, tenta a sorte. Na minha terra, ingratidão se paga com navalha na carne. E avisa pros teus capanguinhas de merda que eu tenho uma lista telefônica inteira das tuas histórias. Vai ameaçar a puta que te pariu. Eu sei o que você fez na sauna. E também posso ter garotas e garotos dispostas e dispostos a te denunciar por assédio (homos)sexual. E posso contar por uma boa grana as tuas peripécias na indústria da laranja. E você achou que não estava grampeado também, MONA OTÁRIA?”
(Chiquinho sendo Chiquinho)
(SILÊNCIO DE REFLEXÃO ENTRE OS PILANTRAS)
Horas depois, Happybath respondeu:
“Estou decepcionado. Não imaginava que você chegaria a um ponto tão baixo. Fomos irmãos, já tivemos nossos momentos fraternos. Não tenho porque responder nada a você por aqui. Resolveremos na Justiça.”
A tia velha de Copacabana acertou seu soco desmunhecante:
“Será que o pessoal vai reagir bem a este brinquedinho que fica ao lado da cama de um chantageador? Se liga. KKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Em dez segundos no Facebook te marcando. O Filhão vai adorar. Ah, ele também me deu um monte de e-mails teus… Agora vai, olha pra essa foto, vai pra frente do espelho e me diz o que você enxerga, Agnaldo Happy. Eu sou você. Você é a minha encarnação. Somos carne da mesma carne, ventre do meu ventre, seu ingrato de merda. EU SOU CHIQUINHO ZANZIBAR, EU SOU AGNALDO HAPPYBATH, ENTENDEU OU ENTENDÁ? ”
Zanzibarba larga o iPhone, começa a chorar e faz o que Chiquinho mandou. Corre para o banheiro, olha para o espelho do armário, sente remorso do calote e fixa a atenção na imagem. Ali, com as pupilas dilatadas e as retinas estáticas, ele vê seu rosto mudar de forma como se estivesse sob o efeito de uma viagem lisérgica, um lindo sonho delirante. Por alguns segundos, sua barba desaparece da imagem e ele deixa derramar uma derradeira lágrima hipócrita. Estava nu, teso, liberto e só conseguia enxergar o óbvio ululante: ele era Chiquinho Zanzibar. Finalmente Agnaldo Happybath entendia seu lugar na vida, na arte, no clube e no submundo: ele não passava de um Zanzibarba.
Voltou para o iPhone, pensou bem e respondeu a Chiquinho Zanzibar com uma frase definitiva: “Se quiser, podemos fazer um acordo. Eu sou você mesmo. Eu sou outro você. EU SOU VOCÊ, SEU FILHADAPUTA!”
Desta vez, o áudio de resposta no Whatsapp foi uma sonora gargalhada padrão Tião Gayvião.
Panorama Tricolor
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Imagem: laranja