Podia ser uma partida amistosa. A rigor, muito pouco estava em jogo ontem em São Januário. Repleto de reservas e de garotos, o Fluminense poderia ter vindo apenas para cumprir a exigência da tabela. Afinal, enfrentar o Botafogo será necessário de qualquer forma para ser campeão. Mas o Flu entrou em campo ligado, começando a partida de forma veloz, encurralando o time do Bangu em seu próprio campo.
Velocidade e voracidade máximas. E a Blitzkrieg tricolor deu resultado: antes dos dez minutos, um a zero no placar, gol de Rhayner, depois de grande jogada de Sobis. A pequena torcida esperou ter sido sorteada com uma apresentação de gala, imaginou que veria uma goleada acachapante para cima do alvirrubro da zona oeste. Ledo engano. E, sem fugir à regra do que faz o time titular, os reservas desaceleraram da mesma forma. Não que houvesse ameaça à meta de Berna na primeira etapa. O Flu teve a posse, gastou o tempo e não deu muita bola para dilatar o placar.
Enquanto isso, o jogo entre Boavista e Resende anunciava um bom resultado para nós. Não havia essa emoção toda nas arquibancadas, mas era recompensador ver que a sorte também voltava a nos sorrir. No jogo de lá, três pênaltis e o Resende pareceu sentir a responsabilidade de decidir: perdeu o penal que teve a seu favor. Mesmo assim, ainda teve tempo de virar para cima do Boavista e ceder a virada no segundo tempo. O Resende parece que já entra abalado nas semifinais do Carioquinha.
Veio o nosso segundo tempo e o time continuou respeitando o limite de velocidade de cidade pequena, com a diferença de que o Bangu voltou com mais vontade. Contudo, só querer não basta. A equipe banguense é fraca demais e, mesmo quando esboçou um domínio territorial, não produziu nada que justificasse o famoso sufoco que o Fluminense parece gostar de sofrer quando está em vantagem no marcador. Fora uma jogada casual que terminou em duas belas defesas de Berna – uma delas por pura sorte –, o Bangu não teve condições de representar sua história de forma digna no campeonato estadual.
E a partida prosseguiu em banho-maria até os trinta minutos, quando Abel resolver rejuvenescer ainda mais a equipe. Eduardo, Fernando e depois Biro-biro entraram no time no lugar de Rhayner, Samuel e Felipe. O time revigorou a energia e foi para o ataque. Sob a regência de Sobis, que terminou como único “titular” em campo, os meninos tabelaram e criaram boas oportunidades. A melhor com o próprio Rafael acertando um belo chute na trave. Infelizmente, essa pressão não durou dez minutos e o ritmo voltou a cair.
Daí era levar com tranquilidade até o final, o outro resultado já estava estabelecido e as coisas não mais mudariam. E seria o placar mínimo, caso o meia do Bangu não quisesse ser mais malandro que a malandragem e, ao tentar cobrar falta rápida em cima de Diguinho para justificar sua reclamação, errou e armou o contra-ataque do Flu. Biro-biro, com velocidade, serviu Sobis que coroou sua boa atuação com um belo petardo de esquerda, sem chance para o goleiro adversário ou para o relógio da arbitragem: estava encerrado o jogo.
Valeu muito pela movimentação e pela filosofia do Abel em dar chance a quem vem bem. Samuel, por exemplo esteve confiante por ter começado jogando. Abelão sabe mexer com a vontade dos jogadores e não faltou entrega: se cadenciamos o jogo foi porque o time atuou da mesma forma que o titular, mostrando que a mão do Abel faz canastras com cartas diversas.
Preocupa-me apenas esse senso de justiça aplicado por nosso treinador. Rhayner hoje merece sua vaga como titular, mesmo com a volta de Thiago Neves. Deco e Wagner disputam palmo a palmo a titularidade e Wellington pode começar a se preocupar com Sobis, que vem crescendo de produção a cada jogo. Garantido mesmo, só Fred, pois o time sente demais sua falta como referência lá no ataque. Torçamos pela coerência de nosso comandante.
Na partida, Digão apresentou-se com muita segurança e parecia veterano entre os garotos. Felipe fez partida apagada, apesar de acertar alguns belos passes. Dá para ver que Wallace quer evitar as divididas (eu faria o mesmo no lugar dele, você não?) e por isso acho que o Julião poderia ser testado. Monzón mostrou mais uma vez que pode ser útil, mas que o titular é mesmo Carlinhos. Diguinho é o genérico do Jean: marca, mas não tão bem; arma o jogo, mas não com a mesma visão; apresenta-se ao ataque, mas não com a mesma qualidade. O banco lhe cai bem.
De certeza, temos que Rafael Sobis está deixando a burocracia de lado e o Flu voltou a jogar da forma como se caracterizou. Vê-se claramente um time mais maduro e mais seguro dos seus objetivos na partida. Combinação favorável, liderança, vantagem do empate, tudo muito bom. E, de quebra, como nosso adversário já buscava seus interesses no tapetão, nossa vitória fez algo inédito: eliminamos duas vezes o Flamengo em um mesmo turno. Que venha o Voltaço.