Unimed: recordar é viver… (da Redação)

unimed verde

1

Em primeiro lugar, que fique bem claro: a Unimed, patrocinadora do Fluminense há 15 anos, foi importantíssima para o reerguimento tricolor no fim dos anos 90 – a começar pela contratação de Carlos Alberto Parreira, campeão mundial de 1994, para enfrentar a série C. Contudo, a relação entre as partes nunca foi de parasitismo do clube, mas sim de um mutualismo claro: a empresa de saúde, que mal era falada na cidade do Rio em 1999, passou a ser referência nacional e no exterior. Nunca houve filantropia: é negócio, e se o investidor se mantém há 15 anos aplicando dinheiro, é natural que tenha lucrado o suficiente. Que ninguém se decepcione, mas não se trata de uma história exclusivamente de amor. Trata-se de um negócio comercial que trouxe força para os dois lados, ainda que com proporcionalidades discutíveis, mas também problemas para ambos.

Impossível deixar de lado as responsabilidades nesta processo em conta do sr. Celso Barros e também dos srs. David Fischel, Roberto Horcades e Peter Siemsen, seus vice-presidentes, diretores, assessores e corpos. O que diferencia basicamente o atual presidente dos demais é simplesmente a sinceridade de ter opiniões divergentes em público – o que explica muita coisa; afinal, como é sabido publicamente, o sr. Celso Barros, na condição de investidor, não gosta de ser contrariado em nenhum momento – o que já trouxe prejuízos claros para o Fluminense, como por exemplo a mal-conduzida contratação de Vanderlei Luxemburgo, gerando inclusive desrespeito profissional desnecessário para com este profissional e, claro, o caos para o time.

Num momento em que os sentimentos amargos são trocados intensamente pelas redes sociais, quase dividindo (outra vez) a torcida do Fluminense, fizemos no PANORAMA um rápido levantamento pontual dos times tricolores que entraram em campo na primeira e na última partida de cada ano desde 2001 até 2013, além de citar alguns nomes de jogadores que foram contratados pelo caminho – a maioria deles, com apoio da patrocinadora. E também os treinadores do período.

Algumas conclusões são evidentes em rasa leitura.

A primeira delas: se tomarmos como base o investimento aproximado de 400 milhões feito pela patrocinadora em 15 temporadas anuais, temos uma média de 26,7 milhões/ano. Naturalmente, a média aqui é apenas um conceito de posição e orientação, já que alguns dos últimos anos tiveram maior pujança financeira. Estique-se o investimento para 500 milhões, eis a nova média aproximada: 33,33 milhões.

É possível perceber que, em várias das temporadas do período, os investimentos feitos em média nem sempre se mostraram efetivos em termos da qualidade técnica dos times formados.

Em recente entrevista de rádio ao programa “Momento Esportivo”, o presidente da patrocinadora, Celso Barros, sugeriu ter mais conhecimento do Fluminense do que o presidente do clube, Peter Siemsen, uma vez que está no clube há 15 anos e “tirou-o da série C para a série A” , além de tecer loas ao ex-presidente Roberto Horcades – de forma muito justa, uma vez que são amigos de décadas, trabalharam juntos etc – bem como antigos nomes da dirigência do clube. Não deixa de ser curioso: há cinco meses, a Unimed declarou apoio total à candidatura vitoriosa nas eleições tricolores de 2013. Você apoiaria alguém que considera pouco preparado para dirigir por três anos o time de seu coração? Ou apoiaria quem não confia para um cargo tão importante e que vai utilizar o seu dinheiro? Uma contradição enorme, para não dizer mais além.

Outra consideração interessante: o presidente da patrocinadora mostrou extrema preocupação com as recentes demissões dos treinadores tricolores em 2013/2014. No entanto, também podemos verificar que o rodízio de profissionais à beira do campo é uma constante no Flu desde o início da parceria entre o clube e a empresa, com a devida chancela de quem patrocina. Foram mais de 40 trocas de comando à beira do campo apenas entre 2001 e 2013, na maioria definitivas e outras efêmeras/interinas, em 13 temporadas – média de 3,1 por ano. Um treinador a cada quatro meses. Pelo visto, a Unimed só se incomodou com o problema no 15º ano de sua parceria.

Os leitores têm a oportunidade de verificar democraticamente no espaço amostral aqui demonstrado um razoável retrato do Fluminense no século XXI. Ele tem grandes momentos, mas é bem longe de ser uma unanimidade positiva. E realmente merece uma reflexão profunda a respeito.

Em 15 temporadas, contando de 1999, o Fluminense montou alguns grandes times, conquistou alguns títulos importantes e retomou seu lugar no cenário nacional. Mas deixou muito a desejar no âmbito local (com sucessivas eliminações), não foi vitorioso internacionalmente e em cinco temporadas (2003, 2006, 2008, 2009 e 2013) lutou desesperadamente contra o rebaixamento.

A Unimed tem 15 anos de parceria com o Fluminense.

O clube está perto dos seus 112 anos. Não começou ontem e já tinha um exército de troféus em sua sala, ao lado de uma história de glórias e milhões de torcedores.

O Fluminense não é o único clube do Brasil onde a Unimed pode investir seus milhões. A Unimed não é a única empresa do Brasil capaz de patrocinar o Fluminense. Trata-se de um negócio e o clube não pode ser refém dos arroubos de personalidade de ninguém.

Reitere-se: a Unimed tem sido muito importante para o Tricolor, mas encontra-se muito longe da perfeição vista pelos mais ingênuos.

O melhor plano de saúde é viver. O segundo melhor, em caso financeiro, é crescer com a imagem do Fluminense.

 

ANO

TIME INICIAL – JANEIRO

TIME FINAL – DEZEMBRO

TÍTULOS

2001 Murilo; Paulo César, César, Régis e Tiago Silva; Marcão, Fabinho, Fernando Diniz e Yan (Jorginho); Asprilla (Roni) e Agnaldo (Alessandro) Murilo, Flávio, André Luís, Régis e Paulo César; Marcão, Sidney (Roni), Fernando Diniz (Gilmar) e Roger; Caio (Andjel) e Magno Alves Não
2002 Murilo, Flávio, César, Régis e Paulo César; Marcão, Sidney (Roberto Brum), Fernando Diniz e Roger; Caio (Marco Brito) e Magno Alves (Alex) Kléber (Murilo); César, Augusto e Zé Carlos; Flávio, Marcão, Beto, Zada (Marco Brito) e Marquinhos; Roni e Romário (Magno Alves) Sim
2003 Kléber; Flávio (Andrezinho), César (Augusto), Zé Carlos e Júnior César; Marcão, Djair, Zada e Renatinho; Fábio Bala e Marco Brito (Malzoni) Kléber; Júnior César, Rodolfo, César e Jadílson; Marcão, Sidney (Marciel), Alex Oliveira (Esquerdinha) e Thiago; Romário e Marcelo (Josafá) Não
2004 Kléber; Leonardo Moura, Tinoco, Antônio Carlos e Juan (Júnior César); Marcão, Juca, Thiago (Alan) e Esquerdinha (Diego Souza); Romário e Alessandro (Alex) Fernando Henrique; Leonardo Moura, Zé Carlos (Odvan), Antônio Carlos e Mineiro (Juan); Marcão, Marciel, Juca (Alan) e Ramón; Edmundo e Rodrigo Tiuí Não
2005 Fernando Henrique; Jancarlos (Arouca), Zé Carlos, Antônio Carlos e Leandro Eugênio; Marcão, Maicon (Marquinho), Preto Casagrande e Felipe; Alex e Mauro (Rodrigo Tiuí) Kléber; Gabriel Santos, Marcão e Igor; Gabriel, Arouca, Romeu (Juliano), Petkovic e Juan; Beto e Tuta (Adriano Magrão) Sim
2006 Diego; Rissut, Gabriel Santos, Thiago Gosling e Jean (Ulisses); Ângelo, Romeu, Bruno (Alan) e Evando (Fernando Gomes); Lenny e Adriano Magrão Ricardo Berna, Rissutt (Radamés), Thiago Silva, Marcão e Roger; Romeu, Arouca, Bruno (Anderson) e André Moritz (Alex); Beto e Cláudio Pitbull Não
2007 Ricardo Berna; Carlinhos, Renato Silva, Luiz Alberto, Junior Cesar, Romeu, Arouca, Carlos Alberto, Cícero, Rafael Moura, Alex Dias Fernando Henrique; Gabriel; Thiago Silva; Luiz Alberto; Junior Cesar; Arouca; Thiago Neves; Maurício; Cícero; Adriano Magrão Sim
2008 Fernando Henrique, Gabriel, Thiago Silva, Luiz Alberto e Gustavo Nery; Fabinho, Arouca e Thiago Neves ; Leandro Amaral,Washington e Dodô. Fernando Henrique, Wellington Monteiro, Thiago Silva, Luiz Alberto e Junior Cesar; Ygor; Romeu, Arouca e Conca; Maicon e Washington. Não
2009 Fernando Henrique, Wellington Monteiro, Luiz Alberto, Edcarlos e Leandro; Jaílton, Leandro Domingues e Conca; Leandro Amaral e Roger Rafael, Gum, Dalton e Cássio; Mariano, Diogo, Maurício, Conca e Marquinho; Alan e Fred. Não
2010 Rafael, Dalton, Gum e Cássio,; Mariano, Diguinho, Everton, Conca e Julio Cesar; Maicon e Fred Ricardo Berna, Mariano, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Valencia, Diguinho, Julio Cesar e Conca; Emerson e Fred Sim
2011 Ricardo Berna; Mariano, Leandro Euzébio, Gum e Julio Cesar; Valencia, Diguinho, Deco, Souza e Tartá; Fred. Diego Cavalieri, Mariano, Leandro Euzébio, Elivélton e Carlinhos; Valencia, Diguinho, Marquinho e Deco; Rafael Sobis e Fred. Não
2012 Ricardo Berna; Souza, Digão, Márcio Rosário e Thiago Carleto; Valencia, Jean e Wellington Nem; Araújo, Martinuccio e Rafael Moura. Ricardo Berna; Bruno, Digão, Elivelton e Thiago Carleto; Valencia, Diguinho, Fábio Braga e Higor; Marcos Junio e Samuel. Sim
2013 Ricardo Berna; Wellington Silva, Elivélton, Anderson e Fernando Valencia, Diguinho e Fábio Braga; Rhayner, Rafael Sobis e Samuel. Diego Cavalieri, Igor Julião, Gum, Leandro Euzébio e Wellington Silva; Edinho, Jean e Wagner; Biro Biro , Rafael Sobis e Kenedy Não

OUTROS REFORÇOS (da patrocinadora ou não)

2001 Viveros, Alessandro, Válbson, Jocian, Jorginho (1994)
2002 França, Paulo Isidoro, Fábio Mello, Caio Ribeiro, Bismark
2003 Zada, Ademílson Djair, Sorato, Lopes, Joãozinho
2004 Roger, Odvan, Victor Boleta, Marciel, Rodrigo Tiuí, Mineiro
2005 Fabiano Eller, Igor, Lino, Milton do Ó, Schneider, Petkovic
2006 Thiago Gosling, Djordevic, Roger (def)
2007 Adriano Magrão, Soares, Cícero
2008 Ygor, Wellington Monteiro, David, Everton Santos, Ciel, Uendel
2009 Marquinho, Mariano, E. Ratinho, Ruy, Kieza, Roni, Diogo, Equi González, Diguinho
2010 Deco, Beletti, Thiaguinho, Everton, Willians, André Lima, Rodriguinho
2011 Souza, Edinho, Araújo, Rafael Moura, Ciro
2012 Anderson, Lanzini, Wagner, Thiago Neves,
2013 Felipe, Monzón, Marcelinho,

TREINADORES

2001 Valdir Espinosa, Duílio, Rivelino Serpa, Oswaldo de Oliveira,
2002 Oswaldo de Oliveira, Waldemar Lemos, Robertinho, Renato Gaúcho
2003 Renato Gaúcho, Alexandre Guimarães, Gilson Gênio, Joel Santana, Renato Gaúcho
2004 Valdir Espinosa, Alexandre Gama, Ricardo Gomes
2005 Abel Braga
2006 Ivo Wortmann, Josué Teixeira, Paulo Campos, Oswaldo de Oliveira, Antônio Lopes, PC Gusmão
2007 PC Gusmão, Vinicius Eutrópio, Joel Santana, Alexandre Mendes, Renato Gaúcho
2008 Renato Gaúcho, Alexandre Mendes, Cuca, Vinicius Eutrópio, Renê Simões
2009 Renê Simões, Gílson Gênio, Parreira, Vinícius Eutrópio, Renato Gaúcho, Cuca
2010 Cuca, Mário Marques, Muricy
2011 Muricy, Ronaldo Torres, Enderson Moreira, Leomir, Abel Braga
2012 Abel Braga
2013 Abel Braga, Wanderlei Luxemburgo, Júnior Lopes, Dorival Júnior
Por conta do ano de 2001 ser o marco do início desta análise, ficaram de fora desta lista nomes relevantes de reforços com apoio da patrocinadora, tais como Túlio Maravilha, Donizete Amorim, Jean Carlo, Vanin, Arinélson, Alexandre Lopes, Agnaldo Liz e outrem.

2

Para os mais jovens e/ou desavisados, convém lembrar que em 1984, num dos momentos de maior glória do Fluminense em campo e no início dos patrocínios de camisa no futebol brasileiro, o time das Laranjeiras divulgou marcas como as do Banco Nacional – um dos maiores daquele tempo – e da Sul América – centenária referência securitária e posteriormente de saúde no país.FLUMINENSE-1984

fluminense-1984-ricardo-beliel

Nunca é demais lembrar que a história é sempre mais longa do que as memórias seletivas imaginam.

camisa flu coca cola

camisa flu hyundai

camisa flu tavares

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

4 Comments

  1. As serpentes estão a espreita do caminho.
    Homens inteligentes, ocupando espaços de comando, mas sem se protegerem com “soro antiofídico”, das serpentes midiáticas que rondam as laranjeiras 24 horas, ininterruptas.
    A mídia não irá sossegar enquanto não separar a unimed do flu. Isto é fato.
    E estão desqualificando o clube em gotas homeopáticas para dificultar o futuro com outro patrocinador. Infelizmente, pessoas que deveriam ser inteligentes estão embarcando nessa onda. Lamentável!

    1. Homens inteligentes debatem, discutem e enxergam mais caminhos do que os que se reduzem ao papel de lacaios do dinheiro.

      Homens ignorantes sempre supõem a si mesmos como mais inteligentes do que os outros.

  2. Morrer,não vamos,mas não vai ser fácil pelo menos no começo…
    Resta saber quais são os tricolores que estão dispostos a pagar o preço da autonomia e da independência(como estamos pagando o preço da grana que a unimed injeta no Flu)e quais vão fugir da raia acham que sem o atual parceiro,nosso destino é novamente aturar “jênios” da bola como Paulinho Mclaren,Darci,Nildo e afins…

Comments are closed.