Xerém sem máscaras, Fluminense aos corvos (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, há dois tipos de projetos de formação de categorias de base. Um deles, o tradicional, que permeou toda nossa história de glórias e conquistas, é a formação voltada para abastecer o futebol profissional com novos valores. O outro é o projeto puramente comercial, em que os jogadores são formados para o mercado.

No segundo caso, vale ressaltar, quem está por trás da estrutura são investidores. A atividade de clubes como Tombense e CFZ, por exemplo, é plenamente legítima, na medida em que a regra do jogo é clara e o ganho dos investidores decorre do seu investimento na formação dos atletas.

O Fluminense se tornou um híbrido. Na fachada continua sendo um clube que forma jogadores para seu elenco profissional. A realidade, no entanto, sobretudo a partir da chegada de Mário Bittencourt ao poder, é bastante diferente. O Fluminense é, declaradamente, um clube que forma jogadores para vender.

A questão é que o modelo adotado atualmente no Fluminense é ilegítimo, para ficarmos nos eufemismos. Porque o investimento feito em Xerém vem dos cofres do Fluminense, mas o destinatário das receitas provenientes das vendas é a banca.

Ah, mas o Fluminense, apesar das vendas ruins, tem arrecadado com as transferências. Sim, mas se é o Fluminense o único investidor, como pode ter que dividir as receitas com terceiros? Como aceitar que o Fluminense coloque o dinheiro e seja o único a não ter seus interesses representados nas negociações feitas?

Se temos uma política voltada para vendas e está o interesse do Fluminense acima de tudo, era para nós estarmos com nossa dívida reduzida e termos algum investimento decente em estrutura e futebol profissional. Vendendo esses atletas pelo valor de mercado, com 4 ou 5 transferências desses jogadores que estão surgindo aí dava para pagar a dívida do Fluminense inteira, mas não é o que vai acontecer.

Como explicar o clube perder de graça um jogador como Marcos Paulo, por pura negligência da atual direção? Mais de R$ 200 milhões jogados na lata do lixo. Mesmo comportamento que resultou na perda precoce de Evanilson. Quem é que está ganhando com isso, além dos clubes que desses atletas se apropriam?

Sim, alguns jogadores chegam a atuar pelos profissionais. Não sei se é esse o propósito, mas Xerém tem sido responsável por evitar rebaixamentos. Para quem tem dúvidas, na memorável vitória sobre o Bahia na última rodada de 2013, que nos salvou do rebaixamento, entraram em campo: Igor Julião, Samuel, Biro Biro, Rafinha, Kennedy e Robert.

Em 2015, o que nos salvou do rebaixamento foi Enderson Moreira ter segurado na equipe Gustavo Scarpa e Marcos Júnior, que seriam emprestados no meio do campeonato. Tiveram o auxílio prestimoso de Gerson para carregar aquele time a um porto seguro e quase o levaram ao título da Copa do Brasil.

Em 2018, o que salvou o Fluminense do rebaixamento foram os gols de Pedro. Depois que se machucou, o Fluminense caiu do meio alto da tabela para terminar o ano brigando contra o rebaixamento.

Quando você tem um dos programas de formação de atletas mais conceituados do mundo e o máximo que esse programa entrega ao futebol profissional é ajudar a evitar rebaixamentos, tem alguma coisa errada no caminho, e todo mundo sabe o que é.

Nos últimos dias o próprio noticiário se encarregou de arrancar todas as máscaras de Xerém. É o Fluminense quem banca, mas o Fluminense não manda nada. No máximo fica com as gorjetas. Se os amigos e amigas querem ver por um lado ainda mais obscuro e ultrajante, nós pagamos para os malandros se deleitarem no produto do nosso dinheiro.

Foi a tal “Geração dos Sonhos” fazer uma fumacinha, pronto, já veio o noticiário entregar a farsa que é a fábrica de craques de Xerém. Proposta de 5 milhões de euros por Kayky, considerado o melhor jogador Sub 17 do mundo. Nenhuma estranheza dos meios de comunicação, nenhum deles, com a proposta desclassificante do Shaktar.

Reparem que estamos falando de moleques Sub-17 e já são três na mira dos europeus, todos dispostos a pagar uma ninharia, porque sabem como funcionam as coisas por aqui. Aqui eles buscam por 5 milhões de euros o que na Europa só comprariam por 50 milhões.

É só ver o caso do Richarlison, que não foi formado pelo Fluminense, mas que, pelos parâmetros atuais, foi até bem vendido aqui, mas posteriormente o Watford revendeu por cinco vezes o preço que pagou ao Fluminense.

Aí o pessoal fala da Lei Pelé, a Lei da Fifa, tudo bem, mas não é só isso. Nós temos que fazer a nossa parte. Quem vai subir para o profissional? Os melhores? Então, contrato de 3 anos para atravessar a peneira do Sub-17 e Sub-20. Está entre os melhores? Vai ser aproveitado? Então, meu caro, contrato de mais 3 anos e R$ 200 mil de salário. Destacou-se e recebeu proposta decente, podemos negociar. Não recebeu e está bem? Ao final de um ano, prorrogação de contrato. Ninguém joga com contrato inferior a dois anos. Não quer prorrogar? Vai passar dois anos na geladeira, treinando com as galinhas da Cidade de Deus.

Duvido que não acaba essa palhaçada, mas não há vontade política, porque quem manda no Fluminense é a banca. Nós elegemos a raposa para tomar conta do galinheiro.

E aí a gente não vê no noticiário que o Fluminense prepara geração dos sonhos para se transformar no novo Barcelona. A gente não vê que o Fluminense tem um projeto para atrair investimentos vultosos lastreados nos ativos de Xerém, sendo que parte desses investimentos serão destinados justamente a reter esses talentos, obter retorno esportivo e, num momento propício, grande retorno econômico, que remunere os investidores e ainda gere receitas poderosas para o clube.

Esse tipo de notícia nós não veremos nos próximos dois anos no Fluminense.

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Projeto de restauração das Laranjeiras para público de 7 mil pessoas?

Esse pessoal só pode estar de sacanagem com a nossa cara.

Quais jogos o Fluminense pode mandar com essa capacidade? Jogos do Flamengão e das duas primeiras fases da Copa do Brasil. E isso é noticiado sem escândalo e sem sarcasmo.

Ah, mas o Fluminense tem que jogar 30 jogos por ano no Maracanã, por causa do contrato com o Consórcio Maracanã.

Que Consórcio Maracanã é esse, cara pálida? Os Café com Leite derrubaram o consórcio para se apropriar do estádio e o Fluminense embarcou. O que existe, se é que existe, é Consórcio Fla-Flu. Quer dizer que o Fluminense produz regras para prejudicar a si próprio?

Aliás, o Fluminense só produz coisas contra ele mesmo. Metade dos jogos do Campeonato Brasileiro poderia ser disputada nas Laranjeiras para 15 mil pessoas, pois não colocam mais de 20 mil pessoas no Maracanã, o que dá prejuízo.

Só um estúpido de carteirinha ou um escroque concebe aceitar passivamente previsíveis match days deficitários.

Mário, pede para sair!

Saudações Tricolores!