XERÉM E A PERIFERIA DO FUTEBOL BRASILEIRO: ASPECTOS DO CAPITALISMO DEPENDENTE NO TRICOLOR
Na década de 1960, o sociólogo Florestan Fernandes inovou as discussões referentes â América Latina quando buscou inserir a região num aspecto simples, de vinculação às forças produtivas locais no âmbito mundial e de restrição ao seu papel quando abordamos “desenvolvimento”. Ao lado de intelectuais como Ruy Mauro Marini, Theotonio de Santos, Vania Bambirra, dentre outros, a chamada “Teoria da dependência” lapidou um outro conceito analítico, de Leon Trotsky, denominado “Desenvolvimento Desigual e Combinado” estabelecido na década de 1920 nos marcos das discussões da III Internacional Comunista, onde a polêmica se dava em torno de uma revolução mundial ou em um só país.
O mérito de Florestan foi de contrapor as teorias hegemônicas dos economistas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e também dos PC’s que insistiam na possibilidade de “desenvolvimento econômico” por parte dos países da periferia no planeta. Ao inovar com a categoria “dependente”, estabeleceu-se uma releitura que encarava uma função meramente à extração de mais-valia por parte dos países dependentes numa relação com os países de centro e promíscua da burguesia local, responsável por funcionar como canal de transmissão do ideário de reprodução da nova divisão internacional do trabalho, cabendo ao Brasil, por exemplo, a função de mão de obra barata e qualificada.
O caso do Centro de Treinamentos Vale das Laranjeiras em Xerém é o mais didático quando exploramos a teoria da dependência em situações especificadas. Arregimentado no início da década de 1980 para receber o futebol profissional, em 1995 viria se tornar um espaço voltado para a formação de jogadores de futebol da base do clube. Anterior ao espaço, o clube já tinha uma tradição nessa formação tendo à frente intelectuais como o ex-zagueiro multicampeão Pinheiro (isso se evidencia nas conquistas da Copa São Paulo Junior em 1971, 1973, 1977, 1986 e 1989 ou craques como Edinho e Ricardo Gomes).
Xerém, porém, inovou em constituir um espaço formado para constituição esportiva e humana de jogadores jovens e inevitavelmente se tornou o maior celeiro de formação de craques do mundo. Nomes como Roger, Marcelo, Fabinho etc. demarcaram um olhar diferenciado para o Vale que iria transitar de uma “universidade” em sua missão e atuaria como como uma “feira da venda” de mão de obra barata (que também pode ser entendida como produto aqui) na lógica da Teoria da Dependência, ou seja, o clube vende precocemente suas “promessas” para os países de centro do capitalismo (clubes de categoria B da Europa), enquanto a “burguesia local” (dirigentes e empresários) atua numa relação de acumulação própria.
Segundo dados da própria CONMEBOL, o Fluminense é o clube que mais se desfez nos últimos dez anos de jogadores da base em venda (183), enquanto outros de similar tradição na formação de jovens como o Santos cristalizaram em 55 vendas. Essa condição reitera o papel que representa Xerém na última década, um formador de mão de obra barata qualificada para maximizar lucros dos citados dirigentes e empresários.
O clube não obtém retorno por motivações próprias internas (vide situação dos Esportes Olímpicos), enquanto no profissional opta pela lógica de uma mão de obra (ou produto) depreciada por atletas sucatas (jogadores “encostados” dos empresários), enquanto adota o velho discurso da “austeridade local”. Uma situação que se repete há mais de uma década e caracteriza na dinâmica de uma Teoria da Dependência que vem empurrando o clube para condição similar ao Tuna Luso, famoso clube do Pará, com poucas ambições até no campeonato local, mas que é reconhecido pela formação de craques, enquanto a burguesia local dos negócios futebolísticos sorri.
Por fim, para Florestan Fernandes, a forma de romper com a Dependência seria uma revolução, questionar teorias que exploram um suposto desenvolvimento (travestido da velha história de austeridade e venda de “jóias” para pagamento de dívidas) e eliminação superação daqueles que são responsáveis por essa lógica: dirigentes e empresários. Fundamental a inovação de novos quadros e condutores no âmbito das trocas aqueles que trazem consigo a preocupação especificada com a entidade e não com o próprio bolso.
Assisti a uma entrevista do Kenedy, que está vindo para o time de remo,fiquei abismado com a formação dada pelo Flu. O clube não forma nem o cidadão,.
XERÉM É MUITO ALÉM E ADEMAIS UMA ESTAÇÃO DE ACOLHIMENTO DE JOVENS CUJA INFÂNCIA PAUPÉRRIMA NO BRASIL SOB ESCOMBROS OS FAZ CIDADÃOS DIGNOS DE UMA CIVILIZAÇÃO A ESTAR BEM DISTANTE DE QUAISQUER PERIFERIAS…